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Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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A vitória frágil de Bolsonaro, que expressa o sentimento de apenas 10% do país

Bolsonaro ganhou, escreve o sociólogo Marcos Coimbra, mas sua vitória, "ao contrário de inaugurar uma 'nova era', não foi mais que um solavanco, uma espécie de mal súbito que acometeu um pedaço de nossa sociedade, do qual está se recuperando mais cedo que o previsto"; hoje, Bolsonaro tem "um discurso sintonizado com o sentimento de, no máximo, 10% do País"

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Um erro comum na análise politica é interpretar as vitórias eleitorais como sinal da superioridade dos mais votados e da inferioridade dos derrotados. Os ganhadores seriam “melhores” porque souberam “se dar bem”.

O tempo passa e, muitas vezes, chega-se ao oposto. Quem ganhou se apequena e o derrotado fica maior. Ri melhor quem ri mais tarde. 

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Sessenta dias depois da posse, Bolsonaro já está menor, antes sequer que o desgaste inevitável do governo produza efeitos. Não está sendo necessário aguardar para que a realidade frustre as expectativas da população.

Em seu caso, essa tendência à entropia é acelerada e agravada pelo discurso de campanha. Tomando emprestada a ficção, disseminada nas elites e nas classes médias, de que todos os problemas nacionais são “culpa do PT”, Bolsonaro dispensou-se de fazer qualquer diagnóstico sério e adotou o antipetismo como bandeira fundamental. De própria, apenas uma ideia: “matar bandido”.

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Se os problemas brasileiros resumiam-se a um só, a solução era simples e produziria resultados imediatos. Removido o PT, tudo estaria resolvido, ou, no mínimo, encaminhado, em questão de meses. Como é evidente, isso não aconteceu e não vai ocorrer em qualquer prazo razoável, muito menos no prometido.

Quem saudou a vitória de Bolsonaro como demonstração de competência e sagacidade política talvez já admita o equívoco. É bem possível que, em horizonte não muito distante, todos venhamos a perceber que, ao contrário de inaugurar uma “nova era”, ela não foi mais que um solavanco, uma espécie de mal súbito que acometeu um pedaço de nossa sociedade, do qual está se recuperando mais cedo que o previsto.

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Fez parte da supervalorização do resultado a imagem de um tsunami que teria varrido a política brasileira, com a vitória do capitão e o séquito de bizarrices que com ele foi para o Congresso Nacional. Ainda hoje, especialmente na imprensa internacional, há quem insista nessa lenda. Alguma aritmética ajuda, contudo, a ver que que a noção de maremoto é descabida.

Não há dúvida de que são muitos os dez milhões de votos que Bolsonaro obteve a mais que Fernando Haddad no segundo turno, mas, nas eleições presidenciais dos últimos 25 anos, só superam a vantagem que Dilma Rousseff conseguiu em relação a Aécio Neves em 2104. Fernando Henrique, em 1994 e 1998, Lula, em 2002 e 2006 (quando estabeleceu o recorde, ao bater Geraldo Alckmin com 21,2 milhões de votos de frente) e Dilma em 2010, todos venceram com margens mais dilatadas que o capitão.

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Seu partido de aluguel, o PSL, beneficiou-se do ambiente que o elegeu, mas com resultados não que chegaram a significar nenhuma inundação. Recebeu 11,4 milhões de votos para a Câmara dos Deputados, o que representa 7,7% do eleitorado brasileiro. É um número expressivo, embora queira também dizer que mais de 92% dos eleitores preferiu outras opções.

É cedo para estimar o tamanho da base social de que Bolsonaro dispõe atualmente. Por enquanto, os números de sua popularidade não querem dizer quase nada, como diziam pouco os de seus antecessores em momento semelhante. A rigor, ele está abaixo de todos no início de seus primeiros mandatos, o que é compreensível considerando-se sua patética biografia.

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O que temos para calculá-la é a evolução das intenções de voto na eleição passada, que mostra que, até agosto, Bolsonaro mal atingia 20% no conjunto das pesquisas. Em outras palavras: a dois meses do pleito, só havia conseguido atrair uma em cada cinco pessoas. Até o primeiro turno, cresceu mais 15 p.p. incorporando eleitores que demoraram a aceitá-lo, muitos ludibriados por mentiras disseminadas a preço de ouro pela internet.

Analisando os resultados finais com base nas pesquisas de intenção de voto, é possível dizer que cerca de 60% da votação de Bolsonaro saiu do antipetismo, mas que apenas um em cada quatro de seus votos veio de eleitores fortemente antipetistas. Mais de 75% das pessoas que o escolheram podiam até não gostar do PT, mas afirmavam não ser adversárias ideológicas ou militantes contra o partido.

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No entanto, no governo, ele e sua turma parecem achar que todo o Brasil pensa igual a eles. Dirigem-se ao conjunto da sociedade com um discurso sintonizado com o sentimento de, no máximo, 10% do País, proporção parecida à daquelas pessoas que foram buscar no PSL o candidato a deputado. A hidrofobia ao PT existe, mas é muito menor do que supõem.

Ao cabo de uma eleição, é costume recomendar aos derrotados que aprendam com o insucesso. Mas, às vezes, quem mais precisa desse conselho é o vitorioso. Saber ganhar pode ser mais difícil. Especialmente para uma turma como a de Bolsonaro, a pior que já tivemos no governo em nossa história.

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