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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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A Rússia não foi pega de surpresa ante as sanções impostas pelos EUA

Presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Joe Biden (EUA) (Foto: Reuters)
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A Rússia não foi pega de surpresa ao ser expulsa do sistema Swift, assim como a imprensa ocidental notícia. Na verdade, Putin já espera por isso há anos. O conflito entre a Ucrânia e Rússia foi apenas a desculpa que os EUA precisavam. 

Segundo o jornalista inglês Andrew Salmon, os custos da Rússia, nesta invasão, são surpreendentemente baixos, menos de US $500 milhões por dia. (na verdade, pode ser ainda menor, Salmon usou como referência a imprensa ocidental, a qual sabidamente distorce números e fatos). O jornalista residente na Coreia contínua, a Rússia tem reservas para manter esse conflito por um bom tempo e o discurso de Biden, terça-feira (22), admite isso: “Estamos sufocando o acesso da Rússia à tecnologia que vai minar sua força econômica e enfraquecer suas forças armadas nos próximos anos.”As sanções não englobam as exportações de petróleo, cobaltos, paládio, níquel, alumínio, os quais se forem sancionados quebrarão as cadeias de suprimentos globais. As operadoras de cartão de crédito Mastercard e Visa anunciaram o bloqueio de suas operações no país. O objetivo das punições é atingir a população e os bilionários russos, para causar uma revolta e derrubar Putin. O brasileiro e jornalista aposentado, Mauro Bedê, residente na Rússia desde 1988, foi entrevistado no Brasil 247. Ele desmentiu algumas das notícias dadas por aqui. Entre elas, de que haveria filas nos bancos, pois a população russa estaria retirando dinheiro por medo e, com isso, os bancos do país iriam quebrar. Bedê contou que Putin fez uma reunião com os banqueiros e bilionários russos garantindo que o país se preparou e garantirá os negócios. [assista aqui].

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O jornalista Pepe Escobar, especialista nas Novas Rotas da Seda, e o catedrático em cultura e economia chinesa, Elias Jabbour concordam há anos que essa expulsão do Swift aconteceria e seria inevitável. Jabbour e Pepe acreditam que Putin nunca invadiria a Ucrânia sem estar preparado para uma exclusão do sistema Swift. Tanto a Rússia como a China discutem há longo tempo a necessidade de um sistema paralelo. Suas expectativas eram que a implantação levaria outros tantos anos para ocorrer. 

Para Jabbour, a Rússia terá uma crise cambial no curto prazo, porém, ambos os especialistas concordam que o bloqueio do Swift apenas acelerará a conexão entre os países e unificação dos sistemas SPFS russo (System for Transfer of Financial Messages) com o CIPS chinês (Cross-Border Interbank Payment System). Pepe Escobar é ainda mais otimista que Jabbour, crê no começo de uma desdolarização da economia global. E pelo que parece, a Bloomberg concorda com os dois:  “Afastar a Rússia do sistema global – que lida com 42 milhões de mensagens por dia e serve como tábua de salvação para algumas das maiores instituições financeiras do mundo – pode sair pela culatra, elevando a inflação, empurrando a Rússia para mais perto da China e pode encorajar o desenvolvimento de uma alternativa SWIFT, que possa eventualmente prejudicar a supremacia do dólar americano. Também pode proteger as transações financeiras do escrutínio do Oeste.” [O Jornal GGN publicou: O Swift transformou-se em uma arma de espionagem dos Estados Unidos. (Leia aqui)].

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O Banco Central russo divulgou um relatório anual mostrando que, em 2020, o uso do sistema SPFS dobrou em relação a 2019, e a proporção de uso na Rússia chegara a 20,6%. A Rússia já usa seu sistema de pagamento não apenas com a China, mas também com a Índia e outros membros da União Econômica da Eurásia. Uma união dos sistemas abriria uma grande oportunidade aos países sancionados pelos EUA, os quais realizam comércio de trocas, Venezuela, Cuba, Nicarágua, Bolívia, Síria, Iraque, Líbano etc.

Unificação do SPFS e CIPS: a China adotaria o risco das sanções serem expandidas para si?

Até o momento, Pequim e Moscou têm mantido silêncio sobre a possibilidade, mas a imprensa chinesa, apesar de chamar as sanções de “o uso de uma arma nuclear financeira", adota uma linha de incentivo e algo positivo ao país a unificação do CIPS e SPFS. A rede de notícias sediada em Xangai, Guancha.com (观察员) entrevistou no dia 27, o prof. do Instituto Avançado de Finanças da Universidade Jiaotong em Xangai, Chen Xi.

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Guancha.com - Se os bancos russos forem excluídos do SWIFT, qual seria o impacto disso às pessoas, empresas comuns e ao país?

Chen Xin - Se alguns bancos russos forem removidos do SWIFT, isso definitivamente terá um grande impacto negativo, porque eles não poderão participar das transações financeiras internacionais dominadas pela Europa e pelos Estados Unidos. Para as pessoas, também é ruim, elas não terão como enviar dinheiro aos bancos russos e não haverá como receber dinheiro do estrangeiro. Se você não tiver esse tipo de demanda por troca de capitais externos, não será afetado diretamente, mas haverá efeitos indiretos, como a deterioração da economia doméstica, inflação e assim por diante.

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Guancha: Você pode explicar por que poderá haver inflação no país?

Chen Xin - Se todos os bancos na Rússia perderem a capacidade de realizar transações financeiras internacionais, eles se tornarão ilhas isoladas e as atividades econômicas com países estrangeiros ficarão estagnadas. A Rússia é dependente da exportação de energia e recursos. Se for completamente cortada, sua economia provavelmente se deteriorará rapidamente, o emprego e a renda das pessoas comuns serão afetados. No curto prazo, só poderá responder afrouxando suas finanças e aumentando a oferta monetária doméstica, o que pode levar à inflação.

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Guancha: Na atual declaração conjunta dos Estados Unidos e da Europa, o alvo ainda são alguns bancos russos, e nem todos os bancos estão incluídos...

Chen Xin - Os países ocidentais são muito contraditórios. A Rússia já fez preparativos, a proporção de dólares americanos em suas reservas cambiais caiu significativamente, agora a proporção de RMB (Yuan Renmimbi é a moeda oficial da China) nas reservas cambiais russas aumentou muito em comparação a anos anteriores.

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A Rússia construiu seu próprio sistema de pagamento independente, ou pode adotar o CIPS, como substituto para o SWIFT. O ponto-chave é que todos esses sistemas internacionais transfronteiriços exigem a participação de bancos físicos. Os Estados Unidos ameaçarão de sanções todas as instituições financeiras. Os grandes bancos chineses podem não ousar lidar com isso, sendo assim, a Rússia só poderá escolher bancos pequenos para fazer isso. 

Guancha: E se o banco central russo também for desconectado do SWIFT no futuro?

Chen Xin - Se o Ocidente quiser atacar ainda mais o banco central russo, isso pode ser feito, mas a Europa não quer isso. Os próprios Estados Unidos têm um conflito interno. No entanto, os Estados Unidos devem reagir agora: se a resposta não for dolorosa, terá um impacto negativo em seu prestígio, credibilidade e minará a sua "ordem internacional".

Mas se as sanções forem muito duras, a Rússia cairá para a China de uma maneira geral, o que, na verdade, será prejudicial à estratégia estadunidense, por isso precisam encontrar um equilíbrio. Os Estados Unidos estão hesitantes, com o atual nível de intercâmbio econômico na comunidade internacional, se o comércio entre a China e a Rússia for interrompido, a quebra na cadeia de suprimentos mundial causará danos a toda a economia global. Um grande golpe provavelmente desencadeará uma crise financeira e econômica de longo prazo.

Guancha: Embora tanto a China quanto a Rússia estejam promovendo seus próprios sistemas de pagamento transfronteiriço, muito do comércio sino-russo ainda é liquidado em dólares americanos e euros. As sanções poderiam acelerar a mudança das transações realizadas nessas moedas?  

Chen Xin - Sim, com um cancelamento do SWIFT, os pagamentos em dólares americanos e euros podem ser liquidados para RMB, o que é bom para nós. A Rússia originalmente não queria se vincular totalmente à China, desejava retornar à sociedade ocidental, porém, essa não quer aceitá-la. A sociedade ocidental precisa de um inimigo, especialmente os Estados Unidos. A Rússia foi a designada e não tem escolha a não ser gradualmente se voltar para nós.

Guancha:  Que experiência podemos aprender com a construção de nosso sistema de pagamento transfronteiriço em RMB? Que melhorias podemos realizar para no futuro resolver questões como essa?

Chen Xin - O CIPS ainda depende de bancos como entrelaçamentos, e esses podem ser sancionados e influenciados. Por exemplo, o sistema de pagamento construído pela própria China pode não seguir o sistema SWIFT controlado pelos Estados Unidos, mas há os bancos intermediários. Os Estados Unidos podem sancionar esses bancos intermediários. Se ninguém tiver permissão para fazer negócios com bancos chineses, e outros realmente acompanharem e cooperarem, então esse sistema não funcionará. A chave é que os Estados Unidos não podem sancionar os bancos chineses dessa maneira, ninguém poderia arcar com as perdas da economia global. [leia a entrevista original aqui].

As escolhas das análises neste artigo, tiveram como foco mostrar as opiniões divergentes e os pontos de vistas do outro lado do mundo, os quais não têm espaço na cobertura jornalística feita pelos veículos da imprensa corporativa ocidentais. A verdade é que os acontecimentos ainda são muito recentes e estão em constante mudanças. Não dá para se ter certeza o que virá por aí, nem quais serão as decisões políticas tomadas pelos países envolvidos.

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