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A hora e a vez da mediocridade

A onda contrária ao memorial em homenagem a João Goulart ressuscitou o ranço conservador e mostrou ao país a identidade de Brasília como capital violentada pelo golpe civil-militar

A onda contrária ao memorial em homenagem a João Goulart ressuscitou o ranço conservador e mostrou ao país a identidade de Brasília como capital violentada pelo golpe civil-militar (Foto: Luiz Augusto Gollo)
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A decisão do Governo do distrito Federal de se opor à cessão de área pública no Eixo Monumental de Brasília para a construção do Memorial Liberdade e Democracia confirma o que já se desenhava no amplo horizonte brasiliense desde os primeiros dias da atual administração. Já no início do ano, logo depois da posse, o governador foi instado a se posicionar sobre a construção do memorial, então sob investida do grupo empresarial e político que se considera herdeiro de tudo que tem a marca JK, inclusive e sobretudo o plano piloto da capital, sua história e seu futuro.

A onda contrária ao memorial em homenagem a João Goulart ressuscitou o ranço conservador e mostrou ao país a identidade de Brasília como capital violentada pelo golpe civil-militar, que representou durante as décadas seguintes o centro administrativo da ditadura, a sede da censura à imprensa, às artes, à manifestação popular, o centro institucional da tortura, do desaparecimento e do assassinato dos opositores do regime, o cerne da corrupção impune, a razão maior da vergonha da nacionalidade – a "ilha da fantasia".

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Foi nessa Brasília amordaçada onde se forjou a geração que alcançou o poder nas eleições diretas de 1989, Fernando Collor à frente, filho do coronelismo político alagoano que viveu a adolescência na capital jovem como ele. Com Collor, uma quantidade de semelhantes ocupou postos formais e informais na administração pública central e local, imprimindo ares de grande novidade, mas que todo o país viu no que deu.

Desta "safra" saíram Paulo Octavio Pereira e Luiz Estevão de Oliveira Neto, lembrando dois expoentes apenas cuja trilha na vida pública lembra a do antigo amigo de sexo, drogas e roquenrou na capital da ditadura. Menino rico e de família, Fernando deu a volta por cima depois de forçado a renunciar à presidência da República em dezembro de 1992, mas PO submergiu ao deixar a vice-governadoria de José Roberto Arruda, em fevereiro de 2010, e Luiz Estevão ostenta a proeza de único senador cassado no Brasil, em junho de 2000.

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Esta geração foi o paradigma da que veio a seguir e cuja afirmação maior na Brasília atual é o governador Rodrigo Rollemberg, menino das entrequadras e das tesourinhas, dos concertos de rock ao ar livre e das festinhas nas mansões, filho da mais alta burocracia do país. Sua ascensão ao governo é considerada, dentro da família, consequência natural, destino esperado, por assim dizer - a ditadura é história, e ele representa o que a cidade tem de autêntico e legítimo.

O compromisso de Rodrigo Rollemberg com a história de Brasília ou do país é nenhum, ele é a sua própria história. Não sabe sobre João Goulart, Castelo Branco ou Emílio Medici, e mesmo de Juscelino Kubitschek conhece pouco além da cara enorme na Praça dos Três Poderes. Assim, como legítimo representante do patrimonialismo brasileiro, ele tem raízes familiares em Sergipe, memória de vida em Brasília e se considera dono dessa terra e herdeiro da vontade e dos desejos desse povo com idade e pensamento parecidos com os seus. Se alguém perguntar a Rodrigo, ou a qualquer pessoa da sua faixa etária, quais as metas do plano de JK, as reformas de base de Jango ou até o que se comemora no dia 22 de abril, ouvirá evasivas e verá sorrisos alvares.

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Não é de espantar, portanto, que Rodrigo Rollemberg se oponha ao Memorial Liberdade e Democracia João Goulart. Sua intuição lhe sopra ao ouvido que a ideia vai contra os projetos existenciais de toda a sua patota, Um centro de questionamento, de reflexões, um fórum vivo e permanente na construção da cidadania participativa é tudo o que os donos de Brasília e do legado de JK e da ditadura não desejam. Memorial basta o JK, museu de lembranças burocráticas morto e enterrado no Eixo Monumental. Talvez quando estudante, Rodrigo o tenha visitado em excursão escolar; talvez não. Para ele, não faz a mínima diferença.

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