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Carlos Eduardo Araújo

Bacharel em Direito, mestre em Teoria do Direito e professor universitário

17 artigos

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A imprescinbilidade das humanidades na Era Bolsonaro

É preciso que sejamos arrancados da inércia que nos toma, nesta triste Era Bolsanaro, e reajamos e resistamos em defesa dos valores civilizatórios que nos constitui enquanto seres históricos, enquanto povo

(Foto: Alan Santos/PR)
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Começo por fornecer uma noção do que chamo de “humanidades”, para os fins a que me proponho neste texto. Vou tomar como ponto de partida o artigo “Para que Servem as Humanidades?”, da ensaísta e professora Leyla Perrone-Moisés, publicado em 30 de junho de 2002, no extinto Caderno “Mais”, da Folha de São Paulo. Abordando o que denominou, naquele momento, de um “sintoma de mal-estar internacional dos estudos humanísticos”, Perrone-Moisés estabelece um dos possíveis alcances do vocábulo “Humanidades”, do qual faz uso em seu artigo. Diz ela que se utiliza da palavra não no sentido restrito dos estudos das línguas e literaturas clássicas, mas no sentido geral dos estudos que têm o homem como objeto central de reflexão, notadamente nas suas vertentes filosóficas e literárias. A indagação, ouvida repetidas vezes, e que dá título ao artigo da professora, lhe incita uma resposta possível. Aludido questionamento está no cerne de uma visão utilitarista do mundo, que vem se impondo, com maior veemência, desde que o neoliberalismo assumiu sua hegemonia atual.

Leyla Perrone Moisés, professora da prestigiada Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, constata que “Desde a Idade Média até meados do século 20, os estudos humanísticos, sobretudo nas suas vertentes filosóficas e literárias, ocuparam um lugar de honra nas universidades. O próprio conceito de universidade implicava a aspiração a um conhecimento superior e integrativo que orientasse os caminhos dos homens. Os extraordinários avanços científicos e tecnológicos do século passado, recebidos não apenas como valiosos, mas também como prioritários, relegaram os estudos humanísticos a um lugar secundário”. [1]

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Perrone Moisés já identificava, há quase vinte anos atrás, o perigo que representava e permanece representando, o imiscuir-se da lógica do mercado no âmago da Universidade e de seu ensino. O Mercado, tal qual um midas, tudo que toca mercantiliza, ou seja, submete aos seus ditames utilitaristas, voltados ao lucro. Como denuncia Perrone Moisés “A globalização econômica e a consequente submissão de todos os países à lógica do mercado tendem agora a desferir o golpe definitivo contra esse tipo de estudo. Os tomadores de decisões - políticos, economistas, cientistas, tecnocratas - perguntam cada vez mais: para que servem as Humanidades? Submetidas ao critério de uma utilidade imediata, identificada com um bem-estar do homem baseado apenas no acesso às conquistas da ciência e da tecnologia, assim como no bom funcionamento do mercado, as humanidades passaram a ser vistas como um luxo, uma perfumaria, uma inutilidade”. [2] O desgoverno Bolsonaro, por meio de seu Ministro da deseducação, lançou recentemente o denominado programa FUTURE-SE, que tem como objetivo confesso transformar as Universidades em Empresas, que passariam a ser regidas pela sua lógica mercantil do neoliberalismo.

O quanto é atualíssimo o texto da professora Leyla Perrone-Moisés, infelizmente para nosso triste e subserviente país!!! O seu artigo parece escrito ontem, em dura crítica ao nefasto FUTURE-SE: “Concomitantemente, o enfraquecimento dos Estados e sua crescente racionalização econômica levaram a um questionamento do ensino público. A universidade pública, como todos os serviços fornecidos gratuitamente pelo Estado, começou a ser vista como economicamente inviável. À semelhança das universidades privadas, as universidades públicas passaram a ser pensadas como empresas e submetidas a uma avaliação de custo-benefício. Tendo sempre em vista essa lógica de custo-benefício e considerando a crescente falta de recursos públicos para manter as universidades gratuitas, os dirigentes universitários dos países que ainda mantêm esse "anacronismo" viram, como solução transitória, as parcerias com as empresas privadas”. [3]

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Vou seguir pela senda aberta pela ensaísta, amplificando, todavia, um pouco mais o alcance do termo para incluir no bojo dos estudos humanísticos, além das vertentes filosóficas e literárias, as artes em geral e ciências humanas, como a História, Sociologia e a Psicologia.

Por que as Humanidades são imprescindíveis, ou seja, essenciais, indispensáveis, necessárias e até mesmo obrigatórias para as sociedades humanas? Tentar responder a essa questão, fornecendo uma dentre tantas respostas possíveis, é o desafio a que me proponho neste artigo.

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Não podemos ser levianos ou tolos de imputar à era Bolsonaro a culpa exclusiva pela perda do protagonismo que as Humanidades desfrutam no mundo contemporâneo e não só no Brasil. Daí o uso por Leyla Perrone-Moisés da expressão “sintoma de mal-estar internacional dos estudos humanísticos”. Muitos intelectuais e estudiosos vêm, há muito tempo, seja no Brasil, na Europa ou nos EUA, denunciando um cenário hostil às Humanidades. O próprio texto da professora Leyla Perrone-Moisés, em que expõe suas inquietações, foi publicado, como dissemos linhas atrás, há quase duas décadas. Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que no desgoverno de Jair Bolsonaro formou-se a tempestade perfeita em oposição às Humanidades, somando-se obscurantismo, fundamentalismo religioso, anti-intelectualismo e anticientificismo, que nos faz confluir para um processo de assolamento, depredação e pilhagem do legado das Humanidades.

A professora Perrone-Moisés verifica que “as humanidades passaram a ser vistas como um luxo, uma perfumaria, uma inutilidade”. Essa temática, da inutilidade das Humanidades, foi brilhantemente abordada pelo professor italiano Nuccio Ordine, em seu instigante livro “A Utilidade do Inútil”. Explica-nos o professor Ordine que “O oximoro evocado pelo título deste livro merece ser esclarecido. A utilidade paradoxal à qual me refiro não é aquela em nome da qual os saberes humanísticos e, de modo mais geral, todos os saberes que não trazem lucro são considerados inúteis. Numa acepção muito mais universal, coloco no centro das minhas reflexões a ideia da utilidade daqueles saberes cujo valor essencial está completamente desvinculado de qualquer fim utilitarista. Há saberes que têm um fim em si mesmos e que – exatamente graças à sua natureza gratuita e livre de interesses, distante de qualquer vínculo prático e comercial – podem desempenhar um papel fundamental no cultivo do espírito e no crescimento civil e cultural da humanidade. Nesse sentido, considero útil tudo o que nos ajuda a nos tornarmos melhores”. [4]

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O professor Nuccio Ordine, em confluência com o que expõe Leyla Perrone-Moisés, vê com preocupação o fato de que a lógica do mercado, hoje tendo como instrumento de ação o neoliberalismo finaceirizado, possa interferir na seara das Instituições, tornando-se, na expressão de Pierre Dardot e Christian Laval, a “Nova razão do Mundo”. Diz o professor: “Mas a lógica do lucro solapa as bases das instituições (escolas, universidades, centros de pesquisa, laboratórios, museus, bibliotecas, arquivos) e disciplinas (humanísticas e científicas) cujo valor deveria coincidir com o saber em si, independentemente da capacidade de produzir ganhos imediatos ou benefícios comerciais”. [5] E, em conclusão, arremata o professor Ordine: “Eis a razão pela qual não é verdade que, em tempo de crise econômica, tudo é permitido. Pelas mesmas razões, também não é verdade que as oscilações do mercado possam justificar a destruição sistemática de tudo o que é considerado inútil com o rolo compressor da inflexibilidade e do corte linear das despesas”. [6]

O livro de Nuccio Ordine é um encantador manifesto, assinado por  Platão, Aristóteles, Montaigne, Kant, Shakespeare, Victor Hugo, Cervantes, Dickens, Baudelaire, García Lorca, Calvino, García Márquez ... , em defesa dos valores imateriais, vinculados à criativa humana, dos quais os estudos humanísticos formam o cerne e se constituem num legado estupendo e irrenunciável para toda a humanidade. Protesta o professor: “Nesse contexto brutal, a utilidade dos saberes inúteis contrapõe-se radicalmente à utilidade dominante que, em nome de um interesse exclusivamente econômico, está progressivamente matando a memória do passado, as disciplinas humanísticas, as línguas clássicas, a educação, a livre pesquisa, a fantasia, a arte, o pensamento crítico e o horizonte civil que deveria inspirar toda atividade humana. No universo do utilitarismo, um martelo vale mais que uma sinfonia, uma faca mais que um poema, uma chave de fenda mais que um quadro: porque é fácil compreender a eficácia de um utensílio, enquanto é sempre mais difícil compreender para que podem servir a música, a literatura ou a arte”. [7]

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A pregação humanista do professor Nuccio Ordine é um fascinante chamado para olharmos em direção ao que realmente importa: “Trata-se de questões fascinantes que poderiam nos levar muito longe. Por enquanto, sinto-me compelido a sublinhar a importância vital dos valores que não se podem pesar ou medir com instrumentos calibrados para avaliar a quantitas e não a qualitas. E, ao mesmo tempo, reivindicar o caráter fundamental daqueles investimentos que não trazem retorno imediato e muito menos financeiro”. [8]

A obra do professor Ordine é um afável e delicado convide ao saber desinteressado, que norteia os estudos humanísticos: “O saber apresenta-se por si mesmo como um obstáculo ao delírio da onipotência do dinheiro e do utilitarismo. É bem verdade que tudo se pode comprar. De parlamentares a juízes, do poder ao sucesso, tudo tem seu preço. Mas não o conhecimento: o preço a ser pago para conhecer é de outra natureza. Nem mesmo uma assinatura num cheque em branco poderá nos dar a permissão de adquirir mecanicamente aquilo que é fruto exclusivo de um esforço individual e de uma paixão que não se esgota. Resumindo, ninguém, senão nós mesmos, poderá realizar o cansativo percurso que nos permitirá aprender. Sem grandes motivações interiores, o título de maior prestígio adquirido com o dinheiro não trará nenhum verdadeiro conhecimento, não favorecerá nenhuma autêntica metamorfose do espírito”. [9]

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Em outra passagem, em que demonstra uma fé inabalável no saber, diz o autor: “Somente o saber pode ainda desafiar as leis do mercado. Eu posso compartilhar meus conhecimentos com os outros sem me empobrecer. Posso ensinar a um aluno a teoria da relatividade ou ler com ele uma página de Montaigne, dando vida a um milagroso processo virtuoso no qual se enriquece, ao mesmo tempo, tanto quem dá quanto quem recebe”. [10] 

Noutro trecho, dessa panaceia humanística, Nuccio Ordine faz uma ode ao maravilhoso supérfluo do conhecimento altruísta e abnegado: “É nas dobras daquelas atividades consideradas supérfluas que, de fato, podemos encontrar o estímulo para pensar um mundo melhor, para cultivar a utopia de poder atenuar, se não eliminar, as injustiças que se propagam e as desigualdades que pesam (ou deveriam pesar) como uma pedra em nossa consciência. Especialmente nos momentos de crise econômica, quando as tentações do utilitarismo e do egoísmo mais sinistro parecem ser a única estrela e a única tábua de salvação, é preciso compreender que exatamente aquelas atividades que não servem para nada podem nos ajudar a escapar da prisão, a salvar-nos da asfixia, a transformar uma vida superficial, uma não vida, numa vida fluida e dinâmica, numa vida orientada pela curiositas em relação ao espírito e às coisas humanas”. [11]

Eugène Ionesco, um dos mais aclamados dramaturgos do teatro do absurdo, provocativamente diz que “Se é absolutamente necessário que a arte sirva para qualquer coisa, eu direi que deve servir para ensinar às pessoas que existem atividades que não servem para nada e que é indispensável que elas existam”. [12] Em outro excerto Ionesco pondera: “Se não se compreende a utilidade do inútil, a inutilidade do útil, não se compreende a arte; um país que não compreende a arte é um país de escravos ou de robôs, um país de pessoas infelizes, de pessoas que não riem nem sorriem, um país sem espírito; onde não há humor, não há riso, há cólera e ódio”. Esta passagem vai ao âmago do espírito que anima o bolsonarismo.

Rob Riemen, ensaísta e filósofo holandês, nos ensina que “Assim como o amor, a cultura não tem o poder de constranger. Não oferece garantias. Não obstante, a única possibilidade de conquistar e de defender nossa dignidade de seres humanos nos é oferecida pela cultura e pela educação livre.” [13]

Dentre os diversos saberes que compõem o campo das Humanidades, devemos reservar um lugar de destaque para a Literatura. A literatura possibilita a análise de uma grande variedade de temas ou assuntos por meio da trama que engendra. Ela, através da sensibilidade e argúcia do escritor, nos permite explorar os interstícios de uma gama indefinida de situações. Possibilita que adentremos pelos labirintos mentais de uma personagem e coloca-nos em face de seus dramas pessoais, sociais, políticos ou religiosos que, talvez jamais tenhamos a oportunidade de perscrutar ou experenciar no curso de nossas existências. Pode, por outro lado, fornecer um lenitivo para agruras do sombrio presente.

O escritor e crítico literário francês Roland Barthes, em aula primorosa, pronunciada dia 7 de janeiro de 1977, na vetusta instituição de ensino superior francesa Collège de France, fez uma defesa veemente da Literatura, nestes temos: “A literatura assume muitos saberes. Num romance como Robinson Crusoé, há um saber histórico, geográfico, social (colonial), técnico, botânico, antropológico (Robinson passa da natureza à cultura). Se, por não sei que excesso de socialismo ou de barbárie, todas as nossas disciplinas devessem ser expulsas do ensino, exceto uma, é a disciplina literária que devia ser salva, pois todas as ciências estão presentes no monumento literário. É nesse sentido que se pode dizer que a literatura, quaisquer que sejam as escolas em nome das quais ela se declara, é absolutamente, categoricamente realista: ela é a realidade, isto é, o próprio fulgor do real. Entretanto, e nisso verdadeiramente enciclopédica, a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso. Por um lado, ele permite designar saberes possíveis —  insuspeitos, irrealizados: a literatura trabalha nos interstícios da ciência: está sempre  atrasada ou adiantada com relação a esta, semelhante à pedra de Bolonha, que irradia  de noite o que aprovisionou durante o dia, e, por esse fulgor indireto, ilumina o  novo dia que chega”. [14]

O mestre Antonio Cândido faz uma enfática defesa da Literatura, qualificando-a como um dos direitos humanos essenciais, ao lado do direito à vida, à liberdade, à moradia etc. São estimulantes suas palavras: “Alterando um conceito de Otto Ranke sobre o mito, podemos dizer que a literatura é o sonho acordado das civilizações. Portanto, assim como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura”. [15]

E, mais adiante continua Cândido: “Por isso é que nas nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas”. [16]

Na mesma nota, da sensibilidade literária, toca o professor Nuccio Ordine: “... a literatura (mas o mesmo discurso também poderia valer para os outros saberes humanísticos e para aqueles saberes científicos livres de um imediato objetivo utilitarista) pode, em vez disso, assumir uma função fundamental, importantíssima: exatamente por ser imune a qualquer aspiração a lucros, poderia colocar-se, por si mesma, como forma de resistência aos egoísmos do presente, como antídoto à barbárie da utilidade, que chega mesmo a corromper as nossas relações sociais e os nossos afetos mais profundos. Sua própria existência, de fato, chama a atenção para a gratuidade e para o desinteresse, valores considerados quase contracorrente e fora de moda”. [17]

E complementa Ordine: “Não nos damos conta, de fato, de que a literatura e os saberes humanísticos, a cultura e a educação constituem o líquido amniótico ideal no qual podem se desenvolver vigorosamente as ideias de democracia, liberdade, justiça, laicidade, igualdade, direito à crítica, tolerância, solidariedade e bem comum”. [18] Como cada um desses valores, arrolados pelo autor, estão ameaçados nestes tempos sombrios em que a extrema direita impõe suas pautas retrógradas e reacionárias sob o desgoverno Bolsonaro.

Montaigne, que se isolou na torre de seu castelo para estreitar o convívio com os autores da antiguidade, pelos quais nutria um arrebatado afeto. Acabou por nos legar uma das obras que mais tocam nossa sensibilidade literária e filosófica. Seus famosos “Ensaios” inauguram um gênero e enriqueceram, sobremaneira, o pecúlio intelectual da humanidade. Constituem uma das mais célebre e aprazíveis homenagens à inutilidade das artes. Em uma de suas passagens diz que “É estranho que em nosso tempo a filosofia não seja, até para gente inteligente, mais que um nome vão e fantástico, sem utilidade nem valor”. Em outro trecho, dedicados aos livros, filosofa: “Não busco nos livros senão o prazer de um honesto passatempo; e nesse estudo não me prendo senão ao que possa desenvolver em mim o conhecimento de mim mesmo e me auxilie a viver e morrer bem, essa meta para onde deve correr o meu corcel” [19]

Giacomo Leopardi, notável poeta e ensaísta italiano, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, mostra todo o seu desagrado com a situação de desapreço que, no seu entender, se devotava à Literatura: “Enfim começo a ficar enojado com o soberbo desprezo que se afirma de tudo o que é belo e de toda literatura: não consigo entender especialmente que a grandeza do saber humano esteja em entender a política e a estatística. De fato, considerando filosoficamente a inutilidade quase perfeita dos estudos realizados desde a época de Sólon para alcançar a perfeição dos estados civis e a felicidade dos povos, sinto vontade de rir deste furor pelos cálculos e bizarrices políticas e jurídicas. … Disso decorre que o deleitável me parece mais útil que todas as utilidades, e a literatura mais verdadeira e certamente útil que todas essas disciplinas [a política e a estatística] áridas”. [20]

O poeta e crítico literário francês Théophile Gautier destila seu sarcasmo ao se dirigir aos utilitaristas de seu tempo: “Não, seus imbecis, não, seus cretinos e papudos, um livro não faz uma macarronada; um romance não é um par de botas sem costuras; um soneto não é um jorro em fluxo contínuo; uma peça dramática não é uma ferrovia: todas essas coisas soberanamente civilizadoras e que fazem a humanidade marchar pela estrada do progresso”. [21]

Como nos informa o professor Nuccio Ordine, o poeta Gautier, acusado de escrever artigos indecentes, responderá de maneira brilhante às ofensas com uma linguagem irônica, desdenhosa, cheia de metáforas e alusões. Um panfleto pirotécnico no qual o autor, além da polêmica ocasional, expressa sua poética, baseada essencialmente numa ideia de arte e de literatura livres de qualquer condicionamento moral e utilitarista: “É realmente preciso rir de se esborrachar diante dos comentários dos senhores utilitaristas republicanos ou sansimonianos. … Há duas espécies de utilidade, o sentido desta palavra é sempre relativo. O que é útil para um não o é para outro. Vós sois sapateiros, eu sou poeta. Para mim é útil que meu primeiro verso rime com o segundo. Um rimário me é muito útil, enquanto vós sabeis o que fazer para colocar uma sola nova num velho par de botas, e é necessário dizer que um trinchete não me ajudaria muito para compor uma ode. Depois disso, objetareis que um sapateiro é superior a um poeta, e que é mais fácil viver sem o segundo que o primeiro. Sem pretender denegrir a nobre profissão do sapateiro, que louvo como o trabalho do monarca constitucional, confessarei humildemente que preferiria ter um sapato descosido que um verso mal rimado, e que para mim as botas são definitivamente menos importantes que as poesias”. [22]

Não posso me furtar a colar aqui mais um belíssimo trecho de um lírico Gautier: “Nada do que é belo é indispensável à vida. Se as flores fossem eliminadas, o mundo não seria materialmente afetado; mas quem gostaria que não houvesse mais flores? Com todo prazer, eu renunciaria antes às batatas que às rosas, e acredito que somente um utilitarista poderia ser capaz de destruir um canteiro de tulipas para plantar repolhos”. [23]

Como nos diz o professor Nuccio Ordine, Gautier está convencido de que, para fazer frente a essa trivialidade muito difundida, não basta uma reação delicada. Ao contrário, aproveitando seu estilo paradoxal, ele aprofunda o ataque ao utilitarismo, tecendo um elogio provocador e radical ao inútil: “Verdadeiramente belo é apenas aquilo que não pode servir para nada; tudo o que é útil é feio, porque é a expressão de uma determinada necessidade, e as necessidades humanas são ignóbeis, desprazerosas, como sua natureza miserável e doentia. O lugar mais útil de uma casa é a latrina”. [24]

O escritor e filósofo romeno Emil Cioran, um dos mais ferinos e notáveis ensaístas contemporâneo argumenta: “Mas – não obstante a consciência de que nenhuma criação literária ou artística está vinculada a um fim – não resta dúvida de que, no inverno da consciência que estamos vivendo, os saberes humanísticos e a investigação científica livre de qualquer utilitarismo, todos os luxos considerados inúteis, têm o dever cada vez maior de alimentar a esperança, de transformar a sua inutilidade num utilíssimo instrumento de oposição à barbárie do presente, num imenso celeiro para preservar a memória e os eventos injustamente destinados ao esquecimento”. [25]

Em fins dos anos 90, Renato Janine Ribeiro, professor de Filosofia da Universidade de São Paulo ex-Ministro da Educação do Governo Dilma, apresentou uma proposta para a criação, na USP, de um Curso de Humanidades. Ela foi enriquecida pela colaboração de vários outros professores, assim como foi destinatária de algumas críticas. No início dos anos 2000 a proposta tomou as feições de um “Projeto”, formalmente apresentado à Reitoria da USP, como um “Curso Experimental”. E, no aludido “Projeto”, Janine Ribeiro explicava em que sentido emprega a expressão “Experimental”, dentre outros possíveis significados: “Queremos propor algo pouco usual, raro na administração pública e na universidade: um curso que seja experimental por constituir um caldo de cultura para, justamente, a cultura. Um curso no qual o acesso ao conhecimento será experimentado. E, por isso, o novo curso jamais deverá deixar de constituir uma experiência”. [26] Um curso de Humanidades que preparasse os alunos para um mundo em permanente e frenética mudança, no qual é preciso abrir mais espaços de experimentação, testando caminhos novos. Um curso, que nas palavras de Renato Janine Ribeiro, possibilitasse “a formação de uma base sólida o bastante para que, em meio às mudanças, o aluno saiba navegar”. Por motivos que desconheço, mencionado projeto não vicejou.

Na perspectiva de Janine Ribeiro, as Humanidades teriam o condão de preparar os alunos para uma vida de tempestades. Sendo, assim, uma das melhores bússolas a conduzi-los num mar revolto de incertezas e inseguranças, que caracterizam nosso mundo líquido, no feliz “insith” de Zygmunt Bauman, seria dada pelo conhecimento dos clássicos, “não porque eles deem lições imortais, invariáveis, de moral, o que não tem cabimento ou sentido; mas porque, na sua diversidade, permitem exercitar o espírito com tal liberdade diante das injunções do cotidiano que, mudando este, a mente saiba encontrar um novo nicho, embora tão provisório quanto o anterior”. [27]

A ideia que nutre o pensamento iluminista de Janine Ribeiro é a de que “os clássicos, longe de ancorarem seus leitores na repetição das mesmas coisas, os capacitem a lidar com as mudanças melhor do que um ensino apressado, o qual apostaria na espuma da impermanência. Mesmo as bússolas podem enlouquecer quando um ímã aparece por perto: nem sequer elas dão uma garantia, uma segurança, uma certeza – bens de que dispomos cada vez menos”. [28]

Os clássicos têm suas exigências para serem apreciados e assimilados. Não se rendem facilmente a simples gracejos ou superficiais galanteios. Eles demandam tempo, leituras detidas e aprofundadas, não sucumbindo às primeiras e superficiais investidas do neófito aspirante a conhecê-los e a com eles se regozijar. No mundo distópico e adverso da era Bolsonaro, as Humanidades estão sob permanente risco. Na pedagogia bolsonariana, que ora busca se impor, há que se ir diretamente aos assuntos e conhecimentos para torná-los mais leves e palatáveis, ou na novilíngua de Bolsonaro, “tem de suavizar aquilo”, evitando-se “um montão de amontoado de muita coisa escrita”. 

A novilíngua consiste, na ficção orwelliana, em um sistema linguístico elaborado pelos detentores do poder que, quando colocada em uso, impediria a expressão de opiniões contrárias ao regime totalitário instalado e a existência de outras línguas. “A novilíngua era desenvolvida não pela criação de novas palavras, mas pela "condensação" e "remoção" delas ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o escopo do pensamento. Uma vez que as pessoas não pudessem se referir a algo, isso passa a não existir. Assim, por meio do controle sobre a linguagem, o governo seria capaz de controlar o pensamento das pessoas, impedindo que ideias indesejáveis viessem a surgir”. [29] Todavia, esse intento cheira a algo muito elaborado para que possamos creditar a Bolsonaro e seu séquito de néscios. O mais certo, no entanto, é que essa camarilha, que ora usurpa o poder, age guiada por razões que a própria razão desconhece.

Ainda mais uma vez nos socorremos das brilhantes palavras do crítico literário Nuccio Ordine: “No entanto, não é possível conceber qualquer forma de educação sem os clássicos. O encontro entre um professor e um aluno sempre pressupõe um “texto” do qual partir. Sem esse contato direto com os textos, os estudantes terão dificuldade de amar a filosofia ou a literatura e, ao mesmo tempo, os professores não terão a oportunidade de tirar o máximo partido de suas qualidades para estimular a paixão e o entusiasmo dos seus alunos. Acabar-se-á por romper definitivamente o fio que havia entretecido a palavra escrita e a vida, aquele círculo que havia permitido aos jovens leitores aprender com os clássicos a ouvir a voz da humanidade antes mesmo que, com o tempo, a própria vida os ensinasse a compreender melhor a importância dos livros de que nos nutrimos”. [30]

Segundo o Ministro da deseducação, Abraham Weintraub, as universidades do Nordeste, por exemplo, não deveriam oferecer cursos de sociologia e filosofia. Para ele, as unidades de ensino deveriam priorizar o ensino de agronomia, "em parceria com Israel”. Essa é a visão que prevalece e encontra respaldo em todo o histriônico estafe governamental, que olha com um misto de desdém, medo e desconfiança a área de humanidades. Uma hoste de pessoas ressentidas, dotadas de graves déficit cognitivo e um enorme complexo de inferioridade. Não obstante, menoscabo que nutrem pelas Humanidades, não se dá sem razão, uma vez que delas emerge o espírito crítico e contestatório, tão nocivo às ditaduras e aos regimes autoritários.

Até agora os inimigos das Humanidades se contavam entre os utilitaristas prosaicos, aferrados ao terra-a-terra. Incapazes de abstração e absolutamente estéreis e virgens no plano das ideias e da imaginação, como o personagem de Charles Dickens, em seu romance “Tempos Difíceis”, o Sr. Thomas Gradgrind, para quem só os fatos importavam: “Ora, eis o que quero: Fatos. Ensinem a estes meninos e meninas os Fatos, nada além dos Fatos. Na vida, precisamos somente dos Fatos. Não plantem mais nada, erradiquem todo o resto. A mente dos animais racionais só pode ser formada com base nos Fatos: nada mais lhes poderá ser de qualquer utilidade. Esse é o princípio a partir do qual educo meus próprios filhos, e esse é o princípio a partir do qual educo estas crianças. Atenha-se aos Fatos, senhor!” [31] O cenário em que se dava essa veemente exortação aos fatos era uma modesta sala de aula, de uma frugal cidadezinha no interior da Inglaterra. 

Contudo, o cenário atual, no qual florescem os adversários das Humanidades, no Brasil e no mundo, é um tanto mais desolador, temerário e hostil. Porque, hodiernamente eles, além de serem dotadas dos mesmos predicativos, até agora ostentados historicamente, ou seja, um espírito trivial, vulgar e utilitário, são ao mesmo tempo e, por paradoxal que isso seja, lunáticos, conspiracionistas, maníacos, apalermados e contrafactuais. São dotados de um ingrediente sui generis: uma imaginação perversa e deletéria, que corrompe e distorce todo o real à sua volta. Assim, entre nós, o bolsonarismo é formado por detratores e inimigos das Humanidades, que são exímios criadores, divulgadores e consumidores de inverdades. O que trás um elemento de complexificação em detrimentos dos estudos humanísticos.

O ex-Reitor da Universidade de São Paulo, Jacques Marcovitch, convidado a participar, em 2001, pela Universidade Complutense de Madrid, das “Jornadas sobre Iberoamérica y Espanã”, cujo tema debatido foi “La Universidad en la sociedad del siglo XXI”, proferiu uma conferência, da qual, ainda hoje, podemos colher ensinamentos que merecem nossa reflexão e nos dão um pista para percebermos a importância dos estudos humanísticos:  “Devemos não apenas contemplar a escola, mas o ambiente externo. Há, do lado de fora, um mundo pouco receptivo à contribuição de filósofos, historiadores, sociólogos e outros especialistas formados pelas Humanidades e que têm a academia como espaço quase único de trabalho. Além do campus, um ambiente pragmático e dominado pela mais dura materialidade prefere os egressos das escolas profissionalizantes. Ocorre que lá fora não existe apenas a demanda empresarial. Existe o Estado. E o espaço do Estado, que tantos querem mínimo, não pode encolher-se a ponto de não abrigar estudiosos que são fundamentais no equacionamento de políticas públicas. E cabe às academias, em seu diálogo com os governos, alertá-los para este aspecto da crise das Humanidades. Se esta elite intelectual, permanentemente debruçada sobre os problemas sociais, não decifrar o seu enigma, quem o fará? Não será certamente a tecnoburocracia com a sua visão nublada pelo viés político-partidário. Tampouco a mídia, com a sua abordagem imediatista, centrada no quadro aparente, sem buscar nuances, causas, raízes e fatores somente percebidos pelos que fazem desta problemática um objeto permanente de estudos”. [32]

Pelas leituras que empreendemos até aqui, podemos inferir que os estudos das humanidades não devem ser condicionados pela lógica utilitarista, que se depreende da indagação “Para que servem as Humanidades?”. O que lhes confere toda a sua beleza e importância, como vimos pela voz de diferentes escritores e pensadores, está nesta sua aparente inutilidade. Outorgar, a priori, determinados e delimitados objetivos a humanidades, seria o mesmo que macular sua essência.

Contudo, há tarefas nobres que impõem, para sua consecução, o inexcedível concurso dos estudos humanísticos. Estamos a viver, na Era Bolsonaro, um apagão na Administração Pública Federal. Todos apontam a absoluta ausência de projetos para o país, que passa por uma aguda crise econômica, social, política e ética. Na verdade, o projeto que mais facilmente se vislumbra é aquele relacionado ao desmonte do Estado, no qual todas as empresas públicas, incluindo-se Universidades, Bancos Públicos e até a Casa da Moeda, estão sendo negociadas em um balcão de negócios, que ocorre a sorrelfa e furtivamente. O Brasil está à venda. 

Todavia, como deixa entrever o ex-Reitor da Universidade de São Paulo, Jacques Marcovitch, em trecho reproduzido acima, os Estados, no mundo contemporâneo, têm como uma de suas principais atribuições a elaboração de políticas públicas. No entanto, no ultraliberalismo que vem sendo imposto ao país pelo venal entreguíssimo do Ministro Paulo Guedes, em atenção a interesses internacionais, é o completo abandono de tão importante e essencial atuação estatal, na confecção de aludidas políticas públicas. Todavia, elas são formuladas no ambiente acadêmico ou por egressos da academia, num esforço coletivo de pensamento, envolvendo participantes de todas as áreas do conhecimento, e não apenas os chamados especialistas. Nas estratégias do Estado moderno para a saúde, educação, defesa do meio ambiente, trabalho, segurança ou qualquer outra demanda social, é indispensável o concurso das Humanidades, tendo em vista a sua noção abrangente do conjunto da sociedade e das suas carências principais.

Há várias áreas de atuação, para as quais a contribuição das Humanidades se revela imprescindível, como os estudos realizados sobre o fenômeno da violência urbana, práticas de cooperativismo entre cidadãos desempregados, políticas habitacionais, programas de inclusão social, o que abre caminhos para que a população encontre meios próprios de enfrentar a atual crise do trabalho e da crescente exploração social, ainda reinantes em nosso país.

Todas as Nações, mundo afora, que vivenciaram situações sociais semelhantes a que vivenciamos, fizeram investimentos massivos em educação, com destaque para as áreas de Humanidades, responsável pela concepção, criação e estruturação de uma massa crítica que pensa a sociedade e seus dilemas.

Como preconiza Nuccio Ordine: “Seria preciso multiplicar as escolas, as cátedras, as bibliotecas, os museus, os teatros, as livrarias. Seria preciso multiplicar os espaços de estudo para as crianças, os espaços de leitura para os homens, todas as organizações, todas as instituições nas quais se medita, nas quais se educa, nas quais se acolhe, nas quais se aprende algo, nas quais nos tornamos melhores; numa palavra, seria preciso fazer entrar a luz no espírito do povo; porque é devido às trevas que ele se perde”. [33]

É preciso que sejamos arrancados da inércia que nos toma, nesta triste Era Bolsanaro, e reajamos e resistamos em defesa dos valores civilizatórios que nos constitui enquanto seres históricos, enquanto povo. Senão, como nos adverte Nuccio Ordine: “Nesse ritmo, como num progressivo passar de esponja, acabaremos por apagar a memória, até chegarmos à amnésia total. Assim a deusa Mnemosine, mãe de todas as artes e de todos os saberes na mitologia greco-romana, será obrigada a deixar a Terra para sempre. E com isso, infelizmente, desaparecerá dentre os seres humanos todo desejo de interrogar o passado para compreender o presente e imaginar o futuro. Teremos uma humanidade sem memória, que perderá completamente o sentido da própria identidade e da própria história”. [34]

Carlos Eduardo Araújo – Professor Universitário e Mestre em Teoria do Direito (PUC – MG)

Notas:

[1] PERRONE-MOISÉS, Leyla. Para que Servem as Humanidades. Folha de São Paulo, Caderno Mais, 30 jun. 2002.

[2] PERRONE-MOISÉS, Leyla. Para que Servem as Humanidades. Folha de São Paulo, Caderno Mais, 30 jun. 2002.

[3] PERRONE-MOISÉS, Leyla. Para que Servem as Humanidades. Folha de São Paulo, Caderno Mais, 30 jun. 2002.

[4] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[5] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[6] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[7] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[8] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[9] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[10] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[11] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[12] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[13] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[14] BARTHES, Roland. Aula. Cultrix, 1980.

]15] CANDIDO, Antonio. O Direito à Literatura. In: Vários Escritos, Duas Cidades, 3ª edição, 1995.

]16] CANDIDO, Antonio. O Direito à Literatura. In: Vários Escritos, Duas Cidades, 3ª edição, 1995.

[17] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[18] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[19] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[20] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[21] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[22] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[23] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[24] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[25] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[26] RIBEIRO, Renato Janine. Humanidades: Um Novo Curso na USP. Edusp, 2001.

[27] RIBEIRO, Renato Janine. Humanidades: Um Novo Curso na USP. Edusp, 2001.

[28] RIBEIRO, Renato Janine. Humanidades: Um Novo Curso na USP. Edusp, 2001.

[29] Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Novil%C3%ADngua. Acesso em: 15 jan 2020.

[30] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[31] DICKENS. Charles. Tempos Difíceis. Boitempo, 2014.

[32] MARCOVITCH, Jacques. Os Desafios da área de Humanidades no Brasil e no Mundo. In: Estudos Avançados 16 (46), 2002.

[33] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

[34] ORDINE, Nucci. A Utilidade do Inútil. Zahar, 2016.

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