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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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A Terra e o Homem

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A obra “Os sertões” de Euclides da Cunha, trata da Guerra de Canudos (1896-1897), no interior da Bahia. Euclides da Cunha presenciou uma parte da guerra como correspondente do jornal O Estado de São Paulo. Ele passou quase dois meses observando de perto o conflito de Canudos. A cobertura rendeu, em 1902, o livro “Os Sertões”.

Antes de testemunhar por dois meses a guerra, Euclides defendia ferrenhamente, em diversos artigos, que o movimento de Canudos era monarquista e tinha como único objetivo derrubar a república, uma mentira repetida à exaustão pela propaganda oficial. Contudo, Euclides reviu sua posição em “Os Sertões”, depois de conhecer as condições duríssimas condições de vida dos sertanejos, a organização da comunidade liderada por Antônio Conselheiro, e a absoluta ausência do Estado que deveria conhecer e atender as demandas daqueles brasileiros; um abandono, incontestável, da monarquia, e mantido na república.

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Euclides da Cunha testemunhou a dor, o sofrimento, o sentido da vida e da morte dos sertanejos, pessoas simples, do povo, a quem era negada dignidade pelo Estado. 

Para enfrentar aquele dura realidade Antonio Conselheiro oferecia o olhar amoroso e fraterno, além de disciplina, tão necessários para encher os corações de esperança. Sem uma esperança confiável que ajude o homem a enfrentar seus dias e a certeza da  dor e a morte, ele não consegue viver bem e conservar uma perspectiva confiante diante de seu futuro. Este foi um dos serviços que Canudos, rebatizada de Belo Monte, prestava aos seus moradores.

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Em sua terceira e última parte, “Os Sertões” traz um relato minucioso da Guerra de Canudos. Mas, antes disso, nas duas primeiras partes do livro, Euclides situa o leitor sobre dois elementos decisivos para o entender a luta daqueles sertanejos pela sobrevivência e por dignidade, na medida em que viviam quase num sistema feudal, de semiescravidão: A Terra e o Homem. 

A pequena comunidade de Canudos, no nordeste baiano, já existia desde o século 18, mas foi a partir de 1893, que o vilarejo passou por um crescimento vertiginoso com a chegada de uma figura que marcaria para sempre a história do lugar. Antônio Conselheiro, esse era o apelido de Antônio Vicente Mendes Maciel, que há anos vagava pelos sertões pregando valores sociais e cristãos. Alguém preocupado com questões sociais numa nação ávida por servir interesses das elites local e europeia. 

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Conselheiro não era monarquista, era de fato um critico da recém-instaurada república, em razão de seu afastamento da Igreja, mas o que incomodou de fato o governo, sempre refém da elite, eram seus discursos sobre as condições miseráveis de vida dos sertanejos e o pouco auxílio que recebiam dos governantes.

A República, na verdade, aparecia no sertão quase que unicamente com um objetivo: a cobrança de impostos. A tudo isso, associava-se ainda o histórico de concentração de terras improdutivas e a seca da região. 

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Com seu discurso messiânico, Antônio Conselheiro passou a atrair cada vez mais gente para a região de Canudos, vivendo sob-regras e princípios que se descolavam cada vez mais da República, mas não se opunham a ela. Nascia o povoado de Belo Monte. 

Incomodados com o crescimento do vilarejo e com a ameaça que seus moradores poderiam representar, os latifundiários da região moldaram pouco a pouco a opinião pública fazendo acreditar que o plano de Antônio Conselheiro era construir um exército para restaurar a monarquia. Verdadeiro Fake News, desconstruído por Euclides e sua obra.O fim dessa história todos conhecem: o Estado, para atender o interesse de sua elite, é autor de um dos maiores massacres da história do Brasil, ceifando a vida brasileiros e brasileiras que buscavam em Belo Monte dignidade. Em 1897, na quarta incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

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As vidas deveriam valer por sua dignidade, e não por sua eficiência e produtividade. Em nome da defesa da propriedade, da eficiência e da produtividade, todo tipo de crimes, inclusive genocídios, são cometidos, mas maiores barbaridades são cometidas em nome da defesa da economia. Nesse cenário é preciso reiterar que a vida humana, desde a concepção até a morte natural, possui uma dignidade que a torna intangível.

Desde o início da nossa república ao povo é proibida a luta pela dignidade. 

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Acredito que o Papa Francisco nos orienta, com saberia e com a graça do Espírito Santo, quando diz que “Somente uma visão do ser humano como pessoa, ou seja, como sujeito essencialmente de relação e dotado de uma racionalidade peculiar e ampla, é capaz de agir conforme a ordem objetiva da moral. O Magistério da Igreja sempre reiterou com clareza, a esse propósito, que a atividade econômica deve ser conduzida segundo as leis e os métodos próprios da economia, mas no âmbito da ordem moral.”, o massacre de Canudos, ou Belo Monte, é obra tão própria dos vassalos dos interesses do mercado.

Essas são as reflexões.

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