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Alex Saratt

Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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A negação da negação

Em suma, resgatar e reorganizar as pautas, linguagens, discursos, proposituras, ações e construções que não se limitem ao antagonismo, nem se bastem no protagonismo, mas sim que unifique ambas em um antropocentrismo redivivo, ontológico, crível e ordinário.

Manifestação em Brasília (Foto: Reprodução/Twitter/George Marques)
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Há alguns anos atrás fôssemos verificar o que as pesquisas de opinião diziam quanto aos anseios e prioridades da sociedade cravaríamos fácil: Educação, Saúde, Segurança e Emprego. Entretanto, os tempos mudaram, ingressamos não numa mera conjuntura temporária e circunstancial, mas propriamente num outro ciclo histórico carregado de "ismos": conservadorismo, reacionarismo, extremismo, fundamentalismo, obscurantismo e negacionismo.

Destes "ismos" todos muito foi dito e escrito, por isso peço licença para me focar no último deles, o que estrutura e estabelece a negação como um princípio ideológico funcional, ativo e orgânico. O negacionismo está conectado diretamente com a percepção, discurso e aceite que ressignificam e destroçam conceitos, valores e demandas até então indiscutíveis em sua importância, centralização e necessidade - individuais, coletivas, sociais e societárias.

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A Educação parece ter sido a primeira vítima dessa tendência. Não causa surpresa, afinal é um espaço, momento, vivência e construção formidável para determinar (ou, ao menos, disputar) corações e mentes. O fenômeno da histeria quanto aos Direitos Humanos, Educação para a Tolerância e Diversidade, participação e protagonismo juvenil, ensino crítico e emancipatório, etc teve numa organização denominada Escola Sem Partido o seu mais expressivo ícone e cavalo de batalha. Apesar das derrotas no campo legal, calou fundo no senso comum a ideia de que as escolas e os educadores seriam lugares e pessoas dedicados à conversão de crianças, adolescentes e jovens em seres manipulados e dirigidos para um propósito subversivo e destrutivo dos pilares da sociedade livre, da família tradicional e da crença religiosa.

Apesar da completa falta de veracidade ou correspondência com a realidade, o discurso pegou, constrangendo e coagindo professores, estudantes, direções escolares e gestores. O resultado foi a estigmatização da Educação e de seus atores, a perseguição aos métodos pedagógicos progressistas, o rebaixamento e enquadramento do currículo escolar e a desvalorização da Educação a ponto de prosperarem excrescências como o homescholing ou lendas tipo a cartilha gay.

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Na questão da Saúde, idem. A narrativa ininterrupta e diuturna da falência, ineficiência e fracasso do SUS, desligada das políticas de sucateamento do sistema ou da ausência de condições de vida melhores da população, consolidou uma visão negativa e pejorativa e atingiu seu ápice justamente no momento mais grave: a pandemia de corona vírus. Negar a qualidade dos serviços públicos de saúde redundou na negação da própria saúde e da vida. A declaração conformista e fatalista de que "todo mundo vai morrer um dia" ou que pior "é morrer de fome por falta de trabalho" emolduram a brutalidade e incivilidade da compreensão mediana do povo frente aos riscos da COVID19 e abriram brechas para sugestões anticientíficas, miraculosas, charlatãs e supersticiosas quanto à prevenção, tratamento, cura e mortalidade da doença, minimizando ou recusando os fatos, dados e prognósticos apontados pela Ciência.

Sobre a Segurança parece óbvio que a solução consagrada passa pela distorção dos direitos humanos, pela máxima do "bandido bom é bandido morto", pela legitimação e naturalização da violência policial e pelo apelo ao armamento generalizado e da tese da auto-defesa e justiçamento. A criminalidade foi reduzida a caracteres morais e esvaziada das relações e conteúdos derivados da desigualdade social, pobreza, desemprego, falta de oportunidades, etc.

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Mesmo o Trabalho e Emprego receberam resignificação sob a hegemonia da simbiose entre neoliberalismo e fascismo. Há um apoteótico discurso de negação das dimensões maiores e mais profundas do direito ao trabalho decente, resguardado por cobertura, regulação e promoção legais e estatais. Literalmente, vê-se uma selvageria desenfreada nas "novas" relações de trabalho e na aferição de salários, renda, jornada, salubridade e estabilidade. Na contenda da pandemia houve a imposição de uma falsa contradição: o isolamento social e a primazia da vida versus a manutenção da economia e dos empregos. Premidos por uma crise impiedosa e severa, os trabalhadores "optaram" pela conservação dos empregos, declinando de suas prerrogativas cidadãs.

Enfim, o quadro descrito superficialmente exemplifica a degradação dos elementos constituintes de uma concepção social sadia, progressista, humana, substituídos material e mentalmente por outros critérios que se projetaram graças a negação. O negacionismo não é algo menor, supérfluo, insípido, inócuo ou residual, pois habita, age e se desdobra numa perspectiva de corrupção dos fundamentos, recursos e objetivos reivindicados pelas filosofias racionais, libertárias, científicas e democráticas forjadas na titânica luta secular das luzes contra as sombras.

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Nos ensina a Dialética e a História, ambas calcadas numa base material, concreta, objetiva, que é preciso um movimento que tome a realidade, hoje turva e obtusa, como sinônimo de uma nova afirmativa e a negue não por meio da simples indisposição ou ojeriza, mas através de um tipo superior e inteligente de negação - crítico no sentido mais amplo do termo - e produza nessa concretude uma síntese avançada, totalizante, superativa. Em suma, resgatar e reorganizar as pautas, linguagens, discursos, proposituras, ações e construções que não se limitem ao antagonismo, nem se bastem no protagonismo, mas sim que unifique ambas em um antropocentrismo redivivo, ontológico, crível e ordinário.

Ao negar à negação irracional, exdrúxula e desumanizante, adquire ímpeto, força e sinergia para repactuar aquilo que foi degenerado pelo Capital nas suas duas formas siamesas: o neoliberalismo e o fascismo. Nesse aspecto, lutas como as travadas na frente da Educação (Tsunami da Educação ou aprovação do FUNDEB), na esfera da Saúde (defesa da Vida), no tema da Segurança (derrubada dos itens deletérios do pacote anti-crime) ou no mundo do trabalho ("greve dos aplicativos" ou programa de criação de empregos postulados pelo Governador Flávio Dino) se revestem de instantes práticos e pedagógicos para reformar a consciência social aviltada pelas mentiras, maldades e misérias dos inimigos e algozes da Humanidade.

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