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Igor Corrêa Pereira

Igor Corrêa Pereira é técnico em assuntos educacionais e mestrando em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro da direção estadual da CTB do Rio Grande do Sul.

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Ações de frente ampla e suas vitórias

Não se pode esperar que um entregador de aplicativo em greve pense igual a Fernando Henrique Cardoso. Nem que votem no mesmo candidato em 2022. Mas se esses interesses, mesmo diversos e por vezes antagônicos, unidos derrubarem o assassino da presidência, essa será a grande vitória capaz de dar fim a essa trágica fase que vivemos

(Foto: Brasil 247)
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O ex-ministro de Lula José Dirceu, em entrevista a Mino Carta e em outras declarações posteriores, lembrou três episódios recentes da história brasileira que ajudam no debate sobre as ações de frente ampla contra Bolsonaro. Recordou o movimento pela redemocratização conhecido como "Diretas Já", que reuniu desde setores do recém-formado PFL, oriundo da Arena que era o partido da Ditadura, até os setores populares representados pelo recém-nascido PT do operário Lula de São Bernardo. A vitória do "Diretas Já" foi o fim do regime militar, elaborou a Constituição de 1988 que hoje está sob intenso bombardeio, e deu origem ao governo Sarney. O PT não esteve no governo que produziu essa vitória. 

Depois, ele recordou da derrubada do presidente Collor. Novamente ela mobilizou amplos setores. Desde a Globo, que condenou em seu noticiário os escândalos de corrupção do governo, até os estudantes que pintaram a cara em manifestações expressivas nas ruas, que marcaram o início da carreira política de uma atual liderança do PT, o ex-senador Lindergh Farias. O "Fora Collor" foi novamente uma frente ampla que teve a ativa participação de PT, PCdoB, PSB e PDT. Derrubou Collor e resultou no governo Itamar Franco, que também não foi composto pela esquerda. 

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Em seguida, mais recentemente, ele lembrou um fato que não envolveu a derrubada de um governo, mas um símbolo importante da democracia. Quando o ex-presidente Lula, preso por um flagrante processo de julgamento político, esteve na iminência de ser transferido para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, o que seria mais uma arbitrariedade nesse sombrio episódio. Ali também se formou uma ação de Frente Ampla, com a mobilização do Congresso Nacional que foi até o Supremo para reivindicar firmemente que a remoção não fosse feita. O resultado concreto disso foi a não-remoção de Lula, e logo depois sua libertação. 

Acrescento aqui um quarto episódio, que pela sua magnitude beneficia 54 milhões de brasileiros. Quando Bolsonaro e Paulo Guedes enviaram ao Congresso Nacional a vergonhosa proposta de 200 reais por mês de auxílio emergencial, novamente se formou uma ação de frente ampla para derrotar sua intenção e forçar o governo a ter que pagar 600 reais de benefício, e ainda 1200 reais se a beneficiária fosse mulher e mãe solo. Foram amplos setores que se uniram e efetivamente derrotaram Bolsonaro.

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Posso continuar citando acontecimentos. São muitos. Quando a Universidade Pública esteve ameaçada de intervenção pelo governo Bolsonaro, uma ação de frente ampla derrotou sua medida provisória ditatorial. Quando Bolsonaro incentivou a morte dizendo que a pandemia era uma gripezinha, governadores e prefeitos de amplo matiz ideológico decidiram pelo isolamento social, evitando um desastre ainda maior e salvando vidas. Sim, aqui foram mais ações de Frente ampla. Já disse antes e repito. A amplitude quando se materializou salvou e salva vidas, sendo uma vitória da democracia sobre o fascismo. 

No final da semana passada, outro lance importante de amplitude aconteceu. Na mesma mesa, sentaram-se Marcelo Freixo do PSOL e Fernando Henrique Cardoso do PSDB. Três ministros da educação estiveram presentes, e dentre eles o candidato do PT que enfrentou Bolsonaro no segundo turno, Fernando Haddad. Estiveram ainda presidenciáveis como Marina Silva, Ciro Gomes, o governador do Maranhão Flavio Dino. Personalidades da mídia e da imprensa como Renato Casagrande, Reinaldo de Azevedo, entre outros. O evento, que reuniu mais de 120 personalidades da sociedade brasileira, defendeu a democracia, a vida e a proteção social. Apesar de ser pela internet, a repercussão desse ato permite sim um paralelo aos palanques das Diretas Já que mobilizaram multidões nos anos oitenta. 

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Essa movimentação toda representa unidade eleitoral? Evidente que não. Nem tampouco programática. Ocorrem pontualmente, para a ação concreta de impor uma barreira democrática ao bolsonarismo, só possível com essa ampla unidade de ação. Os casos já citados antes também não foram nem frentes eleitorais, nem programáticas. Quando a Ditadura se abatia sobre o Brasil, uniram-se amplas frentes para derrotá-la. Assim foi com Collor, assim deve ser com os ímpetos autoritários e necroliberais de Bolsonaro. Esse governo recuou acuado pelas denúncias e por ações de amplos atores da sociedade, mas continua sendo uma ameaça a vida e a democracia. Não pode ser subestimado nem passivamente aturado até 2022. 

O “Direitos Já” marcou para setembro um novo ato. As ruas serão palco dia 01º de julho de uma greve de entregadores de aplicativo, em resposta a grave precarização que tem as digitais desse governo. Há um cenário de ebulição e revolta crescente contra o presidente, que conjuga toda uma pluralidade e contradição de interesses. Não se pode esperar que um entregador de aplicativo em greve pense igual a Fernando Henrique Cardoso. Nem que votem no mesmo candidato em 2022. Mas se esses interesses, mesmo diversos e por vezes antagônicos, unidos derrubarem o assassino da presidência, essa será a grande vitória capaz de dar fim a essa trágica fase que vivemos, para iniciar um novo capítulo da história nacional, com mais espaço para a esperança e a vida.

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