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Sylvia Siqueira

Jornalista, ecofeminista e antirracista, é diretora executiva da organização Nossa América Verde

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A saída justa da crise é verde, nos alimenta e gera futuro com reparação histórica

Organizações de defesa de direitos humanos e ambientais insistem que a expressão “novo normal” naturaliza as violências sistêmicas que nos trouxeram até aqui. Nunca deve ser normal alguém viver em condições desumanas em qualquer lugar do mundo

Produtores do MST (Foto: Alex Garcia/MST)
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Por Sylvia Siqueira

A pandemia de coronavírus descortinou a crise humanitária que vivemos há séculos na América Latina. A adoção de medidas sanitárias como o “fique em casa, se puder” para diminuir o contágio da Covid-19 apontou os holofotes para as milhares de vida em risco em razão da falta de comida e moradia, da má infraestrutura no acesso à agua e saneamento básico, da baixa formalidade de emprego e geração de renda, da precariedade nos serviços de saúde e na estrutura educacional, além das violências cometidas contra crianças e mulheres no ambiente em que deveriam estar protegidas. A vacina contra a é parte da solução para a volta às ruas, mas nossa responsabilidade é adotar medidas que erradiquem as raízes da desigualdade nas relações de gênero, raça e classe.

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É nesse contexto que quarenta países se reúnem na Cúpula do Clima. Sete deles são da América Latina e Caribe, a região mais desigual do planeta. Os líderes mundiais e chefes de Estado devem apresentar soluções para manter o limite de aquecimento da Terra em 1,5°C. Essa urgência exige metas de curto prazo como reduzir a queima de combustíveis fósseis, erradicar o desmatamento, zerar a emissão de gases poluentes à atmosfera por indústrias e automóveis, não poluir o solo e os recursos hídricos. Tarefa difícil para Estados que funcionam num modelo econômico que explora pessoas e destrói a natureza para gerar riqueza cada vez mais acumulada. Não é à toa que os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas, cerca de 60% da população do planeta, como apontou o relatório da Oxfam “Tempo de Cuidar – O trabalho de cuidado não remunerado e mal pago e a crise global da desigualdade”, lançado em janeiro de 2020.

Por isso, organizações de defesa de direitos humanos e ambientais insistem que a expressão “novo normal” naturaliza as violências sistêmicas que nos trouxeram até aqui. Nunca deve ser normal alguém viver em condições desumanas em qualquer lugar do mundo. E nessa perspectiva, é nosso direito reivindicar que a Cúpula do Clima, convocada por Joe Biden (Presidente dos Estados Unidos da América), apresente ações para a promoção da justiça ambiental, social e econômica. Isso porque alterar o rumo atual das mudanças climáticas tem relação direta com o modelo de desenvolvimento dos países e as relações financeiras transnacionais.

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Nós, do movimento Nossa América Verde, acreditamos na potência da política comprometida com a história, com todos os seres vivos e o planeta. Como discurso não enche prato, nem coloca vacina no braço, apresentamos o Plano de Recuperação Econômica com Justiça Social e Ambiental 2020 – 2030, que reúne assinaturas de parlamentares de países como Brasil, México, Chile, Argentina e Guatemala. São catrorze propostas construídas com base em evidências e cooperação internacional para frear as mudanças climáticas, reduzir desigualdades e melhorar a qualidade da vida das pessoas.

Este momento da história não aceita mais ações que amenizem as destruições e violências. Logo, a Cúpula do Clima e outros eventos de alto impacto nas políticas nacionais para reduzir mudanças climáticas precisa considerar: a proteção da Amazônia e de todas as áreas de preservação ambiental, a transição acelerada do modelo energético atual para uma matriz de energia limpa, a erradicação do déficit habitacional com moradias sustentáveis, a implantação do sistema de transporte elétrico gratuito, não motorizado e interurbano de baixa emissão, a adoção de renda básica como política de segurança humana para famílias em situação de vulnerabilidade, o estabelecimento de imposto sobre riqueza para o 1% mais rico, o acordo de paz e cooperação para reduzir gastos militares, criação de um banco de desenvolvimento verde para a promoção de atividades comerciais e industriais, respeitando as pessoas e o planeta, e compartilhando a riqueza de forma equitativa.

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Na América Latina os 10% mais ricos concentram 37% da riqueza, enquanto os 40% mais pobres se viram com 13%, como apresentou o Mapa da Desigualdade, da ONG Rede Nossa São Paulo. Não podemos voltar a esse “normal”. A saída das crises (visíveis e invisibilizadas) parte do modo como nos assentamos na Terra, preservamos a natureza e cuidamos de todos os seres. É possível a partir de uma mudança de chave mental sair das práticas colonizadoras e exploradoras para compartilhar riquezas e gerar bem viver. A Reunião do Clima precisa levantar questões de cooperação verde do Norte para o Sul e entre países do Sul. É sobre redefinição de prioridades orçamentárias, considerando a responsabilidade de reparar os danos causados ao longo da história.

Entender que não podemos permitir espaço para a fome na casa ao lado é se sentir corresponsáveis pela mudança na estrutura da sociedade. Por isso é tão importante produzir evidências e ter acesso à informação segura e acessível, para aprofundar a qualidade da governança em Estados democráticos. Quanto mais consciente for a nossa sociedade, maior será a possibilidade de alterar o rumo dos nossos países. E não podemos fazer menos do que exigir dos chefes de Estado uma política de cuidado com todos os seres e das áreas de proteção ambiental, adotando medidas de equidade e reparação histórica junto aos povos originários, às populações negras e afrodescendentes. A urgência por ações políticas verdes e justas é para anteontem, fazendo parte de um modelo de desenvolvimento econômico, social e ambiental, ou o mundo nunca será sustentável.

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