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Roberto Moraes

Engenheiro e professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ)

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A guerra financeira das sanções já afeta os maiores fundos globais e ampliará a crise

Não é difícil perceber que estamos agora no auge da dimensão das sanções financeiras, a maior já havida até hoje em conflitos no planeta

Dinheiro russo (Foto: REUTERS/Alexey Malgavko)
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A guerra EUA-OTAN x Rússia tem três dimensões ou elementos que se interagem transversalmente, conforme o nível da disputa das relações de poder envolvida. 1) Guerra tradicional/híbrida; 2) Financeira/sanções; 3) Cibernética e digital. 

Assim, como em outras guerras, começa pela primeira dimensão e depois oscila também para as demais que antes ou não existia (cibernética) ou era menos importante, como a econômico-financeira, nestes tempos de mercados e finanças globalizadas.

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Não é difícil perceber que estamos agora no auge da dimensão das sanções financeiras, a maior já havida até hoje em conflitos no planeta. E tem os EUA na cabeça que é quem controla a moeda de conversão e de comércio mundial e assim, a grande maioria dos fluxos da financeirização ao nível global, agindo contra uma grande potência, porque em suma se trata de uma guerra EUA x Rússia. Sendo assim, não se pode deixar de observar que na cabeça da financeirização global estão os maiores fundos financeiros globais.

Os fundos de investimentos lubrificam a financeirização que se tornou hegemônica

Dos dez maiores, nove são dos EUA, alguns em parcerias com grande financistas do Reino Unido. No topo desta lista é o conhecido fundo americano, Black Rock, criado em 1990 e que hoje controla volume de ativos superior US$ 9 trilhões, cerca de 15 vezes o confisco que os bancos americanos fizeram das reservas russas e quatro vezes mais o PIB russo.

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Já tratei no meu livro “A ´indústria´ dos fundos financeiros: potência, estratégias e mobilidade no capitalismo contemporâneo”, editora Consequência, 2019, que os fundos de investimentos, controlam de forma crescente (em especial, depois da crise do subprime, em 2008/2009), tanto os ativos reais (produtivos), quanto ativos financeiros (títulos, papeis, ações, mercados futuros, etc.), em nações de todos os continentes do mundo. Assim, o instrumento dos fundos são hoje responsáveis, em boa monta pela acelerada financeirização ao nível global.

Nesse sentido, podemos afirmar que os fundos lubrificam a financeirização que contribuiu em boa parte pela hegemonia no capitalismo contemporâneo, globalizado que agora é colocado em xeque no confronto direto entre duas potências mundiais: EUA x Rússia.

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Os fundos + digitalização ampliaram a fluidez e a mobilidade setorial e espacial do capital

Os fundos financeiros com o auxílio indispensável do avanço das tecnologias digitais (TIC) deram fluidez e mobilidade ao capital, seu desejo quase utópico de circulação sem controles ou regulação. O capital ganhou uma hipermobilidade, tanto setorial (Inter setorial entre setores e econômicos e entre os ativos reais e os financeiros), quanto espacial, entre EUA, Moscou, Hong Kong, Brasil, etc., onde se localizam os ativos destes potentes fundos.

Sem o avanço da “dominação digital” não seria possível a velocidade e densidade destes fluxos financeiros instantâneos, pelo menos, na proporção que enxergamos hoje no capitalismo contemporâneo.

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Uma hipermobilidade, mas de controle centralizado. A ponto de seus proprietários, em acordo com o poder político (e geopolítico) poderem confiscar e interromper fluxos financeiros de terceiros, unilateralmente, no interior do sistema inventado pelos europeus, que o professor Fiori denominou como “Sistema Interestatal Capitalista”.

A guerra financeira, os fundos, o sistema interestatal e a disputa por hegemonia

Os fundos de investimentos também investem na economia da guerra e das armas, embora pouco se fale disso. Porém, a repercussão das sanções econômicas não são simples de serem medidas e nem compensáveis. 

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A Ucrânia e seu povo sofrem essa disputa, que nessa fase se fortaleceu em termos geoeconômicos, mesmo que em meio a movimentos geopolíticos cujos resultados só adiante serão percebidos.

É nesse contexto que o freio dos fluxos financeiros, o abandono de empresas e ativos na Rússia, os bloqueios de suas exportações de petróleo e minerais, as consequências da interrupção no fornecimento de insumos e interrupções, as quebras de várias cadeias produtivas regionais, etc. já produzem impactos para as pessoas, nações e para esses grandes fundos globais que possuem controle centralizado nos EUA.  

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A guerra financeira nunca terá uma direção única como o de uma bomba. Como a globalização os ativos estão interligados, a explosão vai em várias direções e em efeitos sinérgicos. Os custos das pessoas e das empresas já aumentaram com energia e com alimentos. Junto puxa a inflação nos diferentes países, mesmo que em proporções distintas decorrentes dos impactos diversos em cada cadeia, mas em todos, fortemente influenciados pela energia e alimentos.

Assim, a recessão tende a se ampliar também com a redução da produção e do comércio. É nesta toada que os ativos (reais ou financeiros) perderão igualmente, como valor real. É certo que a periferia sempre perderá mais, porque não detém os meios que as finanças centralizadas dispõem.

A guerra sempre tem um grau de irracionalidade que depois os líderes tentam superar. Porém, já é possível perceber que a globalização sofre um freio com esse fenômeno da guerra EUA-OTAN x Rússia. As nações tendem a olhar mais para dentro, para suas defesas e para as suas necessidades estratégicas. É óbvio que isso não interessa aos fundos financeiros globais. E se é verdade que a guerra financeira afeta os fundos globais ela também afetará os fundos financeiros regionais que aos globais estão imbricados.

Os fundos com suas plataformas digitais ‘online’ que funcionam 24 horas, monitoram todos os movimentos do mercado em que atuam e já devem identificar as tendências. Onde os fluxos se reduziram, foram trocados, os by-pass criados, etc. Geoeconomia determinando nova geopolítica. Por isso uma guerra entre potências (EUA x Rússia) não tem como não ser vista como um conflito de proporções globais

O Black Rock possui a potente plataforma Aladdin com trabalho de equipes com milhares de economistas, matemáticos e técnicos de computação em telas de 360º. Usam IA e redes de computadores expostas em tema que monitoram simultaneamente esses dados. Observam seus efeitos em modelagens e programações de algoritmos com aprendizado de máquinas (learning machine). Não é por outro motivo que o Black Rock trabalha, essencialmente com o ETF, um fundo de índices que visa ganhar como inovação tecnológica financeira com o monitoramento da totalidade.

Os fundos chineses são poucos conhecidos e articulados junto aos seus grandes bancos estatais. Eles possuem relações com alguns destes fundos do Ocidente, mas se movimentam com lógicas distintas por isso, devem ser bem menos afetados. De novo, há que se observar a tendência do Oriente se distanciar do Ocidente não apenas por conta da russofobia.

É evidente que são grandes os temores dos proprietários destes capitais, hoje sob a gestão destes fundos financeiros gigantes que operam juntos, e em articulação, com o Estado americano.

Neste sentido, é provável que seus gestores (Larry Fink, em especial) tenham feito uma aposta com o Poder Político da Casa Branca. Uma aposta de médio prazo de olho na manutenção da hegemonia geopolítica e financeira americana, ainda muito vinculada à moeda americana.

Porém, bombas nucleares financeiras como essas das sanções gigantes que estão sendo escaladas, não são possíveis de serem modeladas antecipadamente. Seus resultados ainda estão sendo medidos. Os by-pass monitorados entre fluxos subterrâneos, mercado negro, criptomoedas e outros.

O fato é os proprietários destes ativos dos grandes fundos globais, também estão sendo atingidos, mesmo que muito menos que as pessoas, mas tendem a reagir. Observemos, pois, os movimentos e falas dos seus líderes e, então, enxergaremos melhor, os impactos da sangrenta guerra e veremos que a crise tende a se ampliar. Apertem os cintos o hegemon pode estar à prova.

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