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Rafael de Aguiar Pereira

Historiador

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A perda de Marielle e o prejuízo irreparável à democracia

A execução de Marielle nos dá leituras de dois sentidos distintos, porém complementares: em uma direção escancara a crueldade instalada no poder pós golpe; noutra direção, também por reflexo da brutalidade, torna Marielle ainda mais expressiva, mais representativa, mais eloquente, mais presente

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Seguramente mais de 90% das pessoas que desenvolvem ideias em comentários na internet, ou escrevem textos (eu incluído), ou compõem institucionalmente os espaços de poder não conseguem entender e traduzir as questões relativas às comunidades mais desfavorecidas desse país na mesma profundidade com que Marielle expressava. Por sua origem, era voz autêntica da favela, dos problemas sociais ali instalados, de suas carências, da violência sofrida (institucional ou não), da discriminação, da dificuldade de educação, de consciência, etc.

Ao eliminar alguém como Marielle, procura-se calar a voz da periferia que ousava ocupar os espaços de poder, de influência política real. Para além de todo o bloqueio "natural" que impede os brasileiros com essa origem e com essas características de emergir no cenário político-institucional, utilizam-se de mecanismos abjetos para eliminar do espaço aquele que conseguiu, não sem muito esforço, furar esse bloqueio.

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Para formar (e surgir) alguém como Marielle são necessários pelo menos 15 anos entre entender (sozinha) seu lugar e sua condição, relacioná-la com o mundo, com o sistema vigente, procurar saídas, adquirir conhecimentos, formar-se, aprender a comunicar, engajar-se na luta, disputar espaço institucional e, por fim, combater a lógica opressora a que esteve e estava submetida por sua origem, sua cor e sua condição de mulher.

A Mulher, A Favelada, A Socióloga, A Mãe, A Negra, A Vereadora (5ª mais votada para a Câmara Municipal do Rio com mais de 46 mil votos) foi vilmente assassinada justamente por lutar por dignidade, reivindicando espaço, respeito e justiça social aos que representava, sendo um dos seus maiores ícones na arena institucional, onde a diversidade deve(ria) ser respeitada num ambiente que se queira democrático.

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Não raro nos perguntávamos: mas por que o morro não reage? por que não aparece? não se defende? não procura influir? Marielle nos mostrou serem equivocados esses nossos questionamentos, pois era a própria representante da favela se fazendo ver e ouvir apesar das imensas dificuldades de trajetória e de manutenção nesse espaço, dada a pesada carga de preconceito destilada por uma elite que não aceita tal representação.

A execução de Marielle nos dá leituras de dois sentidos distintos, porém complementares: em uma direção escancara a crueldade instalada no poder pós golpe, que visa, a qualquer preço, eliminar qualquer possiblidade de ver os de baixo representados na esfera de poder, influindo nas decisões; noutra direção, também por reflexo da brutalidade, torna Marielle ainda mais expressiva, mais representativa, mais eloquente, mais presente. Marielle Presente!

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