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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A força de Lula simplesmente não cede

O linguista, editor e colunista do 247 e membro do 'Jornalistas Pela Democracia', Gustavo Conde, destaca a necessidade de se retomar a visão política de Lula como forma de superar o retrocesso inédito que tomou conta da sociedade brasileira; ele diz: "Lula e o PT são muito mais do que um líder e um partido de esquerda. Na falta de uma palavra melhor, nós os chamamos assim. Mas o fato é que se trata de uma concepção de Estado e de sociedade muito mais avançada do que os clichês da ciência política estabelecida"

A força de Lula simplesmente não cede (Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula)
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Nós seremos obrigados a pensar em uma nova forma de conceber o Estado.

Impregnada de preconceitos, limitações e intoxicações ideológicas, a sociedade ocidental mergulhou em uma zona de incomunicabilidade política, significando esquerda e direita de maneira muito simplista e reducionista.

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Nós, brasileiros, tínhamos saído na frente nessa discussão conceitual obrigatória que deve renovar o mundo político pelos próximos 20 anos.

A experiência de Lula e do Partido dos Trabalhadores é única no mundo. Chamá-los de “esquerda” é simplificar demais a complexidade de suas ações e de seus projetos.

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Lula e o PT são muito mais do que um partido e um líder de esquerda. Na falta de uma palavra melhor, nós os chamamos assim. Mas o fato é que se trata de uma concepção de Estado e de sociedade muito mais avançada do que os clichês da ciência política estabelecida.

Lula representa uma espécie de “capitalismo humanizado”. Eu peço perdão pelo conceito extravagante, mas quando nós nos dispomos a colocar o dedo na ferida semântica, dores colaterais estão no preço.

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Ao colocar porções mínimas de dinheiro na mão do pobre trabalhador historicamente desassistido pelo Estado, Lula subverteu as regras e a própria lógica preguiçosa da economia de gabinete.

Lula fez o dinheiro “circular”, o que deveria ser a premissa máxima de um capitalismo real, não financista e desacomodado. O detalhe é que ele fez o dinheiro circular na mão das pessoas e não com teorias acadêmicas de quinta categoria que faz a alegria dos tecnocratas (e a tristeza da realidade empírica).

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O dinheiro mínimo – que muitos chamaram de “esmola”, por excesso de ignorância e desconhecimento – nas mãos de mães de família incendiou a economia e contagiou positivamente toda a sociedade brasileira.

Os empresários ganharam muito dinheiro com a economia brasileira forte e plena de saúde. Mas a população pobre também pôde mudar o seu patamar de consumo e ter mais acesso ao mundo da cultura e da educação.

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Esse é o curto-circuito que Lula causou, com sua força política descomunal, nas percepções preguiçosas da ciência política e do comentário social: tornar os ricos mais ricos seria um despropósito para pretensões humanitárias de uma esquerda clássica e congelada no tempo.

Mas manter empresários ganhando dinheiro nesses termos não é um processo desumanizado, pelo contrário. Aliás, tanto não é que esses mesmos empresários, dentro da obtusidade social que lhes é peculiar, voltaram-se contra a política econômica construída sob a influência de Lula.

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É a prova cabal de que alguma coisa estava “errada” com esse protocolo de ganha-ganha alastrado pela sociedade inteira.

Nos governos Lula, todos ganhavam. Esse é o sentido mais completo do enunciado: “governar para todos”. É o mais humanizado, o mais cristão, o mais técnico, o mais sensato.

O PT e Lula são o exato contrário do que muitos analistas desgarrados lhes tentaram impregnar via repetição exaustiva de lugares-comuns. Lula e o PT sempre lutaram para não – destaque-se o ‘não’ – dividir a sociedade, porque eles sabiam que a divisão social só prejudicaria quem está na base da pirâmide social.

Ao manter o topo da pirâmide com seus ganhos e lucros, Lula se descolou do simulacro de ‘esquerda’ que habitava o nosso imaginário político e deu um imenso drible da vaca em todas as teorias econômicas vigentes.

Em outras palavras: a riqueza de um país deve ser estimulada - com responsabilidade - para todos os segmentos da sociedade, com especial atenção para os mais pobres. Até porque, ao menor sinal de perda de ganhos, o topo da pirâmide trunca todo o processo político de maneria violenta, maus perdedores que são.

Esse gesto foi o gesto mais revolucionário da história dos programas socioeconômicos. Sobretudo, em função de sua simplicidade: dinheiro na mão do pobre é dinheiro que circula e que movimenta a economia de maneira virtuosa e irresistível (porque o pobre não “represa” dinheiro).

Claro que esse gesto pode ser considerado de esquerda. Mas ele é muito mais do que isso. É um gesto extremamente técnico e dotado de profunda inteligência gerencial.

Nós, brasileiros, tivemos o privilégio de construir em nosso solo uma das mais avançadas tecnologias políticas e sociais de que o mundo já teve conhecimento. Não é à toa que o bolsa-família tenha sido premiado no mundo inteiro, com inúmeras honrarias acadêmicas para seu idealizador político.

O que falta de inteligência para toda a nossa classe política, sobra para Lula.

Se a elite brasileira tivesse superado o seu trauma fundamental e se realinhado historicamente diante de uma oportunidade única para deixar de ser um segmento intelectualmente interrompido, nós estaríamos em outro patamar político e social hoje, exportando a nossa expertise de governança para o mundo – sobretudo para a África, sonho pessoal de Lula.

O que nos extraiu a possibilidade real de utopia pós-esquerda foi um dos mais rudimentares sentimentos humanos: a inveja. A classe rica não suportou ver um operário esbanjando inteligência e competência e rumou para o suicídio coletivo sem um pingo de remorso de si.

O cálculo era: eu posso até perder tudo, mas “eles” vão perder também.

Note-se, com pesar, no que se tornou o país desde então. De nação mais rica, vibrante e influente do mundo, nós viramos pária global. A missão da nossa elite atrasada foi, portanto, cumprida. Eles queriam que todos afundássemos, sob o preço de não mais reconhecer em Lula um dos maiores, mais inteligentes e mais bem-sucedidos líderes mundiais.

Por quê isso? Porque por mais burra que possa ser, nossa elite dispõe de um inconsciente como todos nós. E esse inconsciente, pavlovianamente adestrado com muito ódio, preconceito, racismo e individualismo, sabe o poder de um símbolo como Lula.

Lula deveria ser destruído pois sua mera presença na cena política faria estremecer o país inteiro a cada eleição, a cada crise, a cada impasse social.

Não estava previsto, no entanto, que a força simbólica de Lula também ultrapassasse os cálculos obsoletos da nossa elite financeira, detentora - com orgulho - de um dos maiores fracassos intelectuais do mundo.

A força de Lula simplesmente não cede. Preso, ele domina o imaginário do próprio presidente eleito que, a rigor, não tem vida própria.

Lula - para que fique claro de uma vez por todas – habita outra dimensão da história, da política e da sociologia. Lula não é apenas uma pessoa, uma ideia ou uma emanação. Lula é um mundo à parte. Trata-se de uma personagem que impôs ao mundo físico, real e social, uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de remexer os sentidos estabelecidos.

Lula é um assombro da natureza, um centro irradiador de luz e amor – para além da inteligência desproporcional. Muitos se espantam com minha percepção de Lula (até ele, que diz tomar “cuidado ao me ler para não ficar se achando”), mas lamento informá-los: eu não tenho medo do sentido das coisas e do mundo.

A vida de Lula já está para sempre marcada e definida como uma das maiores biografias do mundo, plena de generosidade, afeto, resistência, coragem e humanidade.

Há, no entanto, um passo político seguinte a ser dado – que é aonde deveríamos estar, se nossa elite não tivesse interrompido o processo democrático-histórico: temos que reelaborar a concepção de Estado, agora com todas as letras e uma nova tipologia.

Eu tenho o esboço dessa nova concepção, até porque ela passa diretamente pelos estudos da linguagem – e não mais pelas insistências academicistas da ciência política e da economia. Terei o prazer de dividir essa semente teórica com meus pacientes leitores – mas é claro que ficará para um outro artigo.

Apenas asseguro que esta nova concepção de Estado passa obrigatoriamente pelo modo Lula de ver o mundo. Ou: Lula é mais uma vez necessário para que superemos o mar de lama gerencial a que fomos submetidos.

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