A ira dos inocentes
Vivemos a violência no cotidiano; mas não só isso. Vivemos sua cultura, seus valores, hábitos, tradições, símbolos, vocabulários, afinidades, identidades e compreensões. Não é qualquer coisa. Nós somos feitos para matar. O latifúndio nos ensina isso; as oligarquias, o agronegócio, as condições de trabalho, a degradação ambiental e a situação lastimosa dos pobres desse Cerrado
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Sobre o horror de Goiânia onde uma criança atira e mata dois colegas de sala-de-aula é preciso considerar que as justificativas em torno do "bullying" não são apenas frágeis mas o seu pior é que escondem os reais motivos da explosão de violência acontecida em uma escola particular na periferia da cidade.
Fugindo de simplismos em torno do torvelinho culpado/inocente mas buscando mesmo compreender as raízes de tamanha agressão só podemos nos deparar na tradição de violência que marca a sociabilidade goiana e brasileira e que neste preciso momento, está elevada para níveis absolutamente impressionantes.
Vamos ao ponto! Goiânia é uma das cidades mais violentas do mundo! Isso mesmo! Do mundo! A ong mexicana "Seguridad, Justicia y Paz" levantou a partir de 2015, que a capital dos goianos está entre as cinquenta cidades que mais matam no planeta. Ocupa a posição de número "29". São 847 homicídios para uma população metropolitana de 1.952.607 habitantes.
Goiás, por sua vez, é o quarto estado mais sanguinário do país (Macroplan/Revista Exame); o levantamento, realizado durante o curso de 2014/2015 levou em consideração a taxa de homicídios e a quantidade de óbitos nos acidentes de trânsito. Situação pior apenas no Mato Grosso, Alagoas e Ceará.
Pois bem... Em que pese a histeria da mídia cabocla, Goiás é um grande moedor de gente! Aqui se mata com uma facilidade assustadora. O pior é que a imensa maioria das mortes se dá por motivos absolutamente fúteis. É alguém que morre porque olhou para a namorada do outro; porque o carro deste arranhou no carro alheio; porque a menina decidiu deixar o namorado e por aí o sangue escorre. É assustador.
Vivemos a violência no cotidiano; mas não só isso. Vivemos sua cultura, seus valores, hábitos, tradições, símbolos, vocabulários, afinidades, identidades e compreensões.
Não é qualquer coisa. Nós somos feitos para matar. O latifúndio nos ensina isso; as oligarquias, o agronegócio, as condições de trabalho, a degradação ambiental e a situação lastimosa dos pobres desse Cerrado.
Nós somos assassinos em potencial! Na verdade, me admira como a violência não seja maior ainda dado o nível de decadência dessa "sociedade". Não foi o "bullying"! A coisa é mais ampla e muito mais complexa. Aqueles tiros em uma escola e entre crianças é apenas a parte visível de um fenômeno societário edificado na relação público/privada e que expressa os próprios níveis e patamares de coesão e convivência em que estamos afundados.
Demonstra os males escancarados de uma sociedade policialesca, militarizada, cheia de pretorianos (GPT's, ROTAN's, ROTAS etc.) à cata de cadáveres negros e da periferia. Nada além disso! Queria ver eles pegando os "barões", os "donos" da sociedade. Preto, pobre e puta... É fácil!
É a aberta decadência de um modelo de sociabilidade que nada ou muito pouco tem a oferecer em matéria de futuro, utopia social ou alternativa convival. É um malogrado arranjo societário que optou por se estruturar a partir do império definitivo da mercadoria e de seus acúmulos infinitos sob a salvaguarda de grupos militares alienados por uma elite perversa e que decidiu fazer da vida nacional uma grande arena onde sequer crianças são poupadas.
Lamentavelmente, preciso discordar... Não foi o bullying! Antes fosse!
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