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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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A Federal não é privada

"A Polícia Federal, cuja sede em Brasília tem o apelido de “máscara negra”, em razão dos vidros escuros e espessos, virou, verdadeiramente, uma caixa preta institucional", escreve o colunista Weiller Diniz

(Foto: EBC)
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O capitão, diagnosticado pela maioria dos brasileiros como pouco inteligente, se sente confortável com a indigência de suas parábolas escatológicas. Vem vomitando várias delas ao longo dos anos, resultado de uma cognição deficitária e da limitação intelectual indesmentível. Dia sim, outro também, evacua alguma tolice de sua latrina nauseabunda e oclusa. Quase morreu sufocado por uma obstrução intestinal. Seria uma redundância. Enquanto defeca por onde passa, o capitão segue emporcalhando as estruturas do Estado para perseguir adversários e atrapalhar as investigações da CPI. Ora manipula os recrutas, mercenários de altas patentes, ora instrumentaliza setores da Polícia Federal transformando-os numa guarda pretoriana política, a Gestapo bolsonarista.

A Polícia Federal, cuja sede em Brasília tem o apelido de “máscara negra”, em razão dos vidros escuros e espessos, virou, verdadeiramente, uma caixa preta institucional. Todos os atos, documentos, rotineiros ou não, sigilosos ou não, inquéritos e investigações serão de acesso restrito. Inverte-se o mandamento constitucional, segundo o qual a regra para administração pública é a transparência, a publicidade. Qualquer registro passa a ser acobertado pelo selo do sigilo, do clandestino, do segredo e, quiçá, do ilegal.

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No início da pandemia, uma das primeiras vítimas do capitão foi exatamente a Lei de Acesso à Informação. A transparência, a imprensa e os demais poderes são alvos recorrentes das comichões autoritárias de um delinquente. Bolsonaro tem usado instâncias da PF contra todos eles, principalmente a CPI.

A Precisa Medicamentos, o proprietário Francisco Maximiano e servidores da empresa estão no foco da CPI pela intermediação de um contrato superfaturado para importação da vacina Covaxin, da Índia. Antes de ser chamado à CPI, o rei do trambique, conhecido por Max, virou alvo de um inquérito da Polícia Federal o que lhe rendeu um conveniente Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal. Isso se traduz no direito de emudecer na CPI. O depoimento dele por lá foi adiado. Uma das funcionárias da Precisa, Emanuela Medrades, que capitaneou o contrato malcheiroso, também foi ouvida pela Federal às vésperas de depor na Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado. As artimanhas da Federal não passaram despercebidas e geraram protestos estridentes.

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É indisfarçável a fedentina da corrupção no contrato bilionário que envolve o imunizante da empresa Bharat Biotech. São mais de 20 irregularidades. É a vacina mais cara (15 dólares), 50% a mais que Pfizer e Janssen. É a única que tem atravessador, sem vinculação alguma com a indústria de vacinas. A Precisa, pessoa jurídica, ou Francisco Maximiano, pessoa física não possuem nenhuma vinculação com a entidade ABCVAC (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas) levada a Índia por ele. Jair Bolsonaro faz lobby explícito e pediu pela Covaxin na carta ao primeiro-ministro indiano, rompendo o padrão de comportamento do governo que não trabalhou por nenhuma outra vacina, como fizeram outros líderes mundiais. Ao contrário, sabotou inúmeras vezes a Coronavac e Pfizer.

No dia da carta enviada ao primeiro-ministro indiano (08/01/2021) estavam ofertadas ao governo brasileiros 170 milhões de doses de vacinas (70 milhões Pfizer, 100 milhões Butantan). O histórico da negociação mostra o curioso desprezo nas tratativas com estes fabricantes. Já o contrato da Covaxin foi assinado em apenas 47 dias após a advocacia presidencial. O contrato da Pfizer, primeira a vacinar no mundo, demorou 330 dias. Foram necessárias apenas 15 interações entre MS e Precisa até a formalização do suspeito negócio bilionário de R$ 1,6 bi. Contrasta com as 84 tentativas de interações da Pfizer. A Covaxin é a vacina que mais teve restrições da Anvisa, inclusive a negativa de boas práticas de fabricação em 20/03/2021, com o contrato já assinado.

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A compra também desmonta o falso discurso pelo qual o governo compraria imunizantes apenas após a aprovação pela Anvisa. O governo brasileiro assinou com a OMS vacinas apenas para 10% da sociedade, correspondente a 42 milhões de doses. A oferta do consórcio da Covax Facility era de 50% da população. Mesmo assim, o capitão se empenhou por um contrato de apenas 20 milhões de doses da Covaxin. As entregas ocorreriam em 5 lotes (4 milhões de doses cada), honrados até 70 dias após a assinatura. Nenhuma dose entregue após 5 meses de contrato assinado. O MS deu chá de cadeira nos grandes laboratórios, ignorou mensagens, pedidos de reunião e inventou até vírus de computador no caso Pfizer. Respondia à Precisa até no mesmo dia. O secretário executivo do MS, coronel Élcio Franco, ainda quis comprar 50 milhões de doses adicionais quando já havia quebra de cláusulas do primeiro contrato.

Em 31/08/2020 o embaixador brasileiro na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, reportou em telegrama ao Itamaraty que o preço da Covaxin seria de 100 rupias, ou seja, 1,34 dólares. No dia 25/2/2021, quando o Brasil assinou a compra para importar a Covaxin, ela ainda estava sendo testada na fase 3. As pessoas eram vacinadas, mas mediante termo de compromisso. Essa condição só foi levantada em 11/03/2021. Houve um pedido de pagamento antecipado em paraíso fiscal e para empresa offshore totalmente estranho ao contrato. Também houve uma majoração de 10 para 15 dólares da dose e o cronograma da aquisição foi acelerado por Élcio Franco, com pareceres em com intervalos de até 5 minutos. Que combustível causou essa estranha agilidade? A vacina também já estava com alerta de entrega próxima a validade. O capital social da Precisa é de apenas 500 mil reais para tocar um negócio de R$ 1,6 bi. É um festival sem fim de anomalias.

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Isso tudo foi desnudado em poucos dias pela CPI, mas a Federal entrou no caso tardia e atabalhoadamente. O capitão Bolsonaro, que com suas insanidades desmoraliza PF e Forças Armadas, foi alertado sobre o esquema em 20/03/2021 pelo deputado Luís Miranda e seu irmão, um funcionário de carreira do Ministério da Saúde que sofreu pressões sistemáticas para agilizar a compra da Covaxin e cobranças para autorizar os abusivos pagamentos antecipados. Em crime confesso de prevaricação, Bolsonaro nada fez para apurar a denúncia ou abortar o negócio. Teria, segundo o deputado, atribuído o esquema criminoso ao líder do seu governo, Ricardo Barros e prometido encaminhar o assunto para a PF, o que não aconteceu.

Até hoje, Bolsonaro não desmentiu o deputado Luís Miranda que virou investigado. Uma anomalia tão gritante quanto às ilegalidades na compra da Covaxin. A experiência histórica mostra que governos podem tentar fugir da verdade, mas dela não conseguem se esconder.

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Antes de abrir a investigação concorrente com a CPI, a Federal já vinha sendo alvo de manipulação política. O relator da CPI que vem esfolando Bolsonaro foi alvo de um indiciamento ilegal. Um tiranete da PF foi escalado e indiciou o senador, mesmo sabendo que, por força de jurisprudência pacífica, essa prerrogativa é exclusiva do STF. O estranhamento continuou após a PF inquirir a funcionária da Precisa no dia anterior à sua convocação pela CPI. A concorrência na investigação reavivou as denúncias que ensejaram a demissão do criador de Bolsonaro, Sérgio Moro. À época Moro acusou Bolsonaro de manipular politicamente a Polícia Federal. A investigação acaba de ser prorrogada mais uma vez. O próprio Moro, quando ministro, usou a PF para perseguir adversários de Bolsonaro em investigações ilegais.

Depois do aparelhamento, a PF se deparou com várias circunstâncias negativas. As principais envolveram o uso da Lei de Segurança Nacional em inquéritos para constranger adversários do governo, entre eles jornalistas, professores, intelectuais, influenciadores e servidores públicos. Em 2018, foram 19 inquéritos. Em 2019, primeiro ano sob Bolsonaro, o número saltou para 26. Por fim, em 2020, foram 51 procedimentos com base em uma lei da ditadura não recepcionada pela Constituição. O número de inquéritos abertos pela Polícia Federal com base na LSN aumentou 285% nos dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro, em comparação ao mesmo período dos governos da presidente Dilma Rousseff e de Michel Temer.

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Em março de 2021 cinco ativistas foram presos em frente ao Palácio do Planalto após exibirem a faixa “Bolsonaro Genocida”. O influenciador Felipe Neto, que também chamou o capitão de “genocida” foi perseguido. O profissional autônomo, Roger Orsi, foi investigado pela Polícia Federal por compartilhar em uma rede social um “meme” que mostrava Jair Bolsonaro em um caixão. A PF também abriu investigação contra o sociólogo Tiago Costa Rodrigues, apontado como patrocinador de outdoors em Palmas contra Bolsonaro. Outras tentativas de intimidação foram direcionadas contra vários jornalistas, articulistas e Ciro Gomes que mencionou “a ladroeira do Bolsonaro”, ao se referir ao crime de peculato pelo qual o filho senador, Flávio Bolsonaro, foi denunciado no Rio de Janeiro por crimes de corrupção.

Em maio de 2020, o capitão exultava após a operação “Placebo” da PF que defenestrou o ex-aliado Wilson Witzel do governo do Rio de Janeiro. “Vai ter mais, enquanto eu for presidente, vai ter mais. No Brasil todo. Isso não é informação privilegiada não, vão falar que é informação privilegiada”. A digital do uso da PF como polícia política foi deixada pela deputada Carla Zambelli, um dia antes (25-05-2020) em uma entrevista a uma emissora de rádio: “A gente já teve operações da Polícia Federal que estavam na agulha para sair, mas não saíam.

E a gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar talvez de Covidão, ou de, não sei qual é o nome que eles vão dar, mas já tem alguns governadores sendo investigados pela Polícia Federal”, profetizou Madame Zambelli. Isso um mês após o STF ter barrado o amigo Alexandre Ramagem para o comando da PF.

O Estado Policial, execrado pelo mundo civilizado e mal ensaiado na era Bolsonaro, foi a expressão mais apavorante do nazismo alemão. Adolf Hitler criou, aparelhou e encorpou grupos paramilitares à medida que acumulava poder. A Gestapo, a SS e SA foram inchadas e, ao final, unificadas no aparato estatal com propósitos exclusivamente políticos. A Gestapo, a polícia secreta e partidária, era uma das mais cruéis, covardes, temidas e cobiçadas. Os expedientes repressivos são os mesmos que ensejaram Jair Bolsonaro: monitoramento de oponentes, custódias arbitrárias, perseguição a minorias, delações e espionagens clandestinas.

O nazismo transformou a Gestapo na peça central de terror no Terceiro Reich. O julgamento de Nuremberg declarou a Gestapo como organização criminosa e seus dois dirigentes, símbolos dos carniceiros (Heinrich Himmler e Hermann Göring) se mataram. O Tribunal de Haia aguarda Bolsonaro.

A Polícia Federal é uma instituição de Estado, com atribuições judiciárias e, teoricamente, nem de longe deveria estar subordinada às tentações políticas do Poder Executivo. No passado muitos tentaram, mas não domesticaram a PF em razão da conflagração interna. Bolsonaro é o que mais acintosamente insiste em deteriorar a instituição para práticas autoritárias. Cada dia fica mais claro que o capitão, muito em breve, será uma trágica lembrança da vida nacional. Após os desgastes provocados pela CPI que ele tenta, em vão, desqualificar, suas chances eleitorais diminuíram sensivelmente. Quando perder a ascendência se tornará alvo muito frequente de muitos inquéritos da mesma polícia que insiste em instrumentalizar. Afinal, a PF não é privada, aí subentendido como latrina ou propriedade da ‘famiglia’.

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