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A reedição aloprada e golpista da marcha à ré

Essa gente sofre de uma neurose muito específica. Trata-se da neurose do autoritarismo brasileiro, praticado abertamente nos mitos de um país feliz, sem guerras e de gente boa e receptiva

Essa gente sofre de uma neurose muito específica. Trata-se da neurose do autoritarismo brasileiro, praticado abertamente nos mitos de um país feliz, sem guerras e de gente boa e receptiva (Foto: Gabriel Nascimento)
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Freud, em seu estudo sobre as sociedades modernas, concluiu que as neuroses têm origens comuns nos tabus, que entre os primitivos significavam atitudes e rituais que não tinham explicavam lógica, mas ligação com a relação entre o sagrado e o profano.

É precisamente nas neuroses que buscamos explicação mais factual para a reedição da marcha à ré que aconteceu no sábado último, em São Paulo. O que chamou mais atenção do que o golpismo contra um regime democrático de direito foi o descaramento diante da democracia. Os "militantes" pediam intervenção militar às claras.

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Não sabemos se a intenção dos manifestantes era adiantar a comemoração do dia dos finados, ocorrido no domingo, e fazer o velório de Aécio Neves e do PSDB. Mas sabemos que perder eleição na democracia não é fácil. Lula perdeu três. Nenhum comunista, petista, pedetista ou pessebista foi visto à época pedindo intervenção do exército russo, porque Lula perdeu três eleições seguidas. A esquerda sabe perder. A direita não.

Não só a marcha da família com deus pela liberdade foi reeditada. O udenismo está aí reeditado diuturnamente por uma grande imprensa golpista. O udenismo matou Getúlio Vargas e derrubou o governo democrático de João Goulart. Como em 1964, Dilma e Lula não representam para o Brasil ainda uma esquerda forte e soberana. Das acusações dos manifestantes sobre o Brasil estar virando uma Venezuela e o PT estar implantando o comunismo no Brasil, só podemos esperar de pessoas sérias e lúcidas o riso. Que comunismo é esse, me pergunto, que os bancos privados lucram como nunca antes em nossa história, e o governo sinaliza reformas que agradam, além dos trabalhadores, ao bolso do grande capital? Que comunismo é esse que não renegociou e bloqueou até hoje a amortização dos juros da dívida pública, essa que compromete mais de 40% do PIB?

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Ser de direita no Brasil é ser tão endógeno que aprofundar a democracia causa medo nessa gente. Regulamentar a participação popular através de conselhos e de uma plataforma nacional é, para eles, a implantação de conselhos sovietes. Em seu mundinho ortodoxo, eles provam o quanto a direita brasileira está acostumada a ser golpista e autoritária. O que aconteceu no sábado foi uma marcha à ré, caracterizada pelo ódio de classe, pela xenofobia, com a presença de tudo que é mais atrasado no mundo ocidental.

Essa gente sofre de uma neurose muito específica. Trata-se da neurose do autoritarismo brasileiro, praticado abertamente nos mitos de um país feliz, sem guerras e de gente boa e receptiva. Nosso povo, sempre complexo, foi reduzido durante séculos ao espectro do "bom selvagem", alimentado na prosa alencariana. O "bom selvagem" nunca fez guerra. Na terra do "bom selvagem" há democracia racial e todos são iguais. Os que tentaram fazer guerra, são os revoltados. Os mendigos, as prostitutas, os travestis, as crianças de rua, os menores infratores, os sindicalistas, os membros dos mais diversos movimentos sociais não são brasileiros. São os "outros" desse país do mito patriótico da união e liberdade brasileira. Um certo dia veio a esquerda e tentou "separar" aquele povo que era um só e vivia em igualdade.

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O autoritarismo brasileiro tem como um de seus mitos fundacionais o silenciamento dos oprimidos. Numa terra em que os oprimidos não narram sua própria versão dos fatos, a voz preponderante é sempre do opressor colonizador que, aqui, concentrou terras, dizimou a maioria de nossas nações indígenas, escravizou negros por quase quatro séculos e até hoje tenta perpetuar privilégios. É a esse ideário que se alia a classe média brasileira, essa que tem o nível mais agudo de neurose do autoritarismo. A classe média brasileira, que sempre teve privilégios de poder escravizar empregadas domésticas, as quais trabalhavam a troco de comida em suas casas, está perdendo pouco a pouco esse privilégio. Não é que essa classe média não tenha engolido o Bolsa Família. Ela não engoliu a Lei Áurea ainda. O porteiro agora é visto no mesmo aeroporto em que frequenta a patroa. O filho do pedreiro é visto estudando Direito pelo ProUni. A neurose do autoritarismo, quando ataca, mostra como a direita é descaradamente golpista. O novo udenismo, representado no pedido de recontagem de votos pelo PSDB, ganhou as ruas na forma da marcha à ré. Não é contra Dilma que esse povo está gritando. É contra a democracia, uma democracia cara e que ainda está sendo paga em pesadas prestações.

Só podemos esperar que essa neurose não coloque em risco nossa tão nova democracia. Só podemos esperar que os brasileiros enxerguem cada vez mais o nível de violência a que somos impostos pelos ricos em nosso país. Com essa gente pedindo a intervenção militar, assistimos a uma cena lamentável e vexatória na democracia brasileira. A marcha à ré se reedita pedindo intervenção militar, e a nossa marcha pro futuro segue pedindo mais justiça social ao invés de grades, mais esperança ao invés de ódio, mais democracia ao invés de autoritarismo.

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