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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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A gangue que pode inspirar Bolsonaro

"Bolsonaro sabe, e com a crise com os militares sabe mais ainda, que não pode contar com o apoio incondicional das Forças Armadas. Por isso seu projeto é ter as polícias militares como suporte bélico, ao lado de grupos civis, para enfrentamentos de rua", escreve o jornalista Moisés Mendes

(Foto: Reprodução)
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Bolsonaro deve sonhar com a formação de grupos como o liderado pelo boliviano Yassir Molina, que está ao centro na foto. Molina é procurado desde a tarde de terça-feira. Há uma ordem de prisão da Justiça contra ele.

O sujeito é o líder de uma facção de extrema direita chamada Resistência Juvenil Cochala (RJC), de Cochabamba. Cochala é como se designa o cidadão de Cochabamba. A RJC não tem registro oficial e vínculos formais com partidos.

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Molina deve ser preso por ações violentas, uso de armas e atentados contra prédios públicos, entre os quais um edifício do Ministério Público. Há muito tempo a RJC persegue um promotor.

Suspeitam que a organização seja financiada pelo fascista Luis Fernando Macho Camacho, eleito este mês governador de Santa Cruz de La Sierra, o reduto da direita boliviana.

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Camacho é o chefe do Comitê Cívico de Santa Cruz, a trincheira política de fazendeiros e empresários. Foi o líder civil do golpe de novembro de 2019 contra Evo Morales e concorreu nas eleições de outubro. Luis Arce, ex-ministro da Economia de Morales, foi eleito, e Camacho teve 14% dos votos. Ficou em terceiro lugar. É um fascista regional, com pretensões nacionais.

A RJC tem o nome de entidade juvenil, mas reúne gente de todas as idades, e muitos fingem ser jovens. Atuaram nas ruas no golpe, desfilam de moto vestindo as cores da Bolívia (qualquer semelhança com os bolsonaristas de verde-amarelo não é coincidência) e estão sempre a postos para tentar dispersar as manifestações do Movimento ao Socialismo (MAS), de Morales e Arce.

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São violentos, usam armas artesanais e se dedicam a espalhar o terror, ameaçando gente nas ruas, estacionando diante de casas de militantes do MAS e depredando o que estiver pela frente. Geralmente saem encapuzados. Latem muito, mas também mordem.

Já ameaçaram jornalistas e costumam infiltrar agentes em grupos dos movimentos populares. Têm estatuto e não podem aceitar cargos públicos ou disputar eleição.

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Foram eles que atacaram, espancaram e pintaram com tinta vermelha a prefeita da cidade de Vinto e líder socialista Patricia Arce, jogada no meio da rua quase sem roupas. Esta foi a vingança de Patrícia: elegeu-se senadora em outubro.

É a milícia perfeita, com gente das periferias misturada a extremistas da classe média. São definidos como tropa de choque dos fascistas bolivianos.

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Na sua página no Facebook, o líder se define assim: “Jovem boliviano que ama seu país, a democracia e a igualdade. Odeia o abuso de pessoas em todos os sentidos”. Não se sabe qual é sua atividade.

Os 300 de Sara Winter tentaram, mas não conseguiram chegar perto do que são os milhares de integrantes da gangue de Cochabamba. O jornal argentino Página 12 calculou no final do ano passado que teriam mais de 5 mil membros.

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Bolsonaro sabe, e com a crise com os militares sabe mais ainda, que não pode contar com o apoio incondicional das Forças Armadas.

Por isso seu projeto é ter as polícias militares como suporte bélico, ao lado de grupos civis, para enfrentamentos de rua, como a turma de Yassir Molina faz na Bolívia. O incentivo ao porte e à posse de armas é parte essencial dessa estratégia. Com o mesmo argumento da defesa da democracia.

Na Bolívia, aconteceu o que Bolsonaro idealiza na sua mente golpista. Foram os policiais que se amotinaram e viabilizaram, na força, o golpe liderado por Camacho. Molina deu suporte à agitação.

Foram os policiais que puxaram os generais para o golpe. Acovardados, sem força para defender o governo, juntaram-se aos amotinados e exigiram a renúncia de Morales.

O golpe não deu certo, mas os policiais continuam ameaçando o governo de Arce e a Justiça, com notas da associação da categoria, e a facção dos motoqueiros está nas ruas. Yasser Molina é considerado foragido.

Ele, Camacho e toda a extrema direita contam com o suporte de parte do Judiciário. Tanto que Molina já havia sido preso este mês (pela segunda vez), pelas mesmas acusações de destruição de bens públicos, ameaças e formação de quadrilha, mas foi libertado por ordem da juíza Ximena Mendizábal.

Ximena enfrenta processos disciplinares na corregedoria de Justiça e foi afastada das funções. Ela pode ter permitido que o chefe da RJC preparasse a fuga, e a primeira possibilidade de refúgio é sempre o Brasil.

Uma coisa Bolsonaro deve estudar direito, para não achar que com policiais amotinados e gangues de civis é possível fazer e manter um golpe. Na Bolívia, o golpe foi derrotado em um ano. Perdeu para a democracia e para a esquerda do MAS, em voto direto.

Os generais que não fugiram estão presos, junto com Jeanine Añez, a ex-senadora que assumiu o governo depois do golpe que matou mais de 20 pessoas em ações do Exército nas ruas.

Policiais amotinados, generais covardes e gangues podem até promover um levante, mas nem sempre sustentam um golpe.

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