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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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A rede de lavagem cerebral em favor do neoliberalismo radical (Parte I)

Brasileiros da classe média com conhecimentos superficiais de história, portanto suscetíveis de doutrinação na forma de lavagem cerebral de estilo Goebbels, vem sendo submetidos a ataque de propaganda financiado pelo grande capital e coordenado de fora e de dentro por entidades que receitam para o Brasil o liberalismo radical baseado no extremo egoísmo

A rede de lavagem cerebral em favor do neoliberalismo radical (Parte I) (Foto: Paulo Whitaker - Reuters)
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Brasileiros da classe média com conhecimentos superficiais de história, portanto suscetíveis de doutrinação na forma de lavagem cerebral de estilo Goebbels, vem sendo submetidos a ataque de propaganda financiado pelo grande capital e coordenado de fora e de dentro por entidades que receitam para o Brasil o liberalismo radical baseado no extremo egoísmo. Um desses doutrinadores, Paulo Guedes, tornou-se conhecido como ministro. Falarei dele e da rede de entidades liberais que atua no Brasil oportunamente.

A indignação suscitada por esses vigaristas vendidos ao capital financeiro nada tem a ver com sua ideologia. Tem a ver, sim, com o uso da mentira deslavada como instrumento de persuasão de consciências. Tendo apenas argumentos toscos para defender o neoliberalismo radical, eles recorrem à falsificação aberta de fatos históricos para sustentar teses esdrúxulas. Há pouco deparei-me com um vídeo no youtube que me foi encaminhado por um amigo. O locutor afirma de forma absoluta que o New Deal dos Estados Unidos na época da Grande Depressão fracassou.

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A prova do fracasso, na boca de um sujeito até jovem mas claramente identificado com as velhas-novas entidades ultra-liberais, é que a depressão começou em 1929, e o desemprego em 1938 era "ainda" de 17%. O manipulador não disse de quanto era em 1933, na posse do presidente Roosevelt, ou seja, 25%. Cair de 25% de desempregados para 17% foi um feito considerável, sobretudo se a principal agência constituída para enfrentar o desemprego, a Works Progress Administration, só tenha começado a funcionar para valer em 1935. Assim, em menos de três anos, houve queda de 8 pontos percentuais na taxa de desemprego.

Entretanto, mesmo essa numeralogia engana. As primeiras reações da economia às medidas iniciais do New Deal, notadamente nos campos industrial e agrícola, foram extremamente positivas. Desde 1930 até 1933 o PIB havia caído 20%. Em 1933, -2,1%. Já no ano seguinte ao lançamento do New Deal houve um crescimento da economia de espantosos 7,73%. Nos anos seguintes, até 1938, o crescimento foi de 7,65%, 14,21% e 4,28%. Então aconteceu o que os garotos do Von Mises e do Instituto Liberal consideram a prova definitiva do fracasso do New Deal: o PIB caiu 3,98% e o desemprego, antes caindo, subiu para 17%.

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Ponto para eles? Absolutamente. Como são ignorantes em História, embora apelem a toda hora para historiografias mistificadas, desconhecem – ou fingem não saber – que os liberais do Congresso, com apoio de democratas conservadores, haviam imposto uma derrota a Roosevelt no campo fiscal em 1937. Exigiram que o orçamento fosse cortado pela metade naquele ano e outra metade em 1938. Não foi surpresa que o desemprego tenha subido e o PIB caído. Contudo, essa performance negativa teve seu saldo positivo: a parte progressista da equipe de Roosevelt ganhou moral e pôde meter o pé no acelerador orçamentário nos anos seguintes para a vitória definitiva do New Deal no momento crucial da preparação da guerra.

Mas vamos à questão mais estrutural do New Deal, que vai muito além da questão do emprego, embora fosse esse o programa prioritário junto com o aumento dos salários e regulação da jornada de trabalho para ativar a demanda. A principal agência encarregada das obras financiadas pelo Governo realizou um conjunto espantoso de empreendimentos geradores de emprego como rodovias, pontes, escolas, tribunais, hospitais, calçadas, obras hidráulicas e agências de correios, e também museus, piscinas, parques, centros comunitários, parques infantis, coliseus, mercados, feiras, campos de tênis, jardins zoológicos, jardins botânicos, auditórios, obras marítimas, prefeituras, academias de ginástica e organizações universitárias.

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Só a principal agência construtora de infraestrutura, a citada Works Progress Administration, construiu 40 mil prédios novos e reformou 85 mil. Essas obras incluíram 5 900 novas escolas, novos auditórios, ginásios esportivos e prédios recreativos, 1 mil novas bibliotecas, 7 mil novos dormitórios e 900 arsenais. Além disso, os projetos de infra-estrutura incluíram 2 302 estádios, bancadas e arquibancadas; 52 recintos de feiras e arenas de rodeios, 1 686 parques cobrindo 75 152 hectares, 3 185 playgrounds, 3 025 campos esportivos; 805 piscinas, 1 817 quadras de handbol, 10 070 quadras de tênis, 1 101 ringues de patinação no gelo, 138 teatros ao ar livre, 254 campos de golfe e 65 rampas de esqui. Tudo que gerasse emprego e serviço público mereceu obra, inclusive no campo das artes e dos esportes. Uma outra agência cuidou de amparar com empregos até artistas de teatro e músicos de jazz. Não houve um município dos Estados Unidos que não tenha merecido uma obra do New Deal. Onde está o fracasso, se tudo está lá para ser usado ainda hoje?

É claro que não sei tudo isso de cor. Tirei da Wikipédia, de acesso fácil também para doutrinadores e doutrinados do Instituto Von Mises, do Instituto Liberal, da LBA e seu principal inspirador e financiador, a Fundação mundial Atlas. Todos fazem parte de uma rede de lavagem cerebral em atuação em várias partes do mundo, notadamente no Brasil, que em geral acompanham o ciclo econômico: toda vez que o grande capital financeiro ameaça afundar o mundo em crise, como em 29, em 2008 e agora, liberais e neoliberais se levantam para culpar o Estado do desastre, santificar o setor privado e desqualificar as iniciativas de intervenção estatal que, por uma dessas ironias da história, é o que salva os especuladores com a socialização das perdas. Note-se: o pequeno New Deal do Obama custou 7,5 trilhões de dólares e, que eu saiba, não deixou legado sequer de uma ponte! De qualquer modo, criou empregos.

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