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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A escrita de Lula como testemunho da história

O linguista e colunista do 247 Gustavo Conde afirma que Lula revelou mais um de seus talentos: a escrita; para Conde, Lula tem conseguido transferir para o papel todo o amor que ele tem pelo seu país e pelo seu povo, deixando um registro histórico, concreto e autoral deste momento dramático da história brasileira; Conde afirma: "Lula escreve tão bem que até traduzir o seu texto de uma língua para outra é fácil. É a linguagem universal. De fato, Impressiona. Ele lida com os sentidos das palavras de um jeito único, humano, límpido, singelo, sem tergiversar, sem querer impressionar, sem os trambiques academicistas que fazem os textos da elite parecerem monumentos ao pedantismo"

A escrita de Lula como testemunho da história (Foto: UESLEI MARCELINO/REUTERS)
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Desde que começou a cumprir essa pena absurda em Curitiba, escandalosamente ilegal, persecutória e política, Lula reorganizou seus ímpetos e sua inteligência. Ele jamais sucumbiria diante de algozes tão covardes e violentos. Não é do seu feitio, não é de seu caráter. 

Limitada sua ação como interlocutor voraz da cena pública, Lula deslocou suas qualidades de negociador para uma instância diferente e igualmente poderosa: a escrita. 

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Preso, Lula passou a escrever diariamente, em folhas de caderno, com mensagens e bilhetes para lideranças políticas e sindicais do Brasil inteiro. Assim, ele costurou uma aliança extremamente complexa no campo das esquerdas, evidentemente com o auxílio qualificado de Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann. 

Mas essa nova competência posta em prática, a arte da escrita, é mais um daqueles momentos que assombram quem acompanha a trajetória de Lula. Lula levou para o texto escrito todo o seu poder de persuasão e toda a sua dicção política e humana. 

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O artigo que ele escreveu para o jornal The New York Times marca esse momento do nascimento de um novo estilo de texto. Ele, Lula, está lá, em cada linha, em cada parágrafo, em cada pontuação. 

Antes que alguém pense que políticos não escrevem seus próprios artigos - o que é real - aviso de bate-pronto: no caso de Lula, agora, é diferente. Porque Lula está preso. Porque Lula está tomado pelo imenso poder que é ser um homem sozinho diante de si mesmo e diante de um sistema que quer eliminá-lo e proscrevê-lo. Nessas situações, quem tem caráter, toma todo o espectro das ações de resistência, até das ações mais singelas como a delicada redação de uma mensagem. 

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No artigo do New York Times, Lula está lá, em todos os lugares, com seu estilo, com sua verve, com o contrato particular que ele trava com os sentidos das palavras. Escrever, afinal, não é apenas dominar protocolos gramaticais. Escrever é muito mais do que isso. 

A escrita de Lula é diferente. Os períodos são curtos, a sintaxe é minimalista, as escolhas lexicais são densas e simples e o ethos (o tom) consegue reproduzir fielmente sua marca emocional, visceral, de ser alguém que fala com o coração e ao mesmo tempo com extrema inteligência no controle do discurso. 

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Há muitas marcas de oralidade no texto de Lula que, ao invés de fragilizar uma escrita protocolar e obrigatoriamente técnica, fortalece-a, deixando-a mesmo mais poderosa do que a assinatura que a recobre. 

Para os incrédulos acerca do talento literário de Lula - os céticos de plantão, habitantes da caixinha do senso comum -, adianto: o estafe de Lula certamente 'costurou' algumas passagens do texto, dadas as exigências protocolares de um artigo a ser publicado no jornal mais importante do mundo. 

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Mas isso é praxe até para os mais insuspeitos intelectuais dotados de prestígio acadêmico. Como revisor profissional, posso garantir, inclusive, que há muitos missivistas em operação na cena do comentário nacional cuja qualidade do texto bruto faria qualquer professor de ensino médio tremer.

Lula está neste texto do The New York Times como talvez em nenhum outro anterior. À medida em que o cerco a ele e às eleições se fecha, todo o processo simbólico de resistência se adensa. O Lula escritor é mais um lance espetacular da história que, por mais que se tente, não cessa sua ação de consagração aos protagonistas políticos verdadeiramente investidos de legitimidade popular. 

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Lula escreve tão bem que até traduzir o seu texto de uma língua para outra é fácil. É a linguagem universal. De fato, Impressiona. Ele lida com os sentidos das palavras de um jeito único, humano, límpido, singelo, sem tergiversar, sem querer impressionar, sem os trambiques academicistas que fazem os textos da elite parecerem monumentos ao pedantismo. Há verdade em cada passagem, em cada trecho, em cada palavra.

A questão é muito técnica e afirmo isso como linguista: ele gerencia os sentidos de maneira singular. É como uma pessoa simples dotada de profunda sabedoria que se expressa com todo seu corpo, sua alma e sua história.

Fica fácil entender porque tanto amor – a percepção de afeto majoritária neste cenário – e porque tanto ódio – a minoria que não consegue lidar com as transferências do amor. Alguém que massageia neste nível de intensidade o aparato de codificação dos sentidos (a interpretação social) é insuportável para o segmento que detesta o sentido e a progressão do sentido.

Os acumuladores compulsivos de ódio são apenas o desdobramento natural dos acumuladores compulsivos de patrimônio: tudo é uma doença social degenerativa.

Diante do amor, diante da clareza, diante da verdade, esses nichos minoritários e barulhentos sucumbem às histerias mais grotescas. É o gatilho do nosso fascismo extemporâneo impregnado nas classes médias. O que eles não entendem, eles odeiam.

Por isso a conexão de Lula com o povo é tão forte. O vínculo é de sentido, não é ideológico. O vínculo de Lula com o povo extrapola as intepretações grosseiras da nossa cena do comentário sociológico que rotula qualquer coisa que não se pareça com o óbvio, com o já dito.

Este sujeito que tanto admiro – que o mundo admira – há tanto tempo não é apenas o maior líder político da história. Ele é um ser dotado da mais bonita humanidade de que se tem notícia. Por isso, o amor que ele vai deixando como rastro e como legado, toma dimensões cada vez mais épicas de perpetuação.

Vinícius de Moraes dizia que o amor deveria ser eterno enquanto durasse. O amor de Lula – o amor político, o amor social, o amor por Marisa, o amor pela família, o amor por seu povo, o amor pelos catadores de papel, o amor pelos portadores de hanseníase, o amor pela língua, o amor pelo sentido, o amor pela história – não tem essa cifra passional e romântica, embora ele as tenha também na grandeza do gesto.

O amor de Lula transcende, é eterno e infinito, é simbólico e solidário, é espiritual e político, doce e revolucionário, inovador e desinteressado, pleno e delicado, emocional e profundamente soberano.

Nós somos contemporâneos deste ser humano. Só isso já é a maior das honrarias que nos poderia ser concedida pela história.

Mais uma vez, é importante que se diga: testemunhar a garra deste ser humano do lado certo da história é a sensação máxima de liberdade. 

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