CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Walmir Damaceno avatar

Walmir Damaceno

Coordenador geral do Ilabantu (Instituto Latino Americano de Tradições Bantu), dirigente tradicional do terreiro de Candomblé Inzo Tumbansi, representante na América Latina do Centro Internacional das Civilizações Bantu (Ciciba)

7 artigos

blog

A esquerda colombiana e libertação da afro latino américa

Francia Márquez, candidata a vice de Gustavo Petro, conseguiu abalar a política colombiana, dominada pelos conservadores

Walmir Damasceno e Francia Márquez (Foto: Tata Jeferson de Nkosi)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Walmir Damasceno 

Pela primeira vez na história da Colômbia, a esquerda, liderada pelo ex-prefeito de Bogotá Gustavo Petro, chega ao segundo turno na eleição presidencial que ocorreu domingo, 29 de maio neste País da América do Sul. “Hoje ganhamos, é um dia de triunfo. Mais de 40% dos votos, o dobro de quatro anos atrás e um crescimento inquestionável em relação à votação de 13 de março, data das eleições parlamentares”, celebrou Gustavo Petro, candidato da coalizão Pacto Histórico à presidência da Colômbia, em sua fala ao final da apuração em um Hotel no centro de Bogotá, acompanhado pela candidata à vice-presidência, Francia Márquez, das suas famílias, dirigentes e militantes dos movimentos sociais. Petro, candidato de esquerda ressaltou que a frente oposicionista de mudança colombiana somou mais de 8,5 milhões de votos (40,3%) – contra 5,9 milhões de Rodolfo Hernández (28,1%), derrotando projeto dominador empreendido ao longo de anos pelo ex-presidente Álvaro Uribe.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Somando-se o prestígio de Petro, o ativismo afro-colombiano foi decisivo para chegada histórica da esquerda ao segundo turno da eleição presidencial, graças a forte influência de Francia Márquez, uma ativista da luta antirracista, em defesa do meio ambiente e direitos humanos e a vitória da coalizão Pacto Histórico no segundo turno que acontecerá dia 19 de junho tornará Francia vice-presidente. Essa vitória marcará um ponto de virada para um país que tem sido assolado por desigualdades sociais e historicamente governado pelos conservadores e grupos extremistas.

Ao longo da campanha, Francia Márquez conseguiu abalar a política colombiana, dominada pelos conservadores, trazendo a ampla discussão a pauta do racismo e desigualdades sociais, questões que antes estavam ausentes nos debates políticos. Tornou-se, assim, um símbolo de mudança para uma nova geração de eleitores. Francia se apresenta em público vestindo roupas tradicionais afro-colombianas coloridas, reafirmando sua identidade étnica africana, uma clara quebra do racismo brutal contra negras e negros que permeia estas terras colombianas. Como candidata a vice-presidente na eleição presidencial, ela entoa mensagens de encorajamento as populações negras, principalmente mulheres: "É hora de passar da resistência ao poder!"

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A mudança do debate transformou uma mudança política. Os colombianos voltam às urnas em 19 de junho para votar no segundo turno da eleição presidencial e o esquerdista Petro, um ex-guerrilheiro e prefeito de Bogotá que escolheu Francia Márquez como companheira de chapa, é o favorito para vencer. Espera-se que ele conquiste 50 % + 1 dos votos, assim se tornará presidente e Francia vice-presidenta, na disputa contra o candidato ultradireitista e populista Rodolfo Hernandez. 

Francia Márquez, ativista da luta antirracista e pelos direitos afro-colombianos

Nascida em 1981 em uma pequena vila no sudoeste da Colômbia, Francia Márquez cresceu sozinha com sua mãe. Grávida aos 16 anos com seu primeiro filho, ela foi forçada a trabalhar em uma mina de ouro a poucos quilômetros de casa para sustentar sua família e depois contratada como empregada doméstica.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

No entanto, a coragem para enfrentar os poderosos e as elites na Colômbia é para poucas pessoas, e Francia é uma delas. Em 1996, quando tinha apenas 15 anos, soube que uma multinacional queria lançar um projeto para estender uma barragem no principal rio da região, o Ovejas, o que teria um grande impacto em sua comunidade.

Vivendo às margens do rio desde o século XVII, a comunidade afro-colombiana vem praticando a agricultura e a mineração artesanal, suas principais fontes de renda, há gerações.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Marcha do Turbante: Uma caminhada de 500 quilômetros pelo meio ambiente

O aprendizado sobre o projeto marcou o início da longa luta de Francia Márquez para defender os direitos das comunidades afro-colombianas e preservar suas terras. Nos últimos 20 anos, ela tem lutado incansavelmente contra as empresas multinacionais que exploram a área ao redor do rio Ovejas e às vezes forçam as pessoas a deixá-la.

Francia Márquez não era amplamente conhecido até 2014. Naquela época, ela tinha como alvo os garimpeiros ilegais que haviam se estabelecido ao longo do rio, cavando ouro e, sobretudo, usando abundantemente mercúrio – elemento que separa o ouro da água, mas também contamina a água e que além de causar morte, destrói a biodiversidade. Em protesto, Francia Márquez organizou a "marcha do turbante", que viu 80 mulheres se reunirem para marchar de Cauca a Bogotá, uma viagem de 10 dias e 500 quilômetros. O grupo se manifestou em frente ao Ministério do Interior por quase 20 dias. No final, a ativista e agora candidata a vice presidenta venceu, obrigando o governo a destruir todas as fazendas ilegais ao redor rio Ovejas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Desde então, Francia Márquez, hoje advogada, realizou inúmeros fóruns, ministrou palestras em universidades e fez discursos diante de figuras políticas e ONGs, que lhe valeu reconhecimento internacional como Prêmio Goldman, equivalente ao Prêmio Nobel do Meio Ambiente, em 2018 por seus esforços. No ano seguinte, foi parar na lista da BBC das 100 mulheres mais influentes do mundo.

"Eu sou alguém que levanta minha voz para parar a destruição de rios, florestas e pântanos. Sou alguém que sonha que um dia os seres humanos vão mudar o modelo econômico da morte, para abrir caminho para a construção de um modelo que garanta a vida", reafirma.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

"Nossos governos viraram as costas para o povo"

Francia Márquez finalmente decidiu entrar na política em 2020 e não fez nenhum esforço para esconder sua ambição: "Quero ser candidata a este país. Quero que a população seja livre e digna. Quero que nossos territórios sejam lugares da vida", escreveu no twiter. No mesmo ano, ela lançou seu movimento "Soy Porque Somos" ("Eu Sou Porque Somos"). Em março de 2022, concorreu nas primárias presidenciais da coalizão de esquerda "Pacto Histórico". Márquez surpreendeu a todos ao chegar em terceiro, levando Petro a escolhê-la como sua companheira de chapa.

Ela fez da luta para preservar terras afro-colombianas uma parte central de sua campanha política, constantemente voltando às suas raízes. "Sou uma mulher afro-colombiana, mãe solteira de dois filhos que deu à luz seu primeiro filho aos 16 anos e trabalhava como doméstica para pagar as contas. Mas também sou uma premiada ativista ambiental. E, acima de tudo, uma advogada que pode se tornar a primeira vice-presidenta negra da Colômbia", diz ela em suas inúmeras falas.

"Nossos governos viraram as costas para o povo, sobre a justiça e para a paz", diz ela. "Se eles tivessem feito seu trabalho corretamente, eu não estaria aqui."

Francia Márquez acima de tudo é uma mulher, negra, afro-colombiana, e traz consigo questões que até agora foram totalmente esquecidas e ignoradas, como a relação com o colonialismo, o sexismo, o racismo". É a luta contra toda forma de discriminação e violência enfrentada por mulheres negras. Essa discriminação se reflete na vida política da Colômbia: há apenas uma mulher negra no governo e apenas duas são parlamentares.

Isso em um país que tem a segunda maior população de descendência africana na América Latina. Dados não confiáveis do censo indicam que os afro-colombianos representam mais de 6,2% da população. Comunidades afro-colombianas e indígenas continuam enfrentando níveis desproporcionais de pobreza, violência e desapropriação de terras, morte. De acordo com indicativos do governo, cerca de 31% da população afro-colombiana vive na pobreza, em comparação com 20% da população nacional.

Decisão sabia e consciente do povo colombiano torna-se necessária a vitória de Gustavo Petro e Francia Márquez por significar mudança tão esperada de grande parte da população e se traduz na libertação do povo colombiano frente ao neocolonialismo e que refletirá em todo afro latino américa.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO