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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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A pauta é Tebet e Marina

"Tricas e futricas tratadas com ares de notícia, tudo para manter na ordem do dia a “não pauta", escreve Denise Assis

Da esq. para a dir.: Marina Silva, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e Simone Tebet, durante evento de campanha no município de Teófilo Otoni (MG) (Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação)
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Denise Assis, para o 247 

Lula anunciou parte significativa do seu ministério. Assunto do dia na mídia tradicional? Não. O que dominou a pauta a tarde toda foi: Simone Tebet não entrou na lista. Marina Silva não foi nem sequer mencionada. Tricas e futricas tratadas com ares de notícia, tudo para manter na ordem do dia a “não pauta”, como classificou o comentarista que vive nos EUA e não conseguia entender como alguém com menos de dois dígitos nas pesquisas, durante a campanha, tinha destaque no noticiário. Coisas da política no Brasil.

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E continua, na condição de “não ministra”, sendo pauta única, num dia em que Nísia Trindade é alçada à condição de primeira mulher a ocupar o posto de ministra da Saúde. No dia em que Anielle Franco é anunciada como Ministra da Igualdade Racial. Esperem. Estou sendo injusta. Discutiu-se bastante o ministério, mas sempre do ponto de vista do “enrosco” criado pelo presidente Lula, quando não mencionou as suas duas – honra seja feita – principais cabo eleitorais no segundo turno da disputa de 2022. 

Com olhos na pasta do Desenvolvimento Social, Tebet chegou a dizer que não aceitaria outro ministério. A bordo da transferência de cerca de 70% dos 3% de votos que obteve como candidata ao cargo presidencial, nem sequer compareceu à diplomação, (12/12), embora tenha negado que fosse um protesto. 

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Os gênios também erram. E, talvez, o erro de Lula – se é que ele erra –, tenha sido cantar loas à Simone Tebet, (há quem diga que ele quem prometeu para ela o Desenvolvimento Social) no dia do fecho dos trabalhos da transição. Na empolgação, prometeu o que não entregaria, sem conversar com o seu entorno. Mas premido pelos protestos dos seus, que consideraram arriscado dar na mão de uma potencial candidata a 2026, a principal marca de sua trajetória: o programa Bolsa Família, mudou de ideia. 

Era muito? Sim. Era. Não que o empenho de Tebet para garantir a democracia com a vitória de Lula, não fosse uma pauta cara para ela. Todos que tiveram oportunidade de vê-la sob chuva e sol discursar em cima de um carro de som constatou em sua fala emoção genuína. Tampouco se viu risco de que ela fosse usurpar-lhe o selo. Ou que conseguisse apagá-lo do programa. O mundo – literalmente – sabe que Lula foi responsável pelo projeto que tirou 36 milhões de pessoas da condição de pobreza extrema. Mas, sim. É o principal programa do Partido dos Trabalhadores. E a ciumeira se justifica. Pelo menos aos olhos de quem o estava perdendo. 

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Nos últimos anos o PT foi pisoteado e desmoralizado. O esforço para colocá-lo na clandestinidade foi uma realidade palpável. E, ainda assim, enfrentou as eleições municipais de 2020 sem fazer feio. Pelo contrário. Conquistou prefeituras em cidades importantes. Manteve-se como o maior partido da América latina, graças à memória que o povo guardou do Bolsa Família. O peso dessa marca foi tal que nem o adversário quis suprimi-lo. Tentou mudar-lhe o nome, mas o povão só o chamou de Bolsa Família. É justo, sim, que ele permaneça entre os seus. Por medo de que se esvaia entre os dedos? Não. Pela história de sua construção. Pelo valor agregado. 

O que não se entende, contudo, é a resistência em entregar à Marina Silva o ministério do Meio Ambiente. Tebet pode optar pelo Ministério das Cidades, por exemplo. Marina é indemissível? Então não acenassem para ela a condição de ministeriável. A sua ida à Cop-27 soou quase como um anúncio antecipado. A amplificação de sua visibilidade ligada à Amazônia tornou-se um compromisso tão importante quanto uma nota promissória. E o temor não se justifica. Pensar que Marina vai errar antes mesmo de entrar, num tema que foi motivo do seu mergulho na política é transmitir um pessimismo que não cabe num ano de esperançar. 

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Marina já mostrou que sabe guardar ressentimento com extrema competência. Os que foram buscá-la no silêncio a que se recolheu nos últimos anos sabem bem o quão difícil foi demovê-la da ideia de manter-se à margem da campanha de Lula. Fora do governo, pode fazer tanto barulho quanto os animais da floresta, quando buscam seu pouso para dormir. Quem já ouviu o fim da jornada na mata Amazônica sabe do que estou falando.

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