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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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A morte começa a rondar perto

O fato estatístico de a morte começar a rondar e chegar perto de todos, infelizmente, fará pessoas ‘aprenderem’. É o que se espera racionalmente

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15/4/2020. Ontem a faxineira aqui de casa me disse que seu primo morreu de Covid19. O rapaz que consertou o portão, no mesmo dia, me contou de uma dentista jovem, na pequena cidade onde moro. Hoje acordo com a notícia de uma colega, professora da FGV que morreu. A mãe de outra, luta pela vida, em isolamento hospitalar. Em uma semana, relativamente a quem conheço, 3 óbitos.

Estatisticamente isso pode não dizer muita coisa. Mas também estatisticamente, muita. O paradoxo aí é duplo. Não valem as alegações de “relatividade” quando se trata de vida humana. Absolutamente não valem.

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Pertence à estupidez – e ela está na moda-, dar de ombros e dizer que algumas mortes haverá e não se tem muito o que fazer, apenas aguardá-las. Há décadas que este utilitarismo rasteiro e antiético, próprio dos energúmenos sociais, não pode ser mais usado. Basicamente do pós-Guerra para a frente, com as belas Declarações humanistas e pacificadoras.

Desde as Declarações e Acordos de Paz, a partir de 1942 (Nações Unidas, Direitos Humanos, Banco Mundial, FMI), final da Guerra, houve imposições éticas que se firmaram como princípios universais. A dignidade da pessoa humana foi o mais visível e o mais festejado deles. Penetrou no Direito, na Medicina, nas relações sociais, trabalhistas e na cidadania. Nenhum país, governo, sociedade, empresa ou Estado pode desrespeitar a pessoa, sob qualquer forma.

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Fosse, o quadro atual, uma endemia brasileira, já seria uma tragédia pela potencial afetação de milhares ou milhões de pessoas. Mas uma pandemia, com atingimento a diversos países, continentes, é uma situação ao qual a chamada ‘humanidade’ (Menschheit) no conceito de Kant, deveria entrar em ação.

Kant superqualificava o conceito de humanidade no fator de sua racionalidade. E é exatamente aí a paradoxal dificuldade desta sociedade brasileira do presente momento. Com tanta informação, falta razão, falta educação científica básica, falta humildade. Mas sobretudo falta racionalidade. Uma que fizessem homens e mulheres pensar e criticar, por meio da inteligência, e não apenas repassar mensagens de forma acrítica e, o pior, crédula.

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‘O povo foge da ignorância apesar de viver tão perto dela’, já dizia o poeta Zé Ramalho. Mostre, racionalmente, ao último ignorante da Terra a sua própria ignorância e ele lhe esbofeteará imediatamente. Há um orgulho em se ‘dizer’ não ignorante ou conhecedor de coisas. Mas entre a fala e o fato aí há um abismo.

O Brasil ser o único país do mundo que abriu espaço maniqueísta-politiqueiro para discussão de cloroquina, ao mesmo tempo que de passeatas contra medidas científicas e matemáticas de prevenção como o isolamento, tudo parido por  achólogos, sem qualquer formação médica, científica ou congênere, é o que de pior poderia representar a tal ‘pátria’, essa aí que está na moda se ter ‘orgulho’. Além de tudo, como se isso vincasse qualquer ética ou fosse mesmo verdadeiro.

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A morte como finitude – e toda morte é uma- é o pior dos quadros. Simplesmente devastador. Carl Sagan dizia que quem está morto não deve estar se divertindo. Todo o esforço salvívico ligado a deuses, entidades e lugares outros sobrenaturais de paz e conforto; todas as crenças com seus pagamentos em dinheiro, espécie de arras ou sinal para a garantia dos paraísos, alguns com virgens à disposição, desgraçadamente não têm força de aplacar a dor da morte em si.

Deveria ser esta dor, ou sua suposição na forma mais séria possível, que deveria estar norteando pessoas e ‘autoridades’ a se comportar socialmente de modo mais respeitoso.

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Deveria ser ela, minimamente, que teria que impor silêncios em governantes vulgares, deseducados, imprecisos, malandros de botequim, mas sobretudo sem qualquer conhecimento de nada que valha para uma pandemia. Para isso há técnicos, especialistas, estudiosos e pensadores sociais. Para isso há livros, estudos e ciência.

Qualquer tentativa de minimização da situação atual, diante de uma única morte que fosse, a ‘pior’ do mundo que fosse, já seria desrespeitosa, antiética, torpe e infame.

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O fato estatístico de a morte começar a rondar e chegar perto de todos, infelizmente, fará pessoas ‘aprenderem’. É o que se espera racionalmente. Mas seus estragos infelizes e idiotizantes já se deram ao mundo.

Estudos sérios mostram que abril será um pico do vírus no Brasil. Estudos sérios, sabe-se, não dizem ‘muita coisa’ para pessoas não sérias, não educadas. Elas zombam até da morte. Morte do outro.

Há quem diga que a ‘humanidade’, a comum, de todos nós, mudará, após a pandemia. Desgraçadamente, avalio que nada mudará em termos de Brasil. Continuaremos a matar 60 mil pessoas assassinadas por ano, sem qualquer polícia de inteligência no país. A ser um país de ladrões, este que se você deixar um celular por 60 segundos num qualquer banco de aeroporto ele simplesmente some.

Há vergonha de se admitir que a Educação falhou no Brasil. Nem se diz esta, histriônica, deste atual ministro, o ‘imprecionante’. Mas como formadora ética de um povo, falhou.

Há um grande Brasil que não se educa, não larga a malandragem e não respeita a ciência, a gentileza e os estudiosos. Há tanto, que elege políticos precisamente com esses traços de torpeza e falta de educação e respeito.

Infelizmente aprenderemos com a morte, que parece se tornará próxima a muitos de nós, democrática e previsível. Seja inteligente, fique em casa.

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