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Michel Zaidan

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A eleição do fake news

Nestas eleições presidenciais do Brasil, as redes sociais ajudaram - e muito – a produzir um grosso e indigesto caldo de cultura que alimenta a bactéria da intolerância, do ódio, do ressentimento, do envenenamento dos espíritos, independentemente de sexo, raça, religião, parentesco ou classe social

A eleição do fake news (Foto: Marcos Santos / USP Imagens)
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Na década de quarenta, do século passado, um grande escritor britânico – George Orwell, produziu uma das maiores distopias já conhecidas, no mundo intelectual e literário, intitulada "1984", obra semelhante em vários aspectos ao livro do também britânico Aldous Huxley, "O admirável mundo novo". Convidado pela FAFIRE para debater o papel das Fake News nestas eleições presidenciais no Brasil, lembrei-me de uma passagem do livro de Orwell que fala de um departamento da memória, onde se produz a "história". Lá existe uma febril e incansável manipulação de notícias e fotos dos jornais passados, para produzir um relato de acordo com os interesses e conveniências políticas do chamado "Grande Irmão".

O que o escritor inglês previu tornou-se realidade muito antes do que se pensava. O formidável desenvolvimento das novas tecnologias de informação propiciou uma espécie de semiurgia ou vídeoesfera, através das redes da internet, onde nada ou quase nada é verdadeiro. Aqui, o significado de "realidade virtual" tornou-se fraude, ilusão, erro. Três consequências resultam desse universo on-line de mentiras, calúnias e deformações: primeiro é o anonimato. Ninguém sabe quem é o verdadeiro interlocutor (nem suas intenções). Pessoas que se dizem parentes, amigos de infância e adolescências, colegas de colégio ou da mesma cidade, ou simplesmente pessoas do mundo profissional ou público, não se sabe ao certo quem são essas pessoas. A não ser pelo que dizem ou mostram nas redes sociais.

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Segunda consequência: a impossibilidade do contraditório, do processo argumentativo sadio, honesto entre interlocutores de boa vontade. O que se diz ou se mostra vale por si mesmo, como se fosse o discurso da televisão, do" outdoor", da propaganda. Não há possibilidade de diálogo ou de um fraterno e inteligente debate com o fim do convencimento de outrem. Falou, está falado. Não tem contradita ou confrontação. Às vezes, xingamento ou a simples desqualificação moral ou profissional dos internautas.

Terceiro, a rápida destruição da reputação alheia, a partir do que se diz ou se mostra. Pessoas que têm suas vidas arruinadas pelas falsas informações ou imagens que são plantadas no Facebook, no Twitter, no Instagram etc. Quem não se lembra do linchamento moral dos professores da "Escola Base" de São Paulo, acusados injustamente de pedofilia?

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Quem se entusiasmou com a ideia promissora de que essas tecnologias de informação produziria uma nova esfera pública mundial, numa espécie de cidadania-em-rede ou sem fronteiras, equivocou-se redondamente. Assim como há uma internet do bem – que ajuda refugiados e perseguidos políticos ou religiosos - há uma internet do mal, da mentira, da fofoca, da intriga e da desagregação social. Nestas eleições presidenciais do Brasil, as redes sociais ajudaram - e muito – a produzir um grosso e indigesto caldo de cultura que alimenta a bactéria da intolerância, do ódio, do ressentimento, do envenenamento dos espíritos, independentemente de sexo, raça, religião, parentesco ou classe social.

Uma modalidade de fascismo verde-amarelo que, em nome, de uma cruzada contra a corrupção, parece aceitar as maiores aberrações humanas e sociais que uma comunidade democrática já viu: tortura, estupro, preconceito contra as mulheres, os homossexuais, os índios, os trabalhadores, direitos humanos e o próprio regime democrático. É o caso de se perguntar qual o limite da tolerância em razão desse tipo de pensamento que questiona as regras do jogo democrático, afirmando que não se aceita o resultado do jogo se ele não for favorável a si ou questionando a lisura do processo eleitoral, antes das eleições se realizarem.

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Como dizia um arguto crítico dos meios de comunicação de massa, a influência dessas modernas técnicas de comunicação sobre o comportamento dos políticos só podia produzir demagogos e atores de teatro, diante de um público idiotizado, sempre pronto a engolir pelos olhos e os ouvidos tudo que vê ou ouve. Estava certo ele. A reprodutibilidade técnica da cultura e a técnica da montagem ou da edição criou um mundo semelhante à "caverna de Platão", sem o lado de fora. Um mundo de falsidade, de signos vazios e desprovidos de qualquer significação. Seria o triunfo em toda linha de um tipo de discurso estratégico, cínico, sofístico da pior espécie, destinado a manipular, confundir a vontade política do eleitor, tratado como consumidor de margarina ou produto de tocador.

Triste democracia, essa.

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