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Carina Rabelo

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A pátria de bengalas

A expectativa pelo milagre de que no final tudo dá certo tem sido a tônica do País em todas as esferas públicas e sociais, que parece há anos fazer tudo pela metade

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O primeiro ponto que chama a atenção com a derrota do Brasil para a Alemanha é a dificuldade que o brasileiro tem ao lidar com o luto. São três fases para este terrível estado da alma: a consciência da perda, a busca por culpados e a resignação. Após a demonstração terapêutica de ódio nas redes sociais, nos restam dois caminhos. A depressão, que consiste em ruminar a perda e se colocar no mais baixo patamar da sociedade global; ou a superação, transformando a perda em aprendizado. Mas o que o futebol tem a ver com a identidade nacional?

Na leitura da superação, entendo que o “mineiraço” serve de exemplo para todos os brasileiros. Ao contrário do que defendia Nelson Rodrigues na “Pátria de Chuteiras”, a perda no mundial prova a necessidade de colocar a emoção de lado e apostar na técnica. O Brasil precisa apostar nas pessoas – no aspecto da individualidade - não em uma suposta integração imaginária de equipe ou questionável bem coletivo. O craque tem que ter um suplente igualmente craque. Se não há, porque tanta comoção com a derrota?

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A expectativa pelo milagre de que no final tudo dá certo tem sido a tônica do País em todas as esferas públicas e sociais, que parece há anos fazer tudo pela metade. A seleção foi até bem longe, apostando unicamente no Neymar como a muleta mágica. Pena que a Colômbia chegou quebrando tudo. Temos um técnico que não gosta das estrelas e como bom homem cordial aposta na humildade. Mas o esporte é feito de craques. Os melhores vencem. Ponto. Isso serve para a educação, política, trabalho. Nunca entendi o porquê da relutância em apostar na equipe dos melhores. Dane-se o ego individual. Ninguém está ali para ser amigo de infância.

Mas não é de hoje que o Brasil aposta no bom mocismo e nivela a convivência por baixo. O serviço público é um ótimo exemplo disso. Sejamos minimamente eficazes. Quem trabalha demais é massacrado. Quem se destaca é odiado. A educação é um exemplo de inclusão para todos, menos para quem é bom. Os superdotados que escondam a sua inquietação e se integrem a coletividade. Inteligência não compartilhada é sinônimo de arrogância. O resultado está aí. Todos unidos pela mediocridade. O Brasil comemora o bronze, a prata. O ouro não é tão importante assim, o que vale é competir. Não é o que aprendemos nas escolas? A massa dos comuns serve para enaltecer a construção de celebridades únicas e solitárias. O propósito é um só - a manutenção do Estado patriarcal que cria a dependência coletiva por um "iluminado" que veio nos salvar.

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Estratégica é a Alemanha, que coleciona estrelas e aposta nas falhas do Brasil para brincar de fazer gol. Ou a Holanda, que substituiu na cobrança de pênaltis um goleiro normal e simpático por um arrogante e competente, que definiu a classificação do time nas quartas de final. Eles se comportam como profissionais no simples exercício da sua atividade. O campo de futebol é o escritório. O uniforme da seleção é o terno e a gravata. Após o término da partida, voltam para suas vidas. Ninguém se culpa por não salvar o mundo. Se jogarem bem, já cumpriram seu papel.

A dita "frieza" dos europeus se resume no comportamento do goleiro Neuer que, com 5 gols no estoque, ainda se mantinha preocupado com as possíveis falhas na defesa alemã. Em vez de aprendermos com eles, preferimos venerar a América Latina (que significa o quê mesmo?). Esquecemos que somos mais hostilizados pelos vizinhos do que pelos demais. Mas o importante é torcer para a América (menos os EUA), e para os pobres. Esquecemos apenas que nenhum país fica menos pobre porque ganhou uma Copa. O Mercosul não será mais eficaz porque torcemos para os coleguinhas.

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O time do Brasil é um retrato do coitadismo nacional, dos falsos mitos de identidade e da pauta exaustiva dos telejornais brasileiros, que passaram a última semana fazendo a cobertura-obituário do Neymar, no estilo vazio de jornalismo celebridade. Só nos resta esperar que a humilhação que ceifou o título do anfitrião da festa faça com que o Brasil deixe de ser um bebê no mundo e vire gente grande. Esqueçam a taça. O legado do nosso futebol é o espelho de como funcionamos como sociedade. O luto pode ser didático.

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