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José Marcus de Castro Mattos

Poeta, psicanalista

32 artigos

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A queda do poder como representação

O 'algo' pós-democracia representativa tenderá a se configurar como democracia ocupativa, qual seja, como uma plataforma não-hierárquica e prático-decisória delineada pelas aglomeratividades horizontais, pelas participações espontâneo-instantâneas e pelas reivindicações pontuais

O 'algo' pós-democracia representativa tenderá a se configurar como democracia ocupativa, qual seja, como uma plataforma não-hierárquica e prático-decisória delineada pelas aglomeratividades horizontais, pelas participações espontâneo-instantâneas e pelas reivindicações pontuais (Foto: José Marcus de Castro Mattos)
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Para além das reivindicações que tomaram as ruas brasileiras em Junho de 2013, o Movimento Passe-Livre (MPL) colocou em xeque a própria noção de poder como 'representação'.

Isto significa que os cidadãos presentes nas megamanifestações ultrapassaram – nos e pelos seus atos públicos – aquilo que desde pelo menos a Revolução Francesa (1789) é o sustentáculo político do conceito de República, qual seja, a delegação a terceiros do poder de representar os interesses da coletividade, quer a representação ocorra no âmbito Legislativo quer no Executivo.

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Neste sentido, o MPL questionou o dispositivo através do qual o Poder Republicano se estrutura, agencia os seus operadores e funciona, a saber, aquele denominado de Democracia Representativa.

Com efeito, ao lançar às ruas mais de um milhão de cidadãos cujo mote central está encapsulado nos dizeres 'FULANO NÃO ME REPRESENTA', o MPL subverteu in actu a representatividade política – ou, o que seria dizer o mesmo, a política como e enquanto 'representação de' – e inaugurou um horizonte que deverá doravante ser pautado pela Democracia Ocupativa.

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De fato, aí está a subversão – política, evidentemente – colocada em prática pelo MPL: assentada na desigualdade hierárquica entre as classes sociais e estruturalmente mantenedora dessa desigualdade, a Democracia Representativa não representa a horizontalidade da multidão, devendo, pois, ser substituída por algo imediatamente expressivo – e resolutivo – dos emergenciais e aflitivos problemas vividos por 'todos'.

Ora, não por acaso a imagem onipresente nas manifestações era a da máscara dita WE ARE ANONYMOUS, mostrando-nos assim, pelo avesso, a inexistência de representantes encarnados e/ou materializados capazes de 'representarem', por delegação consentida, os interesses multitudinários (sejam estes representantes compostos por indivíduos ou por partidos políticos).

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Logo, o 'algo' pós-Democracia Representativa tenderá a se configurar como Democracia Ocupativa, qual seja, como uma plataforma não-hierárquica e prático-decisória delineada pelas aglomeratividades horizontais, pelas participações espontâneo-instantâneas e pelas reivindicações pontuais.

Evidentemente, WE ARE ANONYMOUS (e, claro, suas consequências) está na contramão do Capital na medida em que este se vale da Democracia Representativa para obter o consenso/consentimento a respeito de seu modus operandi econômico, político e cultural, vale dizer, a 'delegação por representação' (como vimos: encarnada em indivíduos e/ou materializada em partidos) é essencial para a reprodução e manutenção do Capital.

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Além disso, WE ARE ANONYMOUS e a Democracia Ocupativa dele proveniente não podem – pelas razões lógico-estruturais vistas acima – ser capturados, cooptados e colocados a serviço do Fascismo, posto que para este é imprescindível a constituição do Grupo (excludente das diferenças) e a presença do Chefe (Führer, Duce, etc).

Neste contexto, foi patética – e inútil – a tentativa que o governo brasileiro fez com o intuito de acolher responsavelmente as demandas e de responder propositivamente a conflagração das ruas, como se ainda fosse possível inserir no dispositivo representacional característico da República e do Capital (mecanismo delegativo, hierárquico, etc) aquilo que, concreta e praticamente, já desconstruiu tal dispositivo, subverteu-o, ultrapassou-o, deixou-o para trás...

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Entretanto, qual o estatuto do laço social que se configuraria desde WE ARE ANONYMOUS?

Resposta: – Seria o laço social não mais subsumido aos interesses do Capital (interesses fundeados na Democracia Representativa, etc), qual seja, o laço social ainda republicano porém marcado pela literalidade da RES PUBLICA ('Coisa Pública') e através da Democracia Ocupativa em todos os campos das atividades humanas (subjetivo/objetivo, individual/social, econômico/político/cultural).

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Apressadamente, os míopes bradarão: – WE ARE ANONYMOUS É UTOPIA!

Pois bem, as ruas respondem: – A UTOPIA NÃO NOS REPRESENTA!

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