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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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A Justiça no banco dos réus

"Que esse tempo de mentiras, mesmo com o facebook lutando contra a verdade, se acabe na real e justa vontade popular. Ela pode levar porrada, mas um dia levanta e sai gritando por aí novamente", escreve o cartunista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia 

Das várias conversas para boi dormir que ouvimos a vida toda, uma delas é a de que os Estados Unidos da América são a terra da liberdade e da democracia. Os dados da realidade desmentem essas afirmativas. Agora mesmo a denúncia de que Mark Zuckerberg, o papa do facebook favorece sites de direita é apenas uma dessas evidências. Outra delas você pode assistir na Netflix e se chama Os 7 de Chicago. O filme, dirigido por Aaron Sorkin e com vários excelentes atores, entre eles Sacha Baron Cohen que ficou famoso com Borat e Eddie Redmayne que viveu a Garota Dinamarquesa e o cientista Stephen Hawking, além de ser um ótimo filme de tribunal é uma denúncia nua e crua deste sistema que vem enganando o mundo há tanto tempo.  

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Os Estados Unidos são a terra da liberdade e da livre iniciativa se você tiver dinheiro. Os negros, os pobres, os muçulmanos e os latinos são os mais perseguidos e os que têm menos chance de dar certo. Claro que toda regra tem exceções e nesse caso a exceção fica com os mais tenazes que conseguiram derrubar as inúmeras barreiras que apareciam pelo caminho. Mas isso aconteceria em qualquer lugar do mundo, até aqui no Brasil onde vivemos uma suposta democracia baseada no mérito e carregada de preconceitos.  

O filme em questão narra os episódios em torno da convenção do partido democrata americano em 1968 que antecedeu à vitória de Richard Nixon, candidato republicano nas eleições. Seu opositor era Hubert Humphrey, que não oferecia uma alternativa de fato à escalada da guerra do Vietnam depois da passagem de Lyndon Johnson pelo governo. Humphrey, ex vice de Johnson, era um pacato fantoche de um partido democrata ainda abalado pelas mortes de John Kennedy em 63 e a de seu irmão Bob em 68. O partido tentava sobreviver e os militantes contrários à guerra do Vietnam e  pro direitos civis decidiram marchar a Chicago justamente diante da convenção democrata para demonstrar suas posições.  

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O resultado desse confronto se tornou uma das maiores violações dos direitos civis nos EUA. Foi um espetáculo de violência e covardia e acabou por instaurar, como consequência, um governo Nixon que só parou com o escândalo de Watergate, anos depois e um recrudescimento da guerra do Vietnam até 1975. Os jovens mortos na guerra se acumulavam na consciência do americano médio e nada faziam na cabeça pervertida de quem dominava o poder. Os supremacistas brancos, os direitistas radicais, os neonazistas e todos aquele que desde aquela época já queriam fazer a América grande de novo.  

Quando penso em hoje em dia, tanto lá como aqui, vejo que a História é uma sessão do Vale a Pena Ver de Novo, sobretudo para não esquecermos o que aconteceu.

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A democracia americana, a mesma que entre seus presos 75% são negros, que não tem regras para as relações de trabalho, que os planos de saúde são caros e limitados e que as eleições são o sistema mais complicado e menos democrático possível é a maior história para boi dormir que existe.

Sete personalidades da oposição americana na época, entre eles Abbey Hoffman, vivido por Sacha Baron Cohen, famoso ativista político, Tom Hayden também ativista que se tornou deputado democrata e marido de Jane Fonda por alguns anos, Jerry Rubin, outro famoso ativista e mais alguns nomes de peso da oposição e do movimento jovem e um líder dos Panteras Negras, Bobby Seale,  viraram alvo preferencial daquela justiça parcial e comprometida. Hoffman insistia que aquele era um julgamento político, apesar de alguns dos envolvidos como réus não acreditarem que isso fosse possível na América. Santa ingenuidade.  

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Foi um julgamento político, tendencioso e despudorado onde até um ex- procurador da república foi desmoralizado por declarar na corte que a culpa tinha sido do sistema através da Prefeitura de Chicago que se negou a reconhecer o direito das manifestações pacíficas. A ideia era justamente essa. Manifestações pacíficas que envolviam concertos de rock, performances, sexo ao ar livre como eles mesmo diziam e protesto diante da convenção democrata para denunciar a guerra, o racismo e a falta de liberdade real. Foi um massacre e os 7 de Chicago viram símbolo dessa hipocrisia que é a justiça de cativeiro digamos assim, plagiando meu amigo Gustavo Conde. No filme até um dos procuradores é a cara do Deltan Dallagnol. Mera coincidência, mas a História também é feita de coincidências.

Dá arrepios assistir certas manobras, certas orquestrações armadas pelo poder, no caso a direita republicana e extremista americana sem relaciona-las com o nosso país. Aqui também vivemos hoje uma judicialização do poder onde todos os fatos políticos são julgados e nesse exagero de data venias perdemos o senso das coisas confundindo muitas vezes o que é legal com o que é justo. O julgamento de Chicago chegou ao extremo de manter na corte o líder negro Bobby Seale amordaçado e amarrado porque ele insistia em reivindicar seus direitos enquanto réu.  

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A justiça americana se arvorava o direito de decidir absurdos sem ligar para o fato de que o grande refrão dos manifestantes e que ecoa até hoje nas recentes manifestações pelo planeta dizia “o mundo está assistindo”. Hoje, a cada dia fica mais difícil enganar as pessoas. Evo Morales foi vítima de um golpe e agora nas eleições da Bolívia o candidato que ele apoia vence as eleições. Na Argentina a farsa foi derrubada pelas urnas. Nos Estados Unidos John Biden deve trazer novamente o país para uma raia menos tumultuada que a de Trump e com isso nos resta o Brasil, indo a reboque do resto mundo.  

Que esse tempo de mentiras, mesmo com o facebook lutando contra a verdade, se acabe na real e justa vontade popular. Ela pode levar porrada, mas um dia levanta e sai gritando por aí novamente.

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