Alberto Fujimori (1938-2024)
"Fujimori tornara-se personagem sem lugar no mundo", avalia Paulo Moreira Leite
Um dos principais responsáveis pela transformação da América do Sul num conjunto de ditaduras abertas à exploração imperialista, Alberto Fujimori (1938-2024) produziu um currículo típico entre as lideranças mais reacionárias de sua geração.
Fujimori assumiu o governo do Peru em 1990, empenhado em cumprir duas tarefas. Reprimir com violência os movimentos de resistência popular e desmontar programas sociais e medidas anti-imperialistas esboçadas pelos antecessores, reunidos em torno do governo Velasco Alvarado, seu antecessor.
Mesmo protegido pelos aliados do império norte-americano, dez anos mais tarde Fujimori seria forçado a fugir do palácio presidencial, desmoralizado por um tenebroso prontuário de tortura e execução de militantes de organizações políticas que resistiam a seu governo.
A violência contra lideranças populares, inclusive indígenas, atingiu um tamanho grau de selvageria que mesmo os padrinhos de Washington foram obrigados a retirar o apoio incondicional de outros tempos.
Num dos atos ilustrativos de sua passagem pela presidencia do Peru, Fujimori esteve em Belo Horizonte para uma missão galante que transformaria a visita num escândalo.
Depois de assistir a uma apresentação da soprano Raisa Vasilieva, uma das grandes estrelas da ópera mundial, a quem entregou uma caixa de diamantes, o ditador foi chamado a explicar a origem de um presente milionário. Incapaz de oferecer respostas convincentes, tornou-se um caso escancarado de enriquecimento ilícito.
O destino de Alberto Fujimori acabou marcado por sucessivos confrontos com a vigorosa mobilização de camponeses, trabalhadores e estudantes do país, que inviabilizaram suas sucessivas tentativas de retornar ao governo e nunca deixaram de exigir que pagasse por seus crimes.
Em 2005, já fora do governo, ele fazia turismo pelo Chile quando foi preso e levado para o Peru, para ser julgado por crimes contra direitos humanos -- que têm caráter imprescritível, como sabemos. Foi condenado, mas em 2017 acabou obtendo perdão, num esforço de conciliação que durou pouco.
Num país sempre indignado, o indulto seria revogado dois anos depois e o ex-ditador acabou reconduzido à prisão. Em 2023, obteve o direito de cumprir pena em sua residência, em Lima, num endereço sob permanente vigilância.
Nessa condição, chegou a me receber numa das visitas que fiz ao Peru para uma reportagem sobre o país. Sempre com um sorriso no rosto, tentava convencer os visitantes de que seus atos de governo não foram tão ruinosos assim -- mas era difícil acreditar.
Sobrevivendo à própria história, Fujimori tornara-se personagem sem lugar no mundo.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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