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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A extrema direita é a bala perdida da política brasileira

O episódio da bala disparada pela arma de Milton Ribeiro seria algo banal se não estivesse encaixado no contexto das aparentes alucinações da realidade

Milton Ribeiro e Jair Bolsonaro (Foto: Carolina Antunes/PR)
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O episódio da bala disparada pela arma do ex-ministro Milton Ribeiro seria algo banal, da periferia dos assuntos considerados sérios, se não estivesse encaixado no contexto das aparentes alucinações da realidade brasileira.

Um pastor entra armado no aeroporto da capital do país, por onde circulam as figuras mais importantes da República, manuseia uma pistola dentro de uma pasta, toca onde não deveria tocar e provoca um incidente com a marca do bolsonarismo.

O episódio tem uma arma, a imprudência, tem a inabilidade, o desrespeito às normas legais de segurança e ainda tem o desprezo pelo bom senso e pelos outros. É um caso terrivelmente bolsonarista.

Se o presidente da República, um armamentista, não consegue efetuar um tiro por esquecer de destravar a arma, um pastor-educador não deve ter a obrigação de saber como travar uma pistola.

E assim o caso passa a frequentar só os cantinhos dos grandes jornais, como um fato esdrúxulo, quando é parte do roteiro escrito pela extrema direita. É um incidente coerente com o que vivemos por imposição do fascismo.

Ninguém morreu, ninguém se queixou de nada, a Polícia Federal devolveu o revólver ao seu dono e ninguém ficou sabendo por que um pastor tem porte de arma.

Que situação excepcional garante a Milton Ribeiro o direito de andar armado em áreas públicas e fechadas com grande circulação de pessoas?

Se o pastor entrou no aeroporto com a arma, não se dirigiu ao posto da Polícia Federal, se foi ao balcão da empresa e só ali decidiu retirar a munição, é porque estava preparado até aquele momento para imprevistos. Dentro do aeroporto.

Se não estivesse, teria se dirigido ao check-in com tudo resolvido antes com as autoridades policiais que devem fazer valer os protocolos nessas situações.

Com a arma carregada, é possível supor que, se fosse acossado pelos sentimentos de medo e de violenta emoção, o ex-ministro poderia reagir atirando. Dentro do aeroporto.

O bolsonarismo nos oferece personagens e situações inimagináveis em circunstâncias consideradas normais, mesmo que não se saiba mais o que possa ser normal no Brasil.

É razoável supor, a partir do caso de Ribeiro, que muitos brasileiros se sintam no direito de circular armados em toda parte. Ou só em aeroportos?

Não circulam também em rodoviárias, shoppings, nas ruas e em festas do agronegócio? Em motociatas?

Noticiam que Ribeiro estaria registrado como colecionador e como caçador. Um colecionador que carrega parte da coleção para onde vai.

Um caçador que põe a pistola na pasta e entra no aeroporto, com a armada pronta para uso, para caçar o quê? Parece tema de pauta policial, mas não é.

Foram registradas no ano passado no Brasil 204 mil novas armas, mais do que o dobro de 2019. Bolsonaro mandou o país se armar.

Quase 80% dos registros são de cidadãos comuns, colecionadores e caçadores do time do ex-ministro, que acaba de criar e normalizar a bala perdida de aeroporto.

O professor que cuidava da Educação, um pastor presbiteriano, um homem de Deus, anda armado e se envolve em incidente típico de zonas de conflito e violência urbana. E estava no aeroporto de Brasília.

Não é um mero incidente de plantão policial, é mais um fato dos costumes bolsonaristas para a compreensão do estágio a que chegou o país controlado pela família no poder.

O tiro de Ribeiro deveria estar nos cantinhos dos sites da grande imprensa, como está, se tivesse partido da pasta de um contraventor. Mas o protagonista é um homem da Bíblia.

O tiro no aeroporto traz, para quem vê significado em quase tudo, o prenúncio de que algumas coisas podem sair do controle, porque estão mexendo em pastas e enfiando as mãos em cumbucas de alto risco.

Dá para imaginar o que pode acontecer no país armado por Bolsonaro, com a intenção explícita de formar milícias, com tanta gente sem competência para fazer o que deve ser o abc de qualquer manual de caçador.

Bolsonaro e líderes do bolsonarismo não sabem destravar e travar armas. A extrema direita é a bala perdida da política brasileira.

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