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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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A vaquinha não vai pro brejo

"A atitude das autoridades de Brasília em relação aos artistas mortos pelo vírus, pela solidão e decepção ou pelo próprio tempo mostra que estamos abandonados à própria sorte", diz o colunista Miguel Paiva, para quem o governo Bolsonaro "demoniza os artistas". "A hora é agora de nos unirmos, juntarmos nossas forças e recursos, quem tem, para que a troca seja mútua"

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

A crise na criação cultural, teatro, cinema, artes visuais, literatura, entre outros, já vinha antes da pandemia por conta de um governo que não tem afinidade alguma com essa história de cultura artística. O negócio deles era a economia, Paulo Guedes e sua turma, eles sim importavam. Só que com a pandemia esse barco também afundou. Além de abandonados ficamos literalmente ao relento. O episódio Regina Duarte só confirmou essa atitude do governo, se é que podemos chamar assim, em relação ao mundo cultural. A atitude das autoridades de Brasília em relação aos artistas mortos pelo vírus, pela solidão e decepção ou pelo próprio tempo mostra que estamos abandonados à própria sorte.

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Quem segue as regras de isolamento por preservação da vida se deu pior ainda. Estou há quase 3 meses longe da vida urbana, dos filhos, e dos amigos. Da vida cultural já estava antes porque ela vinha diminuindo a olhos vistos. Mas ainda tinha projetos. Minha peça Reféns, com Herson Capri e Romulo Estrela e direção de Moacir Chaves deveria estrear em setembro com ensaios começando agora. Foi tudo adiado. Angela, minha mulher, estaria estreando dia 4 deste mês uma peça, junto com  Denise Del Vecchio e direção de Vitor Garcia Peralta, do autor espanhol José Sanchis Sinisterra chamada O Cerco. Em relação ao teatro não sabemos ainda o que acontecerá. 

Minha vida de cartunista aparentemente segue fértil e acelerada. Os motivos são muitos mas o dinheiro é pouco. A relação trabalho/gratificação virou uma coisa imponderável. Repito sempre que estou aprendendo a desvincular o trabalho do dinheiro. E é o que acontece. Os sites onde trabalho lutam arduamente para sobreviver informando aos leitores carentes e para pagar seus colaboradores. Se abandonamos essa luta ficaremos além de ao relento, às cegas em relação ao que acontece no país. Mas todos precisamos sobreviver. As fontes de renda secaram, mas o país continua fazendo água. Não dá para ignorar. 

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Como resolver esse dilema, além da vontade política de cada um? Quando o fim do mês chega a vontade dos credores é a de te colocar no pau se você não pagar o que deve. Além de tudo, eu e meus pares, alguns, somos do grupo de risco. Nem sei bem porquê, mas somos. Temos idade e talvez não comorbidades para isso. Quando será que me permitirão voltar ao meu ritmo de vida  sem que eu seja obrigado a ficar em casa? Quero usar a saúde e a energia que tenho para voltar a produzir e a ganhar dinheiro para sobreviver. Preciso publicar, escrevendo e desenhando. Preciso ilustrar, realizar projetos de programação visual, escrever minhas peças e fazer meus cartazes, apesar de esbarrar num governo que além de não incentivar reprime e demoniza os artistas.

Como será o novo normal para isso tudo? Talvez voltemos às origens das relações comerciais, ao escambo de um modo mais elástico. Eu preciso de uma coisa, vou lá e troco por outra que tenho sobrando. Preciso de informação, entro numa vaquinha que ajuda quem faz a informação a sobreviver. Sem intermediários, sem as artimanhas do mercado que foram criadas esses anos todos. Talvez até sem patrão. Consumo direto. Algumas experiências vem sendo feitas com algum sucesso. O artista ou jornalista de hoje passa a ser sustentado por quem tem, como no tempo dos mecenas, dos Médicis, da velha Florença que sustentava seus artistas. 

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Claro que merecemos isso. Todos que já deram boa parte das suas vidas para a cultura brasileira mereciam estar tranquilos, recebendo do Estado o suficiente para sobreviver com dignidade por conta de tudo aquilo que já fizeram. Eu merecia, o Aroeira merecia, o Eric Nepomuceno, o Ricardo Kotscho, o Ziraldo, o Jaguar, tantos e tantos que continuam ai na batalha não só por que ainda tem energia e criatividade para botar pra fora como porque precisam sobreviver. Saber que existe uma quantia de dinheiro enorme já destinada ao setor cultural por lei e que não é liberada pelo governo revolta ainda mais. A hora é agora de nos unirmos, juntarmos nossas forças e recursos, quem tem, para que a troca seja mútua. Vamos organizar isso e em breve nos alimentaremos numa grande mesa comum, numa ceia cultural em que todos estão convidados e que o preço é a contribuição que cada um é capaz de dar. Que a vida cultural seja uma enorme vaquinha coletiva onde todos tenham acesso ao que virá, seja na TV, no computador, em áreas livres ou nos saudosos teatros e cinemas de nossas vidas.

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

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