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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A Rede Globo matou o futebol brasileiro e vai continuar matando

O colunista Gustavo Conde narra sua história pessoal com a seleção brasileira de futebol, seus encantos e desilusões; para Conde, "o futebol brasileiro morreu com a Rede Globo e o seu monopólio. Ela matou a arte, matou a garra, matou a torcida, matou a qualidade da transmissão, matou a análise, matou o amor pela bola"

Torcedores durante amistoso da Seleção Brasileira contra a Seleção do Panamá, no Estádio Serra Dourada, em Goiânia (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Gustavo Conde)
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O bom de torcer contra a seleção 'patrioteira' de futebol é que mais cedo ou mais tarde, ela vai cair. Daí que o choro dos adultos que ainda se prestam a esse papel – de torcer para um pool de nichos corruptos organizados que é CBF, Globo e jogadores-sonegadores – não me comove. 

Prefiro torcer para meu filho, no futebolzinho do fim de semana, muito mais emocionante e visceral. Aliás, o choro das crianças com a “derrota da seleção” (ai, que drama) também não me comove. Eles não sabem pelo que devem chorar nesse momento. 

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Eu chorei quando o Brasil perdeu em 82 e em 86. Lembro bem. Isso faz parte do meu caráter e eu sei o quanto é bom vivenciar uma dor, mesmo que ela seja proveniente de uma fraude. É o significante, a estruturação da subjetividade e tudo isso faz parte da realidade simbólica a qual não temos acesso, mas que é fundamental para a organização do nosso desejo. Ponto. 

Em 82, havia “espírito” e a seleção já adentrava o combate ao golpe daquela época. Tinha Sócrates. Um jogador politizado já seria suficiente para que eu torcesse para “esta” seleção de 2018, por exemplo. Unzinho que fosse. Um que não fosse covarde. Ou seja: minha torcida em 82 habita minha memória sem passar vergonha.

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 Em 86, foi bem chato ver Zico perder aquele pênalti. Eu tinha 12 anos. Sofri. Mas também não me arrependo de ter “sofrido”. Era o primeiro ano de democracia no país e a gente respirava um pouco melhor. Havia esperança, havia empolgação real, utopia, sonho, ‘latino-americanidade’ (era a Copa do México, afinal). 

Em 90, foi um vexame. Uma seleção horrorosa. O brasileiro torceu de nariz tapado. A derrota para a Argentina, naquele jogada de gênio em que Maradona enfiou a bola para Caniggia, foi qualquer coisa de cinematográfico. É bom perder para quem sabe jogar bola. É a construção do caráter. 

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Em 94, foi aquela catarse meio besta. Uma seleção mediana que foi ganhando de 1 a 0 e chegou lá. Ganhar nos pênaltis foi super estranho. Eu comemorei meio que por obrigação. Comemoração de futebol para mim foram os títulos do São Paulo em 91 e 92, os mundiais. Ali, eu senti um pouco do que era viver o futebol como torcedor, a inteligência do jogador, do técnico etc.

A copa da França, em 1998, era para ser algo bacana. Mas eu já tinha a consciência da mediocridade que era Galvão Bueno, CBF e Rede Globo. Isso afeta sim, e muito. E, afinal, aquela copa foi um vexame. A seleção era pessimamente administrada, sofria ingerência da Globo e do marketing. Tudo já era muito podre.

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E a podridão da “convulsão” de Ronaldo foi difícil de engolir, como diria Zagalo - outro partícipe domesticado de todo o imbróglio que era e é a Rede Globo “Dona da Seleção” de Televisão. A narrativa extraoficial é que Ronaldo teve um ataque nervoso ao saber que o Pedro Bial teve um affair com a namorada dele, a Suzana Werner. Mas tudo isso deve ser fofoquinha, claro. 

Só sei que os 3 a 0 para a França na final foi tão bizarro como o 7 a 1 para a Alemanha. Uma vergonha. Uma vergonha, não pela derrota em si, mas pela maneira com que essa derrota foi construída, com desinformação, chantagem e ameaças de patrocinadores. A partir dessa copa, ficou difícil levar a seleção brasileira a sério. 

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Em 2002, eu estava na Unicamp, curtindo muito a linguística. Era paixão mesmo. Torci, vibrei, mas não lembro de nada. Ronaldo com aquele cabelinho me dava nos nervos. Lembro do gol do Ronalducho e só. Basta. Ali, o Brasil jogou solto e mereceu vencer mesmo – se bem que o nível técnico daquela copa foi péssimo; até a Alemanha era um time ruim (só tinha o goleiro que, na final, jogou mal). 

2006 e 2010, já era Rede Globo demais para a cabeça. Era só intriguinha e futriquinha. Nenhum time consegue ser campeão ou empolgar assim. O jornalismo da Globo matou o futebol da seleção, com suas entrevistas mal feitas (que estressavam o grupo), sua perguntas estúpidas e suas exigências contratuais. Acompanhar a seleção era assistir a um circo sem graça (ou a uma novela sem fim). 

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O vexame para Alemanha, em 2014, coroou o “globismo” da seleção brasileira. Quem perdeu mesmo ali foi a Rede Globo de Televisão. Tomou um cacete de 7 a 1. Foi uma questão emocional que abalou todo o time, questão emocional inoculada pela tensão que a Globo provoca com suas exigências e suas narrativas galvão-buênicas que reverberam nos vestiários. Eu ri muito com o 7 a 1. Foi gostoso de ver (na verdade, eu queria mais). 

De sorte que o futebol brasileiro morreu com a Rede Globo e o seu monopólio. Ela matou a arte, matou a garra, matou a torcida, matou a qualidade da transmissão, matou a análise, matou o amor pela bola. 

Essa, meus caros leitores, é a minha história de amor com a vulga seleção brasileira de futebol que, como tudo nessa vida, acaba.

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