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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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A mãe abolicionista

"Pureza" é um drama potente sobre trabalho escravo e conta com uma interpretação intensa da atriz Dira Paes

Dira Paes em "Pureza" (Foto: Divulgação)
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Pureza é a história de uma heroína da luta contra o trabalho escravo no Brasil. Dira Paes vive com intensidade o papel de Pureza Lopes Loiola, que denunciou a escravização de trabalhadores no Norte do país e foi peça fundamental na criação do chamado Grupo Móvel, órgão federal responsável pela libertação e indenização de dezenas de milhares de trabalhadores desde 1995.

Dois anos antes disso, Dona Pureza saiu de casa no interior do Maranhão, onde vivia da fabricação de tijolos, à procura de seu filho, que partira para o garimpo no Pará e não dava notícia há meses. Nessa saga, abraçada a um exemplar da Bíblia, ela descobriu e desvendou um quadro de exploração e violência em fazendas, garimpos, madeireiras e carvoarias, onde capatazes perversos mantinham lavradores sob o jugo do medo e do endividamento nos armazéns das propriedades. Com o apoio da Comissão Pastoral da Terra e submetendo-se a risco de vida, coletou provas e fez relatos no Ministério Público Federal que contribuíram para o reconhecimento, pelo governo, do chamado “trabalho análogo à escravidão”.

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O filme de Renato Barbieri faz um belo esforço para sintetizar essa história de recorte dramático e épico que durou três anos. Não escapou de algumas facilitações dramatúrgicas, como as várias coincidências romanescas e alguns saltos bruscos que conduzem Pureza, senão ao objetivo de encontrar o filho, à descoberta da situação e a sua transformação em lutadora de uma causa. Há mesmo uma tendência a caracterizá-la como uma “mãe” dos trabalhadores. Numa determinada cena, ela chega a aparecer como uma espécie de santa.

Em contrapartida, Pureza nos oferece um painel muito verossímil das condições em que viviam os trabalhadores, inclusive com a participação de pessoas que já haviam vivenciado o cativeiro em propriedades paraenses. Barbieri é autor também do ótimo documentário Servidão (leia aqui), que faz um histórico do assunto desde os tempos da escravidão até dias recentes, passando pelo louvável trabalho do Grupo Móvel.

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Ao passar do documentário para para a ficção, o diretor demonstra um domínio admirável da encenação, explorando a visualidade com requintes, mas evitando a estetização. Pureza progride na escala emocional ao mesmo tempo que cresce em suspense. Como produção, é vistosa e impecável. A música do americano Kevin Riepl – especialista em trilhas de games e de séries de ação – pode soar um pouco pesada, mas não deixa de conferir pathos à aventura dessa mãe abolicionista..

O final feliz do filme (em 1996) se contrapõe à realidade atual, em que o combate ao trabalho escravo vem sendo desestimulado pelos governos de direita pós-2016. A servidão volta ao campo, as ONGs são vistas como inimigas do estado, líderes rurais são assassinados e estamos precisados de uma nova Dona Pureza.

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>> Pureza está nas plataformas GloboPlay, Google Play, Vivo Play, Youtube Movies e Apple TV.

O trailer:

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