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J. Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ, professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e autor de mais de 20 livros sobre economia política.

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A previdência dos militares e a defesa do interesse nacional

O que me incomoda nos militares não é seu salário, ou seus supostos privilégios. O que me incomoda nos militares é eles se omitirem diante da direta agressão aos interesses nacionais permanentes sob o governo Bolsonaro.

(Rio de Janeiro) A Tropa da Brigada de Infantaria Paraquedista desfila em continência ao Presidente da República. (Foto: militares)
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Discordo dos que se opõem a uma previdência especial para as Forças Armadas. Acho que as características da instituição exigem esse tratamento. Sou a favor inclusive de salários decentes para os militares. E concordo que 19 mil reais de aposentadoria para um general de quatro estrelas é muito baixo. O que me incomoda nos militares não é seu salário, ou seus supostos privilégios. O que me incomoda nos militares é eles se omitirem diante da direta agressão aos interesses nacionais permanentes sob o governo Bolsonaro.

Não estou exigindo pronunciamentos públicos, ameaça de sublevação ou de golpe. Quero uma coisa mais simples. Quero que o Alto Comando das três Forças ponha em discussão interna e tire conclusões de natureza nacionalista, como deve ser de seu dever, fatos escabrosos como a venda para estrangeiros do controle da Embraer, o retalhamento criminoso da Petrobrás, a entrega aos Estados Unidos da base de Alcântara, a ameaça de privatização da Eletrobrás, a venda da Casa da Moeda, a ausência de uma política  de retomada da economia e do emprego. São setores de inequívoco interesse nacional, portanto dentro do campo de preocupações naturais dos militares. 

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Nos anos de Fernando Henrique escrevi que os militares se movem pela honra, ou pelo soldo. Mas ali via-se que perderam os dois, pois o governo lhes tirou o soldo e  não tiveram honra para exigir dele melhores condições materiais. Lembre-se que recrutas tiveram de ser mandados para casa almoçar porque não havia comida no quartel. Lula melhorou a vida dos militares, inclusive quanto a equipamentos modernos para as Forças Armadas, incluindo o projeto agora ameaçado de construção do submarino nuclear, caças para a Força Aérea e desenvolvimento de armamentos nacionais para o Exército.

Até hoje não entendi como generais da posição de Vilas Boas e Heleno, que como oficiais acompanharam os governos de FHC e Lula, puderam desenvolver tanto ódio de Lula, exceto pelo componente ideológico de que está impregnado o pensamento militar atual, sob forte influência  neoliberal norte-americana. Isso talvez  seja a nossa desgraça. Nossos generais não estudaram os clássicos brasileiros do desenvolvimento, que não entram nas escolas militares. Fizeram cursos ligeiros sobre economia calcados na visão norte-americana, como um resquício da guerra fria, em detrimento de uma visão nacional.

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Espanta-me sobretudo a visão militar distorcida do período ditatorial. Eles negam a tortura, os excessos cometidos contra uma oposição radicalizada porém em posição assimétrica, mas fazem crítica inconsistente ao Presidente Geisel talvez por causa do crescimento  apoiado em dívida externa em seu período. Ora, a dívida externa dos anos 70 significou as bases financeiras para um  dos maiores avanços da economia brasileira em décadas, no período do II PND. O que houve, depois, a crise dos juros, era absolutamente imprevisível na escala alcançada e não tinha como Geisel adivinhar.

O legado da dívida está aí na infra-estrutura energética, com Itaipu, Tucuruí, outras hidrelétricas, grandes obras rodoviárias, expansão siderúrgica, crescimento via sistema tripartite na petroquímica, crescimento econômico, enfim. Houve besteiras, como o escândalo da Sunamam, mas, no geral, jamais uma dívida brasileira foi melhor aplicada. Infelizmente, com a explosão dos juros externos no governo Figueiredo, e por causa da reação pusilânime de Delfim Netto se submetendo ao FMI, tivemos que passar anos tentando administrar, com grandes sacrifícios internos, e no limiar da hiperinflação, o rescaldo da dívida externa.

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É fato que não foi a dívida autorizada por Geisel, mas a forma de gerir a contrapartida dela em moeda interna a grande trapalhada daquele período. Para cada dólar obtido lá fora, o ortodoxo Mário Henrique Simonsen, em  lugar de expandir a disponibilidade interna de moeda correspondente ao ativo que seria criado e estimulando o crescimento, lançou títulos da dívida interna, supostamente para conter a liquidez. Conteve, sim, mas não a liquidez ou a inflação. Conteve  o crescimento da economia a altas taxas. E criou um imensa dívida interna, desnecessariamente, concomitante com a dívida externa.

Os militares atuais que criticam Geisel e exaltam o neoliberalismo de Simonsen não sabem as virtualidades do déficit público quando a economia entra em recessão. Ao contrário deles, não critiquei o Brasil Potência de Geisel, mas sim a “ciranda financeira” de Simonsen. A propósito, escrevi um livro com Maria da Conceição Tavares sobre economia política e política econômica do regime autoritário, editado em 1984. É “O Grande Salto para o Caos”. Gostaria que os generais o lessem. Evidentemente que não negamos a  tortura e o cerceamento das liberdades, mas reconhecemos as virtudes da economia sob Geisel. Como nacionalista, ele fez o que todo militar honrado deve fazer nesse campo, defendendo as bases materiais da Nação. Agora, sob Bolsonaro, os militares tendem a ganhar melhores soldos e muitos cargos civis; mas correm o risco de perder a honra!
 

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