A Ucrânia quer paz, a Rússia quer guerra
Jornalista Alex Solnik destaca que a "cada novo dia de guerra" na Ucrânia "significa destruição da infraestrutura e perdas humanas irreparáveis"
Por Alex Solnik, do Jornalistas pela Democracia
Não há um pingo de sinceridade da Rússia ao sinalizar que está disposta a dar fim rápido à guerra.
Conversa, mas é conversa pra boi dormir. Empurra com a barriga, finge que negocia, enquanto a invasão da Ucrânia continua. Prosseguir atacando é mais negócio para Putin que tirar o time de campo. Quanto mais fraca a Ucrânia, maior o cacife na negociação de paz. Negociar na bacia das almas é o seu plano.
À Ucrânia interessa o fim da guerra para ontem, porque sabe estar em inferioridade militar e cada novo dia de guerra significa destruição da infraestrutura e perdas humanas irreparáveis.
As cidades ucranianas estão sendo bombardeadas, não as russas. Civis ucranianos estão morrendo, não os russos. A economia da Ucrânia está em frangalhos, abalada pela paralisação ou desaceleração das forças produtivas, cancelamento das exportações de grãos e a fuga da população. Não a russa.
Mesmo afetada fortemente pelas sanções dos Estados Unidos e da Europa, a Rússia acumulou reservas em moeda estrangeira que permitem tocar o barco por um bom tempo, ao menos até junho, de acordo com um relatório publicado na mídia russa.
Daí a urgência externada por Kiev e a calma modorrenta de Moscou.
As duas posições revelaram-se na reunião de hoje, em Antália, Turquia, entre os chanceleres russo e ucraniano.
Dmytro Kuleba propôs cessar fogo imediato de 24 horas, mas Lavrov nem deu bola. Insistiu no discurso negacionista - “a Rússia não atacou a Ucrânia” -, acusou a Ucrânia pelo bombardeio da maternidade em Mariupol (“comando Azov se infiltrou no hospital”), repetiu o surrado refrão de que o alvo da invasão da Ucrânia é o neonazismo (“batalhões com as listras SS”) ou seja: não deu sinal algum de baixar armas.
A Ucrânia quer paz. A Rússia quer guerra.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
