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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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A vergonha é verde

As patentes no Brasil quase sempre foram sinônimo da morte. O “braço forte, mão amiga” armou os fortes na ditadura para disparar contra o próprio povo, maculando a história com sangue e infâmia

(Foto: Leopoldo Silva)
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Por Weiller Diniz

Nas paletas coloridas do cinema pelo mundo a liberdade é azul, a igualdade é branca, a fraternidade é vermelha e há 50 tons de cinza. No documentário Brasil a vergonha é verde, verde-oliva. Pelos dados do Tribunal de Contas da União perto de 6 mil quepes rebaixaram suas patentes, desprezaram a Nação e expuseram as Forças Armadas ao enxovalho em nome de uns trocados a mais no soldo daqueles que se engajaram no caos generalizado e mortal da atrapalhada gestão do capitão.

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Os expoentes máximos da inépcia, sinônimos do morticínio na pandemia e símbolos do desprezo pela vida têm as mesmas origens nas tropas verdejantes: o capitão Bolsonaro, expulso do Exército, o general de divisão Eduardo Pazuello e um perfilamento de outros generais igualmente despreparados. Pela incompetência verificada nunca deveriam ter passado de recrutas.

Depois da condução genocida no Ministério da Saúde, o número de casos e mortes explodiu no colo adiposo de Pazuello. Quando se alistou por lá em 15 de maio de 2020 eram 14,8 mil mortes e 218 mil casos de infecção. Ao passar o bastão, 10 meses depois, em 24 de março de 2021, eram 301 mil óbitos e 12,2 milhões de casos. Na chacina sem precedentes o caos foi generalizado. Em Manaus, o desabastecimento de oxigênio matou brasileiros asfixiados, enquanto isso 70 milhões de doses do imunizante da Pfeizer foram desprezadas pelo governo federal, que nem sequer houve deu respostas à empresa farmacêutica. O general também recuou, por subserviência acrítica, na compra de 46 milhões da vacina do Butantan. O general Pazuello foi rebaixado e humilhado pelo capitão para desfazer a compra. Saiu-se com um vexatório “um manda, outro obedece”. Se tivesse um mínimo de dignidade, deveria ter pedido baixa imediatamente.

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Pazuello também passou por outras desonras ao ser sitiado pelo STF e obrigado a divulgar um plano nacional de vacinação, inexistente no auge da pandemia. O improviso da cavalaria se deu depois do adestramento judicial. Na solenidade do anúncio de um arremedo do tal plano, ao tentar escamotear o atraso brasileiro, novamente brilhou a estrela da parvalhice. “O povo brasileiro tem capacidade de ter o maior sistema único de saúde do mundo, de ter o maior programa nacional de imunização do mundo, somos os maiores fabricantes de vacinas da América Latina. Para que essa ansiedade, essa angústia?”. A triste verdade, que chora “no céu da pátria neste instante” é que o Brasil está na retaguarda da imunização com doses insuficientes e descontínuas. Somos um pelotão abandonado à própria sorte por alguns generais obtusos.

Em outra forma da desonra, o mago da logística ilógica desperdiçou uma fortuna para estocar cloroquina para anos. O medicamento é inútil para o tratamento da Covid 19 e tem graves efeitos colaterais. Além disso quase perdeu cerca de 7 milhões de testes em um país marcado pelo déficit de testagem. Os argumentos para justificar o entupimento dos paióis do Exército com a cloroquina são de soldado raso: “Nesse sentido, e dentro do que revela a experiência humana, não poderia ser exigível comportamento diverso do Laboratório Químico Farmacêutico do Exército, senão a busca dos insumos necessários e pronto atendimento às prementes necessidades de produção da Cloroquina que, por seu baixíssimo custo, seria o equivalente a produzir esperança a milhões de corações aflitos com o avanço e os impactos da doença no Brasil e no mundo.” São milhares de comprimidos estocados por falta de demanda e com suspeitas de superfaturamento.

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Chamado a prestar contas sobre sua gestão catastrófica à CPI do Senado que investiga a tragédia brasileira, Pazuello se acovardou.

Alegando respeito às recomendações de distanciamento social, que sempre ignorou, adiou o depoimento à CPI. Se cerca de advogados para procrastinar ou silenciar durante o depoimento. Ao ser convidado como testemunha, Pazuello, que é investigado em um inquérito aberto pela Procuradoria Geral da República, pode ficar sitiado a ponto de não conseguir preservar o capitão, responsável pessoal pela indicação de medicamentes ineficazes e atraso na aquisição de vacinas. Além de desprezar vacinas, Bolsonaro deu uma ordem para cancelar a compra dos imunizantes do instituto Butantan. ” Já mandei cancelar se ele [Pazuello] assinou. Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse em 21 de outubro de 2020 assumindo a autoria de uma ordem irresponsável que custou milhares de vidas e pelas quais ele pode pagar muito caro.

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A estratégia de Pazuello ao ingressar na fortificação da Saúde foi a camuflagem total. Desativou as entrevistas diárias, retardou a divulgação dos dados de mortes e contaminados e até mesmo tentou esconder nossas vergonhosas estatísticas. Como seus preceptores no golpe de 1964, quis ocultar os cadáveres. O STF enquadrou o general e mandou dar publicidade diária do balanço da Covid 19. Em uma das primeiras marchas públicas, na Câmara dos Deputados, derrapou feito sobre o clima, embaralhando o inverno das regiões brasileiras com o hemisfério norte. Depois se desinibiu em novos disparates. Disse ignorar o que era SUS e também o que foi o AI-5. As continências vassalas ao obscurantismo desabonaram a imagem do Exército, desmoralizaram a formação de seus oficiais e envergonharam as Forças Armadas. O céu da pátria não é mais risonho e límpido.

O então secretário de Atenção Especializada à Saúde, coronel Luiz Otávio Franco Duarte, despachou uma ordem unida para uso da cloroquina, remédio sem eficácia comprovada, rechaçado pela ciência e autoridades mundiais de saúde. Charlatanismo, curandeirismo e exercício ilegal da medicina estão no Código Penal. Élcio Franco, coronel aposentado, ex-número 2 da Saúde e agora na Casa Civil, desdenhava das vacinas e defendia o uso de cloroquina. Em um grupo de conversas, revelado pelo jornal “O Globo” chegou a dizer em 12/6/2020 que as mortes estavam caindo drasticamente devido do “protocolo Bolsonaro. É mesmo coronel, segundo testemunhou o CEO da Pfeizer, Carlos Murillo, que comandava as negociações da vacina, atrasadas em mais de 6 meses. Élcio Franco é presença certa nos desdobramentos da CPI.

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Outro exemplo valoroso das nossas Forças Armadas é o ministro general Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil. Gravado em uma reunião que pensava ser reservada, o general disse que tomou a vacina contra a Covid-19 “escondido” e que tentaria convencer Jair Bolsonaro a se imunizar também: “Tomei escondido, né, porque a orientação era para todo mundo ir pra casa, mas vazou. Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. Se a ciência e a medicina tá (sic) dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor? Estou envolvido pessoalmente, tentando convencer o nosso presidente. Nós não podemos perder o presidente para um vírus desses. A vida dele, no momento, corre risco”. Difícil compreender a lógica da amarelada. Sabe que a vacina, renegada pelo capitão, é proteção da vida, mas ainda assim serve ao obscurantismo com subserviência. Fica a pergunta do general: quem é Bolsonaro para se contrapor à ciência e à vacina?

Ao fazer considerações sobre os expedicionários brasileiros na segunda guerra, o ministro da Defesa, General Braga Neto expediu uma nota que soou como ameaça: “A “cobra fumou” e, se necessário, fumará novamente”. Mesmo padrão do general Augusto Heleno na nota golpista de 22/5/2020: “O pedido de apreensão do celular do Presidente da República é inconcebível e, até certo ponto, inacreditável. Caso se efetivasse, seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder na privacidade do Presidente da República e na segurança institucional do País. O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Vergonha maior foi o avião presidencial servir para tráfico de cocaína nas barbas do general. Braga Neto também convocou a reunião para alterar a bula da cloroquina, segundo testemunhou o chefe da Anvisa à CPI.

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A vergonha verde-oliva precisa ser pública e historiada. Ela extrapolou no depoimento biográfico do general Villas Bôas, que assumiu uma pressão ilegítima sobre STF. O ex-comandante do Exército narrou uma versão, segundo a qual, em abril de 2018, o Alto Comando teria tramado postagens com ameaças a Suprema Corte para não conceder um habeas corpus que poderia ter impedido a farsa da prisão do ex-Presidente Lula. A prisão se consumou por 6×5 votos e Lula foi riscado da cédula eleitoral, abrindo a trincheira do fascismo. O presidente do STF, Luiz Fux, disse ter uma mensagem do ex-ministro da Defesa desautorizando Villas Bôas: “foi declaração isolada do ministro Villas Bôas no momento de fazer sua biografia, não há nenhuma concordância das Forcas Armadas em relação a pressão sobre o Supremo”.

As Forças Armadas também passam vexame nos desperdícios do dinheiro público. Apenas em gastos supérfluos em 2020, o governo mastigou R$ 2,2 milhões com chicletes, torrou R$ 32 milhões com pizzas e refrigerantes e entornou R$ 15, 6 milhões em leite condensado para suas tropas. Um levantamento feito por deputados do PSB no orçamento mostrou que as Forças Armadas adquiriram 80 mil unidades de cerveja e 700 mil quilos de picanha. O estudo aponta um superfaturamento superior a 60%. No cardápio do rancho foram incluídos ainda bacalhau, uísque 12 anos e conhaque para o alto comando. Esses dados engrossam a farra de R$ 1,8 bilhões gastos para a ração da tropa. Os militares de pijama com função gratificada no governo ainda vão ganhar mais rompendo o teto constitucional (R$ 39,2 mil), como Braga Neto e Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno. A autorização é de Paulo Guedes, que quer mais impostos, pobres fora da universidade e taxar livros.

A farda é uma farra também no nepotismo. A Casa Civil, ainda quando tocada pelo general Braga Neto, autorizou a nomeação da filha dele para uma gerência na Agência Nacional de Saúde. O recuo veio depois da granada nepotista explodir. A filha de Pazuello emplacou no governo do Rio. A filha de Eduardo Villas Bôas ganhou um posto na pasta de Damares. O filho do vice Mourão teve 2 promoções em 6 meses no Banco do Brasil. Carlos Bolsonaro comentou: “Nova promoção! Parabéns”. O comando é do próprio capitão: “Se eu puder dar um filé para meu filho, eu dou”. O erário é público, não doméstico.

As patentes no Brasil quase sempre foram sinônimo da morte. O “braço forte, mão amiga” armou os fortes na ditadura para disparar contra o próprio povo, maculando a história com sangue e infâmia. Entre os facínoras mais impiedosos estavam torturadores, os heróis de Bolsonaro: coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (chefe do DOI-CODI) e o major Sebastião Curió (responsável pela morte de 41 pessoas na guerrilha do Araguaia). Carniceiros que usaram suas divisas para patentear no Brasil os crimes contra a humanidade, transformando “o sonho intenso e o raio vívido de amor e esperança” em um funesto pesadelo.

O “braço forte” segue cultuando o pretérito macabro ao servir a um celerado que faz apologia à tortura e à morte. Hoje, a vergonha brasileira é de um verde-oliva, que vem mudando de tom e amarelando. Exceção ao depoimento do contra-almirante Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa, que confrontou Bolsonaro na CPI, sem a subserviência de outros colegas fardados.

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