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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

202 artigos

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A primeira lição

Mostra-se penoso um general já entrado em anos, se permitir baixar o nível e, desconhecendo a sua própria necessidade de ouvir uma “primeira lição”, substituir a reflexão pela ofensa, esforçando-se, com isso, em macular a imagem de uma categoria corajosa (educação), digna e capaz de cumprir com suas funções apesar dos baixos salários e de condições

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O atual governo efetivamente não gosta da educação. Não somente escolhe ministros despreparados, com currículos impróprios, como não lhe agrada o trabalho de uma categoria que ensina e, ensinando, critica. Esquecem essas autoridades o que se deve fazer em sala de aula e, em vez de apoiar com verbas, torpedeia as iniciativas em favor de um magistério forte e bem constituído. Numa de suas manifestações recentes, o general Augusto Heleno, na esteira do ex-ministro Abraham Weintraub, de triste memória, se associou aos ataques aos professores, chamando-os de “maconheiros”. Não parece, com efeito, haver compostura (uma das consequências de um bom sistema de ensino) nos que passam hoje pelos quadros do governo. Negar o outro, desqualificá-lo, ofendê-lo, difamá-lo virou lugar comum entre nossos dirigentes. Nada mais distante do que aquilo que de fato se realiza em sala de aula com anos de dedicação. 

A situação de penúria presente no plano cultural se faz acompanhar do desprestígio propagado de cima para baixo, com a ideia de diminuir verbas e desaparelhar a existente rede de magistério de ensino básico e superior. A forma como essa gente frequenta a imprensa, escrita ou televisiva,  preocupa, como se ninguém ali, com efeito, houvesse usufruído de mestres competentes... E sem dúvida, como em todas as profissões, no magistério também militam bons e maus. Talvez devamos desculpar pessoas como Weintraub e Heleno pelo modo como se transformaram em cavaleiros de tristes figuras.

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Comentários como esses nos trazem à memória o filme Todas as manhã de mundo (Tous les matins du monde), de Alain Corneau. A obra diz respeito a dois compositores da música barroca francesa do século XVII: Sainte-Colombe e Marin Marais. Ansioso por dominar os segredos da viola da gamba, o segundo chega a se esconder em baixo de um barracão para ouvir o mestre praticar. Descoberto, revela-se finalmente para o grande instrumentista e se senta diante dele para desvendar seus segredos. Marin Marais já tocava na corte de Luís XIV, mas conhecia as suas limitações. Olhando para o grande músico e se imaginando humilde, diz para ele, dando a entender que não desejava sobrecarregá-lo: “Gostaria de ter uma última lição”. Sainte-Colombe, devolve-lhe a mirada, suspira e responde: “Vou lhe dar a primeira lição”.

Quem lida com o aprendizado não ignora que o mais culto dos homens, sendo realmente sábio, reagiria como Sócrates, apenas expressando que nada sabe. Arrogância e conhecimento se mostram incompatíveis. Só os ignorantes arrotam saber. E tropeçam ao primeiro sinal de pretensão. Infelizmente, quando o chefe expõe diante do público as falhas de sua formação, estimula os outros a lhe imitar as atitudes. Daí a sucessão de mazelas que, na ponta do sistema, a população, envergonhada, assiste cotidianamente, exibida pela mídia. No plano internacional, não estamos bem e nos perguntamos até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência!

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Mostra-se penoso um general já entrado em anos, se permitir baixar o nível e, desconhecendo a sua própria necessidade de ouvir uma “primeira lição”, substituir a reflexão pela ofensa, esforçando-se, com isso, em macular a imagem de uma categoria corajosa, digna e capaz de cumprir com suas funções apesar dos baixos salários e de condições, às vezes, extremamente desfavoráveis. Alguém deveria lhe soprar que precisava voltar aos bancos escolares e, pelo menos, numa primeira lição, aprender a se comportar.

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