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Miguel do Rosário

Jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

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Alguns comentários sobre a agressão sofrida por Miriam Leitão

Nos últimos três anos, o Brasil registrou diversas violências físicas contra partidos, sindicatos e militantes, depredações, invasões, espancamentos, assassinatos. Miriam Leitão jamais deu um pio

Brasília - DF, 13/10/2016. Presidente Michel Temer durante entrevista para Miriam Leitão da Globo News. Foto: Marcos Corrêa/PR (Foto: Miguel do Rosário)
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Antes de qualquer comentário mais elaborado, quero me distanciar da barbárie.

Sem qualquer ressalva, empresto minha total solidariedade a Miriam Leitão, colunista da Globo. Sou contra esse tipo de manifestação política covarde, em que um monte de gente apupa um cidadão sozinho e indefeso.

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Dentro de um avião, a coisa é mais grave ainda.

O que a direita e seu partido, a mídia, muitas vezes parecem esquecer é que lideranças políticas são necessárias justamente para orientar manifestações populares a não descambarem jamais na violência física ou verbal. Em se tratando de vanguardas de partido, que andam de avião e frequentam congressos, seria de se esperar um pouco mais de educação e inteligência política.

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Reproduzo, por isso mesmo, a coluna de Miriam Leitão e peço respeito pessoal a ela, uma senhora, uma cidadã, mãe de família e jornalista. Tenho outras observações a fazer em seguida.

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Minha primeira reação a esse episódio, que reputo grave por várias razões que explico agora, foi de irritação tremenda, pela violência contra uma senhora indefesa, em primeiro lugar; e pela estupidez política, em segundo.

Miriam Leitão é um das personalidades mais combatidas por este blog – e não cabe aqui repetir as críticas que já fiz e faço a ela e à Globo – e, por isso mesmo, uma agressão verbal, pela maneira descrita por ela, ricocheteia imediatamente aqui, nos atingindo em cheio.

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Ou seja, a violência cometida contra Miriam Leitão acaba por se tornar uma violência contra nós mesmos. Com um agravante: Miriam Leitão tem, a seu favor, a mídia mais poderosa da América Latina, o judiciário, a polícia, os governos. Nós, do campo da comunicação popular, não temos nada a nosso favor. Então a violência contra Miriam Leitão, que é apenas um incômodo passageiro para ela, transforma-se num perigo real contra nós mesmos.

E tem um segundo agravante: nós defendemos Miriam Leitão contra a violência cometida por setores politicamente ingênuos do campo popular; Miriam Leitão jamais nos defendeu e jamais nos defenderá.

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Nos últimos três anos, o Brasil registrou diversas violências físicas contra partidos, sindicatos e militantes, depredações, invasões, espancamentos, assassinatos.

Miriam Leitão jamais deu um pio.

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A prova, no entanto, que a manifestação contra Miriam Leitão foi uma grande burrice, que se volta imediatamente contra um, este sim, indefeso campo popular, é que todos aqueles que permanecem à espreita, com olhos injetados de rancor e ressentimento, à espera de algum momento de fragilidade nossa, ou, como agora, de uma estupidez qualquer que possa ser vinculada à esquerda e à algum de seus partidos, vem à luz para nos atacar pelas costas.

É o caso do necro-blogueiro Idelber Avelar, que usa o episódio para, numa de suas costumeiras piruetas, afirmar que ele é a prova de que o golpe não foi golpe, que o estado de exceção não é estado de exceção, e que o fascismo não é fascismo. Para isso, claro, ele não economiza na desonestidade intelectual, que consiste em negar o recrudescimento espetacular da violência policial e classista nas áreas rurais, nas reservas indígenas e nas periferias urbanas, violência esta que explodiu APÓS o golpe de Estado, como consequência do desmantelamento de todo o delicado ecossistema de organizações de direitos humanos que existia nas zonas de conflito.

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O que uma manifestação idiota, mas inofensiva, de um punhado de petistas num avião, tem a ver com isso? Nada.

Alguns amigos me advertem, porém, para tomar cuidado com o relato de Miriam Leitão, alegando que a coisa não teria se passado exatamente como ela descreve: houve gritos, sim, no início e no fim do vôo, mas não foi nada tão agressivo ou assustador como ela narra. A história de que alguém teria encostado sua cadeira, ao passar por ela, não seria verdadeira.

Eu poderia também corrigir a correção de Miriam Leitão, que, ao comentar uma observação gritada no avião, sobre o “empastelamento” da Globo após a morte de Getúlio, diz que a Globo só teria sido criada anos depois de seu suicídio. Ora, o Jornal Globo já existia bem antes de 1954, e participou ativamente daquela tentativa de golpe contra um governo popular, e foi empastelado pelo povo. A TV Globo é que foi criada, de fato, bem depois da morte de Getúlio, mas o Jornal Globo já participava, ativamente, de todas as campanhas golpistas dos anos 50 e 60.

Outros lembram-me que nem Miriam Leitão, nem nenhum outro colunista do Globo, jamais se manifestou contra agressões muito piores sofridas por pessoas do campo progressista, em aviões, em aeroportos, incluindo gente da Globo, como Letícia Sabatella.

Miriam Leitão falou alguma coisa sobre a violência sofrida por Chico Buarque, ao sair de um restaurante no Rio? Não.

Seu lamento, portanto, seria muito mais honesto se, ao invés de ter tentado, de maneira tão descarada, faturar politicamente com o episódio, a ponto de enfiar Lula no meio da história, o tivesse usado para pedir, a todos os lados da disputa partidária, que evitassem protagonizar esse tipo de violência, sobretudo dentro de aviões.

Não podemos esquecer também a situação dramática do Brasil hoje, que vive sim (apesar dos chiliques necroblogóides de um Idelber Avelar) um golpe de Estado, com juízes mandando sequestrar blogueiros, destruindo indústrias e milhões de empregos, com o governo entregando a Amazônia ao exército americano, preparando a privatização do nosso primeiro satélite, desmantelando programas de educação e ciências, fazendo o Brasil retroceder várias décadas em termos de soberania, investimentos tecnológicos e direitos sociais.

Em muitos outros países, em muitos outros momentos da história, isso já teria motivado manifestações bem mais agressivas do que apupos verbais dentro de um avião.

Mas não estamos em outros países nem em outros momentos da história. A manifestação contra Miriam Leitão foi uma estupidez, em todas as acepções. E se ela distorceu e exagerou, como é bem provável, isso apenas reforça o erro cometido pelos “militantes” do PT.

Se a manifestação dos petistas contra Miriam foi um erro, todavia, a reação da jornalista não me pareceu interessada em defender a harmonia e a paz. Ao contrário, grupos violentos poderão facilmente usar o texto de Miriam Leitão como justificativa para mais violência.

Sem querer dar uma de sábio, até porque o golpe me abalou de maneira suficientemente forte para repensar muitas de minhas ingenuidades democráticas e pacifistas, e não há nada mais irritante do que pretender dar lição de moral nos outros, eu diria que é preciso pedir desculpas a Miriam Leitão e, ao mesmo tempo, perdoar os petistas que a apuparam.

 
 

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