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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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A nova direita no Brasil

Adoradores do ultraconservadorismo radical acabaram tendo que experimentar certo desconforto que a história e o progresso lhes outorgaram. Efetivamente, eles tinham vergonha de externar seus ódios e problemas

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Havia no Brasil recente, certo pudor com apreciadores da ditadura, golpes de Estado, conservadores e outros preconceituosos em geral.

Ficou, para a Ditadura Militar, iniciada em 1964, um natural saldo de vergonha internacional, nos planos econômico, social, educacional, político e de desenvolvimento, pela simples razão de que nenhuma ditadura nunca foi ou é motivo de orgulho internacional. Também, pelo conceito de ‘progresso social’ globalmente adotado, apontando, exclusivamente, para democracias.

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Adoradores do ultraconservadorismo radical acabaram tendo que experimentar certo desconforto que a história e o progresso lhes outorgaram. Efetivamente, eles tinham vergonha de externar seus ódios e problemas.

Sim, conservadores costumam odiar muita gente e também conceitos. Gays, lésbicas, negros, direitos humanos, ONGs e avanços sociais reconhecidos no primeiro mundo para todos indistintamente costumam não ser bem-vindos por esses aí.

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Padrões racionais e incontestáveis de progresso social no mundo ocidental em que a democracia, as liberdades, o sistema constitucional e a dignidade da pessoa humana são o mínimo existencial para que um país possa ser considerado estável e bom de se viver, costumam causar cólicas e conturbações em conservadores.

Eles simplesmente não sabem como conjugar esses fatores de avanço social que até gostam de experimentar turisticamente em viagens internacionais e que pertencem a todas as democracias avançadas, com seus padrões morais.

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Aqui há que se fazer uma pausa na pancadaria, ainda que preconceitos e discriminações tenham que deixar de existir. Conservadores talvez não tenham ‘culpa’ por serem assim, terem tantas dificuldades com modernidades. Há padrões culturais fortíssimos aí que nem todo mundo consegue se livrar, por meio do conhecimento, o alforriador cognitivo por excelência. São amarras psicanalíticas cruéis a serem arrastadas que marcam, às vezes, definitivamente essas criaturas.

Por outro lado, como invariavelmente essa gente não costuma ser estudiosa, em nada, cumula uma sopa de informações advindas, atualmente no Brasil, de vídeos de Youtube, mensagens reenviadas de WhatsApp e sites ideologicamente contestes com suas ideologias paramacabras no plano ideológico. Vê-se que a libertação ao atraso, às crenças e à vetustez simplesmente não se dá.

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Dos aproximadamente 49 países no mundo que vivem em regime ditatorial – conceito que sempre agradou a conservadores-, número da ONG americana Freedom House, nenhum deles causa inveja, em nada, ao Ocidente livre, equilibrado e democrático.

Das ditaduras como Coreia do Norte, Angola, Arábia Saudita, China, Cuba, Irã ao Zimbábue, passando pelos países regidos por militares como Tailândia, Mauritânia e Sudão, o máximo que alguém deslumbrado poderá dizer é que um ou outro aí tem praias bonitas. O resto é apreensão, tensão e dificuldades.

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O método de comparação, para conceitos relativamente abstratos como ‘democracia’ e ‘progresso’, poderia ser o melhor para resolver dúvidas dos conservadores, se não interviesse o anacronismo da teimosia.

Quando o idiota do megafone ou um blogueiro politicamente analfabeto pedem o fechamento do Supremo Tribunal Federal, do Poder Legislativo, ou berra por intervenção militar, é meramente a falta de conhecimento histórico, social, jurídico, de humanidades e de vida que se agudiza em suas conturbadas personalidade e existência.

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Eles não conseguem reparar que as coisas que defendem, em manada ideológica, simplesmente não existem em nenhum dos aproximadamente 130 países democráticos do Ocidente, considerando-se, obviamente, as belezas democráticas como Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Inglaterra, Itália, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Suécia e outros.

O método de comparação aí invocado não seria para imitação, mas para o uso da inteligência referencial, em que se reflete por que em países evoluídos as coisas não são do modo como o conservador entende e quer; bem como do aprendizado histórico, em que se aprende que existe uma evolução histórica e social nos países considerados modernos e avançados que, jamais, caminha para qualquer conceito que não seja a democracia. Isto é fato.

Mas inteligência referencial e aprendizado histórico são conceitos que não vencem a teimosia. E quando a teimosia não é vencida pela lógica, revela-se subproduto da deficiência cognitiva. Aí cessam argumentos, razões, fundamentos e qualquer modelo racional de transmissão de dado. Numa taxonomia do absurdo, existem o ser animal, o vegetal e o mineral. Nosso conservador este é uma pedra ou samambaia que vota e elege criaturas estranhas.

Por outro lado, uma direta ruinosa e histriônica saiu do armário no mundo. Mas até as direitas europeia ou americana são diferentes da brasileira.

Conceitos como Neue Rechte da Alemanha, New Right nos Estados Unidos e Nouvelle Droite na França atraem teorias e estudos sociais, mas, salvo o modelo alemão que não consegue se libertar da sanha nazista requentada, o certo é que não têm ousado tocar em pontos antropofágicos da democracia.

Conquanto a direita ou a extrema direita sejam, constitucionalmente, nacos ideológicos normais para qualquer pessoa em qualquer democracia, núcleos duros há que não deveriam ser afetados, sob pena de, simplesmente, se regredir décadas em conquistas às quais toda a humanidade sangrou e perdeu vidas para conseguir estabilizar.

O amargo pós-Guerra, com todas as conquistas pacificadoras e dignificadoras do humano, continua sendo o grande marco teorético desta atualidade tardia e pouco social, que parou de trabalhar com o ‘nós’ e só admite o egocentrismo do ‘eu’. Todos os direitos existentes neste pouco teórico ‘aqui e agora’ não passam de filhotes de o que povos éticos e então pacificadores construíram tanto no pós-1945 como nas revoluções sociais do eternamente jovem maio-1968.

Seria necessário um respeito inteligencial histórico das gentes atuais para com todas essas conquistas, certa humildade cognitiva sábia no sentido de perceber que moços e moças deste ‘inovador’ presente são muito hábeis em construir gadgets, startups e programas de namoro on-line, alguns trabalhando como PJ 16 horas por dia em estranha neoescravidão, achando tudo isso sinônimo de modernidade. Nunca ouviram falar em Domenico de Masi com seu prazeroso ócio criativo.

Enquanto uma ala radical jactando-se de buscar matar juízes do Supremo e estuprar suas filhas, incinerar e fechar o tribunal e o Legislativo, e fustigar intervenção militar estiver na ordem do dia, será o próprio conceito de ‘direita’ no Brasil que se mostrará totalmente coerente com sua própria estupidez portátil.

Esta semana o reitor da Unicamp, físico Marcelo Knobel, revelou que constantemente precisa lembrar, em palestras, que a Terra é redonda. Além de todo o atraso social que esta nova direita do Brasil se orgulha de ter e ser, ainda há as novas cismas mentais com terra plana, negacionismo climático, dúvida de o homem ter ido à lua e outros obscurantismos acientíficos. Ainda cafonas e provincianos.

Certamente, a direita culta de Gilberto Freyre, Delfim Neto, Getúlio Vargas, Sobral Pinto, Miguel Reale, Mario Henrique Simonsen, Eugênio Gudin, Roberto Campos e Carlos Lacerda teria horror deste rebento ideológico que foi dado à luz no Brasil.

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