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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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A valsa do Val com o mal

O bolsonarismo não tem conserto, é um concerto de assassinos, salteadores, golpistas, mentirosos, milicianos, maus militares e degenerados

Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/Youtube)
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Por Weiller Diniz, 247 - Quatro valdevinos, com “Val” em seus nomes, sapateiam descompassados no tablado crepuscular do bolsonarismo. Valdemar Costa Neto, Walderice Santos, Arthur do Val e o senador Marcos do Val, todos requebrando em delinquências e pisoteando a legalidade. Walderice Santos é a vedete Wal do Açaí. A moça se fantasiou de Wal do Bolsonaro em 2020 para ciscar uma vaga de vereadora em Angra do Reis. Ganhou apenas uma ‘live’ do patrão, gélida como a morte. O apoio de Bolsonaro em um dos principais palcos da milícia carioca rendeu a ela míseros 266 votos. No município o capitão obteve 63 mil votos (74% do total da cidade) em 2018. Repelida, voltou ao figurino da Wal do Açaí e enfrenta o balcão empoeirado da venda de açaí na vila de Mambucaba. Só não regressou ao anonimato total das coxias em razão da suspeita ser uma dançarina fantasma do rapaz que se acha o tal. A ex-secretária parlamentar afirmou em uma audição com os procuradores que “nunca” esteve em Brasília. Wal era secretária no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro e esteve lotada por lá mais de 15 anos, mas nunca se apresentou em Brasília ou exerceu atividades relacionadas ao cargo. Segundo o MP, a análise das contas bancárias da Wal do Açaí mostrou coreografias muito toscas: 83,77% do cachê público foi sacado na boca do caixa, sendo que, em alguns anos, esses percentuais dos saques superaram 95% dos rendimentos. No pacato proscênio carioca é rotineiro circular com dinheiro em espécie. Transitar nos subterrâneos com grana é um dos principais papéis da ética bolsonarista.

A ficha corrida de outro bailarino da delinquência, Valdemar Costa Neto, é bem mais elástica. A falsidade ética de Bolsonaro caiu de vez na filiação ao PL, liderado por um dos salteadores mais famosos do Brasil. Valdemar da Costa Neto foi um dos presidiários do mensalão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Encarna a reumática dançarina que, apesar da prisão, das lesões morais, do declínio da técnica e do enxovalho público, segue dando muitas piruetas nos espetáculos públicos. Ele foi condenado em 2012 pelo Supremo Tribunal Federal a 7 anos e 10 meses de prisão e uma multa que ultrapassou R$ 1 milhão. Pouco, diante dos R$ 8,8 milhões do que amealhou nos recitais com seus parceiros do submundo. A condenação pelo crime de corrupção passiva foi por 5 votos a 4. A maioria seguiu a pena menor, proposta pelo juiz Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, de 2 anos e 6 meses de prisão. Vários ministros alegaram que o bailado tortuoso de Valdemar merecia castigo maior. O ‘grand-finale’ sugerido pelo relator Joaquim Barbosa foi de 4 anos e 1 mês de prisão. Valdemar foi preso em 2013 após a Suprema Corte decretar o trânsito em julgado. Em 2020, nessa longa evolução pelo Código Penal, se tornou réu por peculato, corrupção passiva e fraude a licitação por um suposto esquema de superfaturamento nas obras do trecho da Ferrovia Norte-Sul.

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Em 21 de julho de 2005, Maria Christina Mendes Caldeira, ex-partner de Valdemar, prestou um depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados sobre os gestuais furtivos do esposo. Ela acusou o ex-marido de possuir “um cofrão” lotado de dólares. “Não era um cofre de porquinho”, comparou provocando risadas na plateia. Ela contou ainda que assistiu Valdemar entregar um pacote de dinheiro público ao ex-deputado Remi Trinta do PL do Maranhão: “uma mala dessas que vocês recebem aí”, disse ela arrancando novas gargalhadas. À época os deputados recebiam uma pasta estilo de executivo no início dos mandatos. Escalado por Valdemar para intimidar o antigo par, o então deputado Edmar Moreira, foi desmoralizado: “o mensalão existe e o Valdemar recebeu”, cravou Mendes Caldeira. O fiel Edmar Moreira, soube-se depois, sonegou impostos incidentes sobre um mega castelo, no interior de Minas, avaliado em R$ 19 mi. Valdemar foi obrigado a sair de fininho do palco para evitar a cassação. Foi reeleito em 2006, mas mesmo sem mandato, no “backstage”, nunca se afastou de cargos partidários que possibilitem rapinar as bilheterias do poder. Foi esse tipo de gente, com essa vida pregressa, que Bolsonaro escolheu para redigir o roteiro e tomar conta do caixa. 

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou em maio de 2022 a cassação do mandato do então deputado estadual Arthur do Val, outro Val da companhia bolsonarista. O gingado da renúncia para evitar a perda dos direitos políticos por 8 anos não colou e a cassação foi aprovada por unanimidade entre os 73 deputados que participaram do julgamento. Conhecido como ‘Mamãe Falei’, Arthur do Val é o primeiro deputado cassado pela Alesp em mais de 23 anos e agora é o ‘Mamãe dancei’. As “Ucranianas são fáceis, porque são pobres”. A frase torpe do ex-deputado Arthur do Val, cujo ritmo bolsonarista é indisfarçável, foi a razão da cassação por quebra de decoro. O descompasso sexista e a vulgaridade nos horrores de uma guerra, uma necrofilia repugnante, iluminaram mais um cafajeste, que foi alçado um a mandato eletivo por grupos cênicos da impostura. O MBL é um dos movimentos mais cínicos da nova política, que eclipsou os palcos políticos do Brasil e entronizou Jair Bolsonaro. 

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Quem completa a trupe maltrapilha dos Val é o senador Marcos do Val. Ele escorregou feio e confessou ao jornal “Estado de São Paulo” que recebeu R$ 50 milhões em emendas de relator — conhecidas por formarem o chamado “orçamento secreto” — por ter dançado no corpo de baile que remexeu os cofres públicos para eleger Rodrigo Pacheco na direção do Senado. O senador do Val narrou como foi o compasso da ilegalidade: “O Rodrigo Pacheco virou e falou para mim assim: ‘Olha, Marcos, nós vamos fazer o seguinte: os líderes vão receber tanto, os líderes de bancada tanto, essa foi a nossa divisão’. E ele me passou isso porque eu fui um dos que ajudei ele a ser eleito presidente do Senado. E aí eu falei: ‘Pô, legal, está transparente e tal’. Aí, ele falou: ‘Olha, se a gente conseguir mais uma gordura, eu direciono para você’. Não foi uma coisa: ‘Mas eu preciso que você me apoie’. Grande parte dos recursos do orçamento secreto rodopiaram pelos salões escorregadios e mal iluminados do Ministério da Educação, manchados por denúncias e com uma CPI mirando os bastidores da pasta. A diferença entre o sarau desonesto, admitido pelo senador do Val, e a vala do mensalão é a inflação das sapatilhas do espetáculo. 

Em julho de 2005 o deputado Roberto Jefferson, parlamentar com uma assídua participação nos bamboleios clandestinos do poder, desde os minuetos de Fernando Collor, escancarava os bastidores de um esquema de pagamento de mesadas, pelas quais o governo corrompia parlamentares regendo uma base subserviente no parlamento em função do cachê palaciano. A partir de uma entrevista à jornalista Renata Lo Prete, publicada pelo Jornal “Folha de São Paulo”, entraram em cartaz os primeiros acordes do “mensalão”, como ficou conhecido o escândalo que esfolou as articulações, joelhos e tendões do PT, o PP, PL, PSDB, DEM e MDB e seus principais componentes. A denúncia ensejou a criação de duas CPIs simultâneas. A Comissão Parlamentar dos Correios, uma vez que a denúncia original registrava o recebimento de propina por um servidor da estatal (Maurício Marinho), e a CPI do mensalão. Por um tropeço histórico, a CPI intitulada do “mensalão” encerrou sem conclusões. A que resultou nas prisões e cassações foi a CPI dos Correios.

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Jefferson detalhou que o governo subornava vários deputados com valores em torno de R$ 30 mil por mês para reverenciar as propostas palacianas. Valor modesto, se comparado aos R$ 50 milhões atuais. O financiamento, supostamente, saiu dos orçamentos de publicidade das empresas estatais, canalizados através de uma agência de publicidade de propriedade de Marcos Valério. A investigação envergou a coluna dorsal dos grandes partidos e lesionou parlamentares do PT, PSDB, do DEM, do PMDB e de sete outros partidos políticos. Vários deputados foram confrontados com a escolha de renúncia ou expulsão do congresso. A despeito do esfolamento de muitas biografias, o presidente Lula foi reeleito em 2006 e, em 2010, escalou Dilma Roussef como sucessora. Lideranças expressivas foram afetadas, muitos parlamentares renunciaram, outros foram barrados pelas urnas e poucos foram cassados. Roberto Jefferson, autor das denúncias, foi expulso do arrasta-pé da Câmara dos Deputados em 14 de setembro de 2005 por quebra de decoro. Os maiores embates naquele período antagonizaram as duas maiores estrelas da ética de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e o próprio Jefferson.

A participação do PL no bailão do “mensalão” foi coreografada pelo ex-presidente do PTB, o próprio Roberto Jefferson. Na época era um aliado de Lula e hoje é mais um dos órfãos de Bolsonaro e segue em rodopios solos na cadeia estreita. Dançou por atravessar o ritmo democrático. Valdemar Costa Neto, no melhor estilo guerra de quadrilha, representou no Conselho de Ética contra “Bob” Jefferson. Na dupla condição de dedo-duro e acusado, Jefferson citou como beneficiários das propinas o próprio Valdemar Costa Neto, os deputados do PL Sandro Mabel e Bispo Rodrigues, além de três parlamentares do PP (Pedro Corrêa, então presidente da sigla, José Janene e Pedro Henry). Na sessão da Comissão de Ética em que Jefferson entregou todo bailado delinquente da gangue, Valdemar Costa Neto abriu as cortinas do cinismo: “Então dê os nomes”. O ex-presidente do PTB fuzilou: “Afirmo que Vossa Excelência recebe e repassa”. Jefferson perdeu o mandato. Ele, Valdemar Costa Neto, Corrêa, Henry e Rodrigues, entre outros, foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República no baile do mensalão e, depois, condenados a penas variadas pelo STF em 2012. Valdemar também abusou das coreografias secretas para esconder o dinheiro ilícito usando a empresa fantasma Guaranhuns Empreendimentos. Anos depois, Valdemar contracena um “pas de deux” do cinismo com Bolsonaro e Jefferson segue trancafiado em Bangu, bailando doente, traído e rejeitado.

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Foram sete anos, sessenta e nove sessões em plenário para julgar os farristas do bailão do mensalão. Dos 40 denunciados pelo Ministério Público, em 2006, 24 foram condenados. Todos os sentenciados do núcleo político evoluíram para o regime semiaberto, alguns operadores foram para o regime fechado, parte dos políticos cumpriu penas alternativas e muitos renunciaram. As penas totalizaram 279 anos de cadeia. O orçamento secreto, confessado e gravado pelo senador do Val e em exibição pública, com pegadas esparramadas em vários palcos estatais, é um escândalo pré-datado com valores muito superiores ao acanhado mensalão original. Nas próximas temporadas esses valdevinos e muitos outros, por outras coreografias ilegais, haverão de acertar o passo com a justiça. O bolsonarismo não tem conserto, é um concerto de assassinos, salteadores, golpistas, mentirosos, milicianos, maus militares e degenerados.

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