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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A esquerda que ganha e a que perde

"A esquerda latino-americana é a esquerda que ganha, pela consciência da centralidade da luta contra o neoliberalismo"

(Foto: Reprodução)
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Um dossiê do Le Monde Diplomatique sobre a esquerda europeia é encabeçado por um artigo com o título: por que a esquerda perde. 

“É universo para a esquerda europeia.” Introduz a análise do porquê do fracasso da chamada nova esquerda europeia: do Podemos na Espanha, do The Link na Alemanha, do a França Insubmissa, entre outros. E o quadro geral é que mudou muito e sempre pior para a esquerda.

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Em 2002, os social democratas dirigiam 13 dos 15 governos da União Europeia. Vinte anos depois, dirigiam apenas 7 de um total de 27. Segundo Jean-Pierre Chevenement: a globalização neoliberal é questionada não pela esquerda, que se aliou ao social-liberalismo, mas pela direita. E, mais especificamente, pela extrema direita.

Enquanto a esquerda europeia assumiu todos os suportes da unidade europeia e do euro, a extrema direita se valeu para propor a saída da União Europeia e o retorno aos Estados nacionais. O surgimento de uma nova esquerda europeia tampouco mudou essa situação. “Só na América Latina a esquerda encontra motivos de conforto.”

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Manifestantes da Primavera Arabe, do Occupy Wall Street, dos Coletes Amarelos, se recusaram a disputar politicamente os espaços políticos institucionais, e ficaram nas mobilizações de base, na chamada sociedade civil. Não apenas não capitalizou essas mobilizações com avanços políticos concretos, como prepararam o clima de rejeição da política, do Estado, dos partidos, por parte da extrema direita.

A virada na França foi a mais impressionante. De “laboratório de experiências políticas", segundo Engels, onde todos os fenômenos ocorriam da forma mais radical, a França passou a ter a extrema direita com mais peso de massas na Europa. A classe trabalhadora francesa, que se dividia entre socialistas e comunistas, há décadas vota na extrema direita. Seu nível de sindicalização – cerca de 7% - é dos mais baixos da Europa.

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O Podemos, da Espanha, aparecia como o modelo da nova esquerda, que projetava sua influência para a América Latina. Afirmava ter a missão de extirpar o Psoe. Chegou para “tomar o céu por assalto”. Se trataria de organizar o povo para lutar contra a casta que controlava o poder.   Quatro anos depois, o Podemos assumiu uma aliança subordinada ao Psoe no governo, abandonando qualquer perspectiva de coordenar uma alternativa à esquerda tradicional. O próprio Pablo Iglesias, que liderava esse projeto, com um estilo midiático destacado, primeiro comprou – com sua companheira, também dirigente de Podemos – uma impressionante mansão, depois de ter feito a apologia de que vivia nas condições em que o povo espanhol vivia. Para, finalmente, se retirar do governo e da política, renunciando, sete anos depois de ter iniciado sua carreira política. 

Um fracasso de um simbolismo enorme, como fim da perspectiva de uma nova esquerda na Espanha e em toda a Europa. Um fracasso que se reproduziu na França, na Itália e na Alemanha.

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Essa a esquerda que perde, segundo a matéria do LMD. Mas ali mesmo há referencia de que so na America Latina a esquerda encontra motivos de conforto. O dossiê remete para a eleição do Boric, no Chile. Mas ela é apenas mais uma vitória da esquerda latino-americana, que conta hoje com governos antineoliberais na Argentina, no Mexico, na Bolivia, no Peru, em Honduras, com boas perspectivas de se estender para o Brasil e para o Chile neste ano.

Mas qual a razão para termos na América Latina uma esquerda que ganha? Foi aqui que o neoliberalismo mais se expandiu no mundo, onde teve mais governos neoliberais e em suas modalidades mais radicais. Foi, em consequência, onde surgiram os governos antineoliberais no mundo. Que triunfaram e foram reeleitos, projetaram os principais líderes da esquerda no mundo do século XXI e diminuíram significativamente as desigualdades – o principal problema que afeta os países do continente.

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A esquerda latino-americana é a esquerda que ganha, pela consciência da centralidade da luta contra o neoliberalismo, enquanto a esquerda europeia, de uma ou outra forma, aderiu ao modelo neoliberal, deixando de se diferenciar da direita. A consciência de que a esquerda do século XXI é uma esquerda anti-neoliberal diferencia a esquerda latino-americana da europeia, a esquerda que ganha da esquerda que perde.

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