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Cássio Vilela Prado

Escritor

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A neurose ciber-zuckerbergiana

Quanto ao estado de morbidez e da agonia política em que se encontra o povo brasileiro diante da destruição total de sua Pátria por um bando de bandidos de colarinhos brancos, com certeza, não será na ostentação discursiva imaginarizada nas redes sociais o seu front de combate, urge de forma emergente a batalha no concreto das ruas

A neurose ciber-zuckerbergiana (Foto: Craig Ruttle)
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O Facebook é a maior rede social do mundo, atualmente com mais de 2 bilhões de usuários. Fundado em 2004 por estudantes da Universidade de Harvard (USA), dentre eles o seu atual proprietário-mor e CEO, o norte-americano Mark Elliot Zuckerberg (33 anos) – programador e empresário (em 2016, a revista Forbes colocou Zuckerberg na 36ª posição da lista das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna em torno dos 51,8 bilhões de dólares). Ainda descontente com tudo isso, o Facebook é dono de outros aplicativos bilionários: o WhatsApp e o Messenger, ambos com 1,2 bilhão de usuários e o Instagram conta com 700 milhões de usuários.

Portanto, após a invenção de Zuckerberg e dos seus colegas universitários Eduardo Saverin, Andrew McCollum, Dustin Moskovitz e Chris Hughes, o mundo da informação, da comunicação e da interação humana transformou-se radicalmente.

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Somos agora bilhões de “amigos” (até o conceito de ‘amizade’ mudou) entrelaçando-se nas telas digitais dos mais diversos aparelhos eletrônicos: celulares, smartphones, iPhones, notebooks, ultrabooks à qualquer hora do dia ou da noite.

Apesar das facilidades e da rapidez de acesso às informações que as redes sociais oferecem, tão efêmeros e frívolos transmudaram os contatos humanos corporais afetivos; os diálogos na família; na escola; no trabalho; nas ruas, nas praças e em toda a vida social. Mesmo que sentados às mesas, nos sofás da sala, ao lado de nosso amor na cama, parece que optamos para viver no mundo virtual, onde imaginamos ser aquilo que gostaríamos de viver na vida real, com selfies, fotos e autofotos turbinadas, em lugares lindos, com pessoas famosas, ostentando cursos, passeios, viagens pelo planeta Terra... Como ficou pequeno o mundo com o imaginário virtual!

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Com isso a nossa corporeidade tornou-se imaginária dentro da telinha virtual das redes sociais, muitas vezes apenas acompanhada por um simbólico sintético reduzido representado por memes bestiais, figurativos e breves.

Assim, o corpo individual imaginário anseia por ‘curtidas’ motivadoras do seu eu-corporal narcísico haja vista a prevalência absoluta das imagens.

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Dentro dessa nova semiótica imaginária das redes sociais os sentimentos emocionais que até então eram reservados e dissimulados na realidade cotidiana dos encontros sociais face à face, das mãos dadas e dos encontros reais dos corpos, os novos sujeitos advindos com a tecnologia Facebook e afluentes já não sentem mais necessidade das palavras bem-ditas que somente o registro do simbólico pode oferecer, pois encerraram o corpo e a fala na virtualidade das redes sociais. O corpo real bordeado pelo registro da linguagem simbólica dialogística viva está excluído do imaginário facebookiano.

Vive-se uma nova cisão do psiquismo; de um lado o corpo-simbólico-real, de outro o corpo-imaginário-dessimbolizado. Trata-se de uma nova neurose do tipo ciber- zuckerbergiana, na qual a linguagem numérica binária da programação digital faz barreira ao encontro congruente entre corpo real e corpo ideal, engolidos pela imaginarização da vida nas redes sociais.

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Essa cisão (divisão) entre o eu-corpo real e o eu-corpo-ideal imaginário não deixa de produzir angústia pois não apaga o vazio e a falta substancial do ser humano uma vez que ele não consegue adequar a demanda do seu desejo real com as ofertas dos objetos virtuais, verdadeiros objetos-fetiches, tornando-se também um sujeito-fetichizado, portanto um objeto-fetiche, coisificado, não sabendo mais diferenciar um do outro, pois ambos se misturam de forma objetal uns aos outros.

Dentro desse novo cenário virtual de convivência objetal, o discurso do capitalista (Lacan) ‘nada de braçada’, inserindo as suas mercadorias-objetos no mesmo nível dos sujeitos apagados pelo processo de sua imaginarização/dessimbolização. Não há mais diferença entre as ‘fotos-selfies encantadas’ e as peças (mercadorias) publicitárias à venda. Tudo está lançado para ‘curtir’, ‘amar’, comprar e vender (vendem-se e compram-se ‘curtidas’ ...).

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Até a Política perdeu a sua origem na concretude na polis, o antigo e famoso ‘corpo a corpo’ e a ‘conversa ao pé-do-ouvido’ da realidade dos corpos contatados figuram agora no registro do Messenger/Facebook (‘vote em mim’; ‘vote em fulano’; ‘ciclano é isso e aquilo’; etc.).

Obviamente, a sexualidade ‘não cessa de não se escrever’, ao seu modo, nas redes sociais (‘mande nudes’; ‘lindo’, ‘gostosa’; blábláblá). Às vezes, proporcionando encontros decepcionantes fora da virtualidade imaginária das redes. A fissura neurótica do sujeito não o faz corresponder a imagem do corpo ao corpo da imagem ao vivo. A incompletude real continua, mesmo que haja certo compasso entre o desejo imaginário e o objeto real. O simbólico claudica... O virtual não é real nem o real é virtual.

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Apesar da positividade trazida pelas redes sociais, a negatividade de os seus sujeitos usuários dessimbolizados permanece em seu vazio faltoso ôntico e ético. Todo esse mundo virtual, fetichizado, imaginário e fantasioso é mais um engano do desejo (‘equivocação’). Não é possível buscar o suposto e escorregadio objeto do desejo senão na corporeidade do Outro no simbólico, mesmo assim a sua tenacidade é liquefeita e fugidia...

Quanto ao estado de morbidez e da agonia política em que se encontra o povo brasileiro diante da destruição total de sua Pátria por um bando de bandidos de colarinhos brancos, com certeza, não será na ostentação discursiva imaginarizada nas redes sociais o seu front de combate, urge de forma emergente a batalha no concreto das ruas.

Caso contrário, seremos completamente dizimados em nossa realidade cotidiana enquanto aguardamos ‘curtidas’ de ‘amei’ em nossos corpos virtuais narcísicos.

E os nossos representantes políticos?

Porque não mobilizam as suas bases reais através do contato corporal, ‘ao pé-do-ouvido’, ‘corpo a corpo’? Ou preferem ficar, iguais aos seus eleitores revoltados e perdidos nas redes sociais, apenas com as suas queixas virtualmente inconsequentes?

O registro do imaginário é magistral, demasiadamente humano, mas não nos percamos do simbólico e do real....

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