A incapacidade gerencial dos sistemas privados de saúde
A burguesia e a pequena burguesia procuram sempre sair do uso dos sistemas públicos pagando planos de saúde, escolas privadas e segurança particular para se manter distanciada dos problemas que mais os afligem, porém quando surgem situações excepcionais eles verificam que pagaram por muito tempo engodos que lhes mostram que o Estado tem condições melhores do que sistemas privados para situações de crise.
No estado do Rio Grande do Sul há uma situação que prova de forma inequivocamente isso, a pandemia!
O governo do estado desde o início da pandemia disponibilizou num site da secretaria da saúde mapas que mostram a ocupação de leitos públicos e privados para os doentes do Covid-19 e de leitos de UTI também públicos e privados.
Desde que as taxas de ocupação de leitos atingiram patamares próximos ou ultrapassando a saturação fica claro que as pessoas que pagam religiosamente seus planos privados de saúde estão PERFEITAMENTE DESASSISTIDOS, atenção, não errei na digitação os fantásticos planos de saúde que cobram bem mais que o governo despende com o SUS. A despesa diária dos três níveis de governo com o SUS é de R$ 3,83, o que por mês corresponderia R$115,00 por mês, qualquer plano individual de saúde razoável custa entre R$300,00 para crianças e mais do que R1.600,00 para quem tem mais de 59 anos, como a média de idade da população brasileira está em torno da faixa de 30 a 59 anos isso corresponde um valor mais ou menos R$600,00, ou seja, aproximadamente 5,2 vezes o que o Estado brasileiro gasta com saúde para toda a população.
Mas voltemos a pandemia. Quando essa cai com força sobre a população em geral, principalmente nos mais pobres que não tem como fazer isolamento social ou teletrabalho, quem exatamente está despreparado para atender os doentes? O lógico seria o setor público que tem uma despesa cinco vezes menor do que os planos privados de saúde dispõe.
No estado do Rio Grande do Sul que possui uma rede privada bem numerosa de hospitais privados, fica claro que esses hospitais são utilizados para procedimentos de baixa e média complexidade, pois a imensa maioria desses hospitais NEM UTIs possuem. Exato, se quisermos fazer uma cirurgia cardíaca ou outro procedimento complexo ou teremos que recorrer a uma meia dúzia de hospitais privados situados na capital (Porto Alegre) ou utilizaremos uma rede bem mais robusta de hospitais públicos, pois hospitais privados de preços altíssimos (não estou falando de alta qualidade, mas sim de preço alto) teremos um atendimento de hotelaria excelente porém sem um mínimo quadro técnico de intensivistas e um número extremamente limitado de leitos de UTI.
No caso do interior do Rio Grande do Sul excetuando uma quantidade de hospitais privados que se contam nos dedos só teremos centros de excelência nas Escolas de Medicina públicas onde procedimentos de mais alta complexidade são realizados com êxito.
Resumindo, se no lugar dos mais ricos pagarem saúde privada, ensino privado, segurança privada, pagassem mais impostos seria possível ter esses serviços públicos de excelente qualidade para TODOS, saúde, educação e segurança, pois o que falta para eles é financiamento, pois ao exatamente ao contrário do que os liberais falam, os sistemas vitais para a nossa existência são mais bem geridos pelo estado. Agora se alguém for falar que a iniciativa privada gere melhor uma padaria ou restaurante, aí estou aberto à discussão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

