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Weiller Diniz

Jornalista especializado em cobertura política, ganhador do prêmio Esso de informação Econômica (2004) com passagens pelas redações de Isto É, Jornal do Brasil, TV Manchete, SBT. Também foi diretor de Comunicação do Senado Federal e vice-presidente da Radiobrás, atual EBC.

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Afogando em números, mergulhado em dejetos

"Bolsonaro, egresso dos esgotos, fede. Fede a morte, a tortura, a milícia, ao nazismo, ao golpe, a corrupção e as trevas", escreve Weiller Diniz

Jair Bolsonaro (Foto: Instagram/Cidade de Ilhéus)
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Enquanto milhares de brasileiros eram castigados ou mortos pelas chuvas, o capitão-calamidade flanava de moto aquática e se divertia em parques de Santa Catarina, implorando para a vadiagem não ser interrompida por rajadas incômodas ou por deveres que o cargo de presidente da República lhe impõe. O desdém com a vida alheia não surpreende. Ele escarneceu sobre as mais de 620 mil mortes durante a pandemia que se recusou a administrar. “E daí?”.

O desprezo com as vítimas das enchentes e o boicote à vacinação infantil inundarão a bacia da reprovação de uma gestão atolada. Desde maio de 2021, o ruim e péssimo transbordou e manteve-se muito acima do leito normal, subindo de 48% para 53% em dezembro, na média das pesquisas. Na outra margem, nuvens carregadas. A avaliação de ótimo ou bom, também pela média, afundou mais de 6 pontos entre maio e dezembro. A perenização dos baixos índices de aprovação, aferidos por vários pluviômetros eleitorais, mostra a reeleição fazendo água e Bolsonaro afogando em números, cada vez mais distante do resgate.

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As medições eleitorais, em que pese previsíveis minimizações, são um alerta realista dos humores, do volume das intenções de votos e dos níveis de apreensão da população, perplexa com a psicopatia do mandatário. Desde o início de 2021 até agora já foram realizadas 50 sondagens para capturar o melhor retrato do reservatório sucessório e a análise dos riscos dos pretendentes.

Muitas pesquisas – elas não são baratas – são patrocinadas por quem nada em dinheiro, como instituições financeiras, entidades patronais e por outros institutos tradicionais como o DataFolha e IPEC (ex-Ibope). A depender da metodologia, das condições climáticas, da densidade das nuvens, da abrasividade dos ventos e outras variáveis (campo, questionário e entrevistados), elas apresentam oscilações, até agora pequenas. As sondagens são convergentes e configuraram um horizonte eleitoral estável a partir do início de maio, o mês que a CPI da Pandemia iniciava a erosão da falsa imagem do capitão. O assoreamento civilizatório, as degradações institucionais, econômicas, sanitárias, ambientais e sociais vão soterrando o flagelo Bolsonaro milimetricamente.

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A média numérica das 50 pesquisas já aplicadas até aqui apresenta similitudes, independente das variáveis de cada uma delas. Em todas as sondagens o candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, respira na parte alta das previsões e lidera com folga. A partir de julho, quando o petista atingiu 40%, na média das pesquisas, há uma estabilidade nas intenções de voto declarados ao ex-presidente em torno deste percentual.

O segundo colocado, com a curva morro abaixo e sujeito a novos deslizamentos, é Bolsonaro. Desabou de uma média de 34% em abril/2021 para 27% em dezembro. A precipitação de votos por milímetro para terceira via permanece rarefeita. A previsão é de uma estiagem incontornável. Segue sendo uma miragem e não uma realidade competitiva.

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Os candidatos iluminados por este raio fosco, somados, não ultrapassaram o segundo colocado desde abril/2021. Adotando a média das pesquisas, a soma de todos eles alcançou uma descarga máxima de 23% dos votos em outubro de 2020, quando Bolsonaro registrava 29 pontos e Lula 40. Jair Bolsonaro e Sérgio Moro, empreiteiros do projeto de alagamento do Estado brasileiro e do aterramento da Democracia, são os que boiam em rejeições superlativas.

Um dos dados mais caudalosos das pesquisas é o percentual de votos espontâneos atribuídos ao PT. As intenções de voto no pré-candidato do Partido dos Trabalhadores ultrapassam o piso histórico de largada da legenda em eleições presidenciais. No arenoso solo político, o bordão de que o PT sempre larga com 30% da preferência é tão certo quanto a estação das chuvas. Preso ilegalmente por 580 dias e inocentado por 2 decisões do STF, que considerou Sérgio Moro parcial e incompetente, Lula está consolidando a liderança com uma avalanche de votos nas manifestações espontâneas.

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Na última rodada do IPEC, o petista foi o mais citado por 40% dos entrevistados, o dobro de Bolsonaro. Os refugos eleitorais – soçobrando na terceira via – foram mencionados por apenas 2%, 1% da população ou ignorados. Em dezembro de 2017, Lula tinha 17% de manifestações espontâneas contra 11% do capitão. Em dezembro de 2005 Lula registrava 20% dos votos espontâneos contra 7% de José Serra. É um número deliberadamente nublado nas análises que torcem e distorcem na tentativa de resgatar, a fórceps, um nome alternativo.

A terceira margem é um alagadiço de nomes, todos represados pelo eleitor. Na triagem já foram testados muitos voluntários: Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Rodrigo Pacheco, Simone Tebet, Ciro Gomes, João Dória e Sergio Moro, que vem recebendo uma assimétrica irrigação de setores da mídia. A maioria dos nomes da terceira via está contaminada pelas águas infectas do bolsonarismo. O mergulho formal de Sergio Moro na campanha pouco alterou a hidrografia eleitoral. Moro drena poucos alagados do bolsonarismo sem ameaçá-lo.

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Acossado pelas delinquências na república de Curitiba e sem decolar, Moro se vê ilhado e já mira o colete salva-vidas para nadar até o foro privilegiado, que antes alegava ser o porto seguro da impunidade. Como empoçamento atual, o desvio de curso pode ser o Senado. Moro não é um componente da topografia democrática. É uma calamidade jurídica, política e pessoal, adepto de comportas ilícitas e adutoras fascistas.

O ex-juiz que assessorou corruptores e se apresenta como socorrista da ética “perdoou” o colega Onyx Lorenzoni por Caixa 2, fez vistas grossas para os inexplicáveis cheques da primeira-dama, fingiu não ver os milicianos, o esquema criminoso do Queiroz e as graves acusações contra os filhos de Bolsonaro. Também ignorou o assassinato de Marielle Franco. Com tais antecedentes, pretender ser o paladino da moralidade é cinismo. Não passa de um dejeto impuro boiando nas águas da democracia.

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Na enxurrada de transgressões, Sérgio Moro já confessou o vazamento ilícito das conversas da ex-Presidente Dilma Rousseff com o antecessor, a infiltração ilegal para grampear advogados de defesa dos alvos que ele próprio selecionou para condenar, atuou em férias para sustar a soltura de Lula – exaurida sua jurisdição – e interferiu na eleição de 2018 decretando o fim ao sigilo da delação fajuta de Antônio Palocci para favorecer Bolsonaro, de quem se tornou Ministro da Justiça. O curso tortuoso de Moro é o afluente poluído do transbordamento da ilegalidade na Lava Jato.

Diálogos mostraram Moro coordenando a força-tarefa de Curitiba, sugerindo inversão de fases da operação, escalando procuradores para audiências, ditando notas ao MP para desacreditar o “showzinho” da defesa, blindando políticos de sua preferência e indicando fontes para avolumar a acusação. Moro encarnou as figuras de acusador, investigador e juiz, corrompendo a todos. O curso das águas pode devolvê-lo à Bacia da Prata e ao rio Paraná. Moro é uma chuva ácida que que entope a democracia.

Os fatos, admitidos ou negaceados, mostram que Sérgio Moro é pernicioso. Substituir Bolsonaro por ele seria trocar seis por meia dúzia, represando águas podres e impedindo que elas se purifiquem. Em 2004, ainda mergulhado no anonimato, Moro desviou a nascente democrática para assorear o Direito em um artigo enaltecendo a operação “Mãos Limpas”. Um dilúvio contra do Estado Democrático de Direito com resíduos poluentes: presunção de inocência pode ser relativizada para encarcerar indefinidamente, a prisão preventiva deve ser usada para forçar delações e deslegitimar a classe política e pregou a publicidade opressiva, vulgarizada na Lava Jato para antecipar a culpa.

No governo, abriu o guarda-chuva para proteger delinquentes, ouviu calado seu colega pedir a prisão de ministros do STF, escancarou os escombros do fascismo como a licença para matar, a prova ilícita de boa-fé e conspirou contra a Lei que pune o abuso de autoridade e o juiz de garantias. Hoje amaldiçoa as águas que abençoou e na qual foi imerso em seu batismo político, o rio encharcado de sangue, fezes e fome do bolsonarismo. As pesquisas mostram que o aguaceiro antidemocráticos secou.

Um dos cruzamentos das previsões eleitorais revelou que 21% dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 já migraram para o bote petista e apenas 12% pretendem se abraçar ao náufrago Moro. A mesma sondagem mostra que Bolsonaro conserva apenas 48% dos eleitores do último pleito. Os números das pesquisas são tóxicos para o pior presidente da história do Brasil. As rejeições são trombas d’água devastadoras. No último levantamento do IPESPE, 62% afirmaram que não votariam no capitão de jeito algum. É um número que vai se mantendo estável em outras sondagens.

O percentual de entrevistados que votariam “com certeza” vem adernando e baixou a 24%. Somadas a intenção de votos (24%) e a rejeição (62%), são 86% dos pesquisados. Restam apenas 14% e, na hipótese improvável, de agregar todos 14% eleitorado, totalizaria 38% das intenções de votos. Seriam 6 pontos abaixo dos votos declarados em Lula na mesma pesquisa, 44%. Bolsonaro procura um jeito de desidratar Lula que já passou por um desgaste extremo e ainda conserva uma caudalosa liquidez eleitoral.

As pesquisas indicam ainda que a economia é a área de maior risco de afogamento do Bolsonarismo. Na sondagem feita pela CNT/MDA em dezembro do ano passado, a maioria esmagadora apontou a inflação dos alimentos, combustível e energia elétrica como principais aluviões. A substantiva redução do poder de compra, comparando-se a gestão atual com a do ex-presidente Lula, é vista como os temas prioritários para a economia e para os debates eleitorais. A geração de empregos, efetividade no controle da pandemia, controle da inflação e até a redução do valor do dólar estão no radar sensível dos eleitores.

Aí residem os maiores danos causados pela ausência de prevenções, previsões e planos de contingência do bolsonarismo. Duas barragens sólidas estouraram diante da inação e a incapacidade do governo: a economia e a vacina. O desemprego explodiu, o PIB caiu, a inflação subiu, o real desmilinguiu, a dívida cresceu, a fome reapareceu e chafurdamos nas águas estagnadas da recessão. Na pandemia mais de 620 mil mortes pela condução negacionista, antivacina para adultos e crianças, pró-cloroquina e corrupção na compra de imunizantes. Após o desastre, a tampa do bueiro foi sugada e o esgoto recende, malcheiroso.

Bolsonaro implora por uma corda de salvamento a fim de evitar ser arrastado pela correnteza de lama, lodo e mortes que ele produziu. O isolamento, disfarçado pelo orçamento secreto no acampamento temporário do centrão, é indisfarçável. Nos naufrágios os ratos abandonam o navio. Dilma e Collor de Mello o sabem. Por isso ele também já desenha uma área de refúgio para se proteger do vendaval que se prenuncia. Um dos diques projetados seria desistir da reeleição para disputar o mandato de Senador em Santa Catarina. Lá se sente protegido das brigadas democráticas. Depois de se esbaldar com dinheiro público, encurtou a farra no balneário em razão de uma obstrução intestinal. Só se preocupa com a própria evacuação. O mais despreparado, desumano, tosco e infame de todos os presidentes, o rei da titica, voltou a boiar na falsa vitimização. É chover no molhado. As vítimas reais são as que ele desdenhou na pandemia, nas enchentes, no desemprego, na miséria e na fome.

No paraíso fecal em que se transformou o Brasil nos últimos 3 anos, “merda” é um dos vocábulos prediletos das fossas bolsonaristas. Além das obsessivas analogias anais e outras parábolas escatológicas, o capitão é adepto dos palavrões. Quando não está falando “merda” está obrando uma ou entupido por ela. “Cocô dia sim, dia não”, pontificou o mestre do desarranjo e da flatulência. “Caguei”, mentiu sobre a CPI. “Eu prefiro esse imposto de merda”, adubou Paulo Guedes sobre a CPMF. A Globo, a imprensa em geral, também é “merda”. Olavo de Carvalho, guru da cloaca, ameaçou derrubar a “merda de governo” e Romário, justificando o apelido de “baixinho”, falou que o país era uma “merda” antes de Bolsonaro. As palavras e as obras dos devotos da latrina estão coletadas no ralo da deterioração. Bolsonaro, egresso dos esgotos, fede. Fede a morte, a tortura, a milícia, ao nazismo, ao golpe, a corrupção e as trevas. Está afogando em números e asfixiando em excrementos, que o gato enterra e a história soterra.

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