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Luis Costa Pinto

Luis Costa Pinto é jornalista, escritor e consultor na Ideias, Fatos e Texto. É também membro do Jornalistas pela Democracia. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

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A esquerda está parada na encruzilhada

"A esquerda parou na encruzilhada e corre sério risco de morrer atropelada", escreve Luis Costa Pinto, do Jornalistas pela Democracia. "É sério que o melhor a fazer será seguir atrelada a um personalismo atroz que deu certo no passado porque estava reunindo os rios que corriam para o mar?", diz ele, em referência ao ex-presidente Lula

(Foto: Mídia Ninja | 247)
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Por Luís Costa Pinto, do Jornalistas pela Democracia

É claro que Lula devia estar livre, como está, porque afinal todo o processo que o condenou foi eivado de vícios em razão de o inquérito ter sido conduzido por procuradores da República com agenda pessoal e política que recebiam ordens de um juiz desonrado.

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É claro que foi um golpe jurídico/parlamentar/classista o impeachment sem crime de responsabilidade imposto a Dilma Rousseff. Ela foi uma presidente sem competência política para ocupar o cargo que ocupou, mas sempre teve honra pessoal e espírito público louváveis e acima da média de todos os homens que já sentaram na cadeira presidencial.

É claro que Fernando Haddad era não só o melhor candidato à presidência em 2018, mas é até hoje um dos melhores nomes que o país produziu em todos os tempos com biografia disponível para nos governar. A derrota de Haddad no último pleito presidencial foi dolorosa e difícil de assimilar, sobretudo porque a soma dos não-votos com os votos dados a ele superaria com larga margem a opção dos 39% de eleitores aptos a ir às urnas naquele momento e que escolheram o caminho amoral, canalha, obtuso e equestre de dar o voto a um desclassificado capitão chamado Jair Bolsonaro.

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É claro que os omissos, aqueles recalcados ou perversamente isentos, ou mesmo os legitimamente decepcionados com os governos do PT, que se recusaram a ir às urnas em outubro de 2018, ou que votaram em branco ou anularam o voto, têm de fazer um mea culpa sobre o impacto atroz de seus gestos no Brasil de hoje. Feito o mea culpa, aceitem-se as desculpas e vamos em frente porque temos a vida eterna para construir algo melhor num país onde o futuro alvissareiro nunca se realiza.

É claro que “Lula, Livre” era uma bandeira justa, agregadora e até confortável pela qual lutar. Ela reunia quem pensa com o lado esquerdo do cérebro, quem se deixa governar pela Justiça e sob a ordem constitucional, quem não olha o cenário político bovinamente esperando para agir como gado a seguir zurros de asno. Mas Lula está livre já há alguns meses, e é bom que assim permaneça por todo o tempo de vida que lhe resta (e espero que sejam muitos e muitos anos ainda), e aí? 

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Onde enfiaram o projeto nacional da esquerda brasileira? Que país queremos debater nos palanques municipais de 2020? O que estamos esperando para esboçar um caminho para 2022? 

Lula era o projeto nacional em 1994, em 1998, em 2002. Não o foi em 1989, converteu-se nele em desespero quando passou para o segundo turno como azarão contra Fernando Collor. Em 2002 a vitória numa eleição presidencial do metalúrgico que construíra uma das mais belas biografias da luta política nacional representou o casamento do projeto de Lula com os anseios inespecíficos da maioria espoliada do povo brasileiro. 

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“No fim do meu mandato, quero que todo cidadão desse país coma ao menos três vezes ao dia”, disse o ex-presidente petista ao tomar posse. Ponto, e bastava: numa frase, o sentimento de seu povo. As políticas públicas convergiram para isso, e não só. Mas o centro de gravidade nevrálgico dos governos de Lula foram a construção do sonho de ofertar três pratos de comida diários para a maioria miserável do Brasil. Na esteira disso foram sendo edificados programas que permitiram uma vertiginosa mobilidade social, uma ascensão das camadas miseráveis da população a estratos mais dignos, uma ampliação maravilhosa das vagas em universidades e cursos técnicos para os filhos das famílias mais pobres, um crescimento econômico que permitiu ao país ter as menores taxas de desemprego de sua História. 

Em 2006 a reeleição de Lula era uma ambição natural e ela ocorreu por merecimento a quem soube enfrentar com as armas constitucionais e dentro do ringue da política os solavancos da Ação Penal 470, consagrada na memória nacional como “mensalão”. Aquela vitória sobre Geraldo Alckmin, do PSDB, era já o retorno do projeto pessoal de Lula engatado na construção de um projeto mais ambicioso da esquerda que ele representava quatro anos antes. Ambos combinaram, jogo jogado e tudo deu certo. Entre 2003 e 2012, por uma década fabulosa e sopesando os erros de condução que seriam corrigidos no curso natural da política, o Brasil foi o melhor lugar para se estar no mundo.

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E agora?

E agora, cassada Dilma no epílogo de um golpe dado por recalcados de variadas espécies, o que fazer?

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O que fazer agora, depois que uma cleptocracia exerceu o poder no país entre maio de 2016 e dezembro de 2018 na esteira do golpe jurídico/parlamentar/classista que apeou da Presidência uma mulher incompetente, mas honrada?

E agora, que se instalou no Palácio do Planalto uma corja de arrivistas ineptos, sem classe ou preparo, aliados a juízes e procuradores da República que agem de má fé com projetos pessoais e ambições desmedidas, para não citar também os militares de pijama ou que ainda envergam coturnos rotos e uniformes desbotados, o que fazer? É essa horda de malucos grosseiros, obtusos, ridículos até, que detém as chaves dos cofres e as canetas com as quais o país deveria ser governado. Elevaram à condição de deuses de devoção pessoal um juizeco medíocre do interior do Paraná, notório descumpridor de leis e normas, e um economista mal intencionado cuja agenda é pessoal e dedicada aos ganhos que pode gerar para o mercado financeiro no curto prazo – porque com eles se locupletará junto à plateia que hoje o aplaude e incentiva e para cuja arquibancada anseia retornar.

E agora, esquerda? Esquerdas? É sério que o melhor a fazer será seguir atrelada a um personalismo atroz que deu certo no passado porque estava reunindo os rios que corriam para o mar? 

A esquerda parou na encruzilhada e corre sério risco de morrer atropelada: está como o brasileiro de piada que vai a Nova York sem saber lhufas de inglês e marca o encontro com o amigo na esquina das ruas “walk” com “don’t walk” porque foram essas as palavras que viu piscando nos semáforos. 

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