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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Aliança da esquerda nas eleições municipais

Até agora, cenário eleitoral de 2020 para a esquerda é sinistro. A esperança da oposição de esquerda está no Nordeste

Jilmar Tatto (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247)
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Para estabelecermos as bases da discussão, gostaria de deixar claro que não considero PSB, PDT e Rede como partidos de esquerda. Já explorei este tema em outra coluna e não vou me alongar aqui nesta discussão. Logo, quando me refiro à união de esquerda me refiro a uma coalizão entre PT, PSOL, PCdoB, PCB, PCO, PSTU e UP.

Em algumas cidades importantes do Brasil há grandes possibilidades de que se formem coalizações fortes de esquerda, com real probabilidade de vitória. Em Recife, o PT decidiu lançar a deputada federal Marília Arraes candidata à prefeitura. O PSOL acenou com apoio à Marília em uma possível unidade entre os dois principais partidos de esquerda. Resta saber se os outros partidos de esquerda se juntarão a esta candidatura.

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No Nordeste, a esquerda apresentará candidaturas fortes em Salvador, Aracaju, São Luís, Natal e outros estados da região, mas não necessariamente com os partidos coligados. São candidaturas fortes de um dos partidos. 

O calcanhar de Aquiles da esquerda está no Sul e no Sudeste. Em Porto Alegre há a tendência do PT indicar o vice na chapa encabeçada por Manuela d’Ávila, do PCdoB. O PSOL deve indicar como candidata a deputada federal Fernanda Melchionna. De qualquer maneira, mesmo que saiam duas candidaturas, a chapa encabeçada por Manuela, se bem articulada, pode concorrer com reais chances de vitória. Eleição pode mudar a qualquer momento, mas, no cenário atual, tudo indica que em Santa Catarina e no Paraná a esquerda sofrerá uma derrota fragorosa.

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No Sudeste, em Belo Horizonte PSOL, PT, PCdoB e UP devem apresentar candidaturas próprias, se nada mudar, e as pesquisas, até o momento, indicam que estas candidaturas ainda apresentam baixos índices de aceitação junto ao eleitorado.

Nas duas maiores cidades do Brasil, fundamentais para a esquerda estabelecer uma base eleitoral forte para as eleições presidenciais de 2022, PT e PSOL saem divididos, cada um com sua chapa própria.

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Em São Paulo, pesquisa eleitoral recente realizada pelo Instituto Ideia Big Data, criou alvoroço entre os petistas porque indicava a candidatura de Guilherme Boulos do PSOL com 11% da intenção de votos e o candidato do PT, Jilmar Tatto, com cerca de 3% da preferência dos eleitores. Após a divulgação desta pesquisa, que foi retirada do ar por e não ter sido registrada no TRE/SP, setores do PT passaram a defender ou que Fernando Haddad, que já declarou não querer se candidatar para a prefeitura de São Paulo, substituísse Jilmar Tatto como candidato do PT ou a retirada da candidatura própria, com o partido apoiando a chapa Boulos/Erundina. 

É certo que ainda existe tempo suficiente para construir coligações, mas estas já deveriam estar finalizadas e se organizando para a disputa eleitoral. Tatto foi escolhido democraticamente como candidato do PT. Querer que ele renuncie à disputa porque as pesquisas indicam que sua candidatura não tem força neste momento é um argumento muito frágil, ainda mais para um candidato reconhecido como tendo grande penetração entre os eleitores da periferia de São Paulo. Só para lembrar um caso emblemático entre tantos outros, nas eleições para o governo do estado do Rio de Janeiro em 1982, a grande favorita era Sandra Cavalcanti, do PTB, que possuía uma larga liderança nas pesquisas de intenção de votos frente aos outros candidatos. O eleito, Leonel Brizola, nas primeiras pesquisas tinha 2% das intenções de voto e acabou ganhando a eleição. Isso mostra que Jilmar Tatto pode reverter a situação e eleger-se prefeito de São Paulo. 

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O mais grave desta situação foi a incapacidade dos partidos de esquerda de conversarem e apresentarem uma única candidatura com reais chances eleitorais. Dividida a esquerda, as chances do centro e da direita irem para o segundo turno é muito grande.

No Rio de Janeiro a situação não é muito diferente e ainda mais grave. Desde o final de 2019, PSOL e PT vinham costurando um acordo para lançarem juntos a chapa Marcelo Freixo/Benedita da Silva para concorrerem à prefeitura da cidade. As conversas estavam adiantadas, porém a coalização não saiu por dois motivos principais. O primeiro, foi a resistência interna sofrida por Freixo imposta por uma ala do PSOL - ruim de voto, mas forte nas engrenagens do partido - que não queria que o partido se coligasse para não ficar “a reboque do PT”. O outro motivo é que Freixo queria sair como candidato de uma frente ampla de oposição unida da qual fizessem parte o PDT, o PSB, o PCdoB e outras siglas de oposição ao governo Bolsonaro e este foi o erro principal. O PDT transformou-se em uma máquina voltada para o projeto pessoal de Ciro Gomes para as eleições presidenciais de 2022. Ciro já mostrou que fará tudo para ser presidente e está dividindo a oposição, abandonando a esquerda e se encaminhando a passos largos para uma posição de centro-direita. Desta maneira o PDT e o PSB se opuseram a esta coligação ampla, com os ex-trabalhistas, lançando a deputada Marta Rocha para concorrer à prefeitura do Rio. Não podendo lançar-se como candidato de uma frente ampla, Marcelo Freixo retirou sua candidatura que era apoiada pelo PT.

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Como a coligação de esquerda não foi possível, o PT indicou a deputada federal Benedita da Silva para concorrer e 2020. A deputada federal foi único quadro de nível nacional com mandato que lhe restou no estado do Rio. Benedita é uma boa candidata. Talvez fosse mais interessante ter indicado o ex-senador Lindbergh Farias, um nome forte e que está sem mandato, preservando a importante atuação de Benedita da Silva no Congresso Nacional.

Benedita concorre no mesmo nicho eleitoral com a pré-candidata do PSOL, a deputada estadual Renata Souza. Ambas são mulheres, negras, oriundas de comunidades. Se ambas forem indicadas por seus partidos, vão travar uma briga dentro da mesmo base de eleitores e a possibilidade de nenhuma das duas chegar ao segundo turno será muito grande.

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A dificuldade maior dos partidos de esquerda unirem-se contra a centro-direita e a extrema direita é sua fragmentação. São partidos cujos programas diferem pouco, mas que se aferram em querer representar segmentos muitos específicos e pequenos da esquerda. O resultado é que sua fraqueza eleitoral, resultante da falta de capilaridade social permitem à direita eleger seus candidatos tanto a nível regional quanto federal.

São diversos partidos de esquerda e a direita manipula muito bem esta divisão desde que o general Golbery do Couto e Silva deu a legenda do antigo PTB à Ivete Vargas, obrigando Leonel Brizola a criar o PDT, então um partido de centro-esquerda. 

O instrumento que assegura a divisão da esquerda partidária na conjuntura atual é cláusula de barreira que obriga a que todo partido, para funcionar plenamente, obtenha pelo menos 1,5% dos votos válidos para deputado federal em, pelo menos, 1/3 das unidades da federação, com um percentual igual ou maior a 1% dos votos em cada uma delas ou obriga-o a eleger um mínimo de 9 deputados federais em 9 unidades da federação, caso o partido não consiga cumprir a diretriz anterior.

PT e PSOL superaram a cláusula de barreira, mas o PCdoB, apesar de possuir governador eleito, bancada federal e bancadas estaduais em alguns estados, não conseguiu superá-la e por isto solicitou ao TSE sua fusão com o PPL. Este seria um dos motivos pelos quais Flávio Dino foi convidado e se filiar ao PSB. Fala-se mesmo em uma fusão entre esses dois partidos para superar a cláusula de barreira

As eleições municipais são vistas pelos partidos de esquerda como uma oportunidade para tornar suas legendas mais conhecidas e posicioná-las da melhor maneira possível para as eleições federais de 2022 e conseguir superar a cláusula de barreira. No final das contas, os partidos de esquerda, sobretudo os menores, colocam seus interesses partidários particulares acima dos interesses do povo e não se coligam para derrotar a direita. Enquanto isto, a direita assiste sua estratégia funcionar perfeitamente e consegue impor sua pauta retrógrada ao povo brasileiro e suas pautas contra os direitos trabalhistas a todos os trabalhadores brasileiros.

Até agora, cenário eleitoral de 2020 para a esquerda é sinistro. Muita coisa ainda pode acontecer, mas a divisão que se manifesta com uma profusão de candidatos disputando a mesma base eleitoral desanima o maior dos otimistas, sobretudo no Sudeste e no Sul. A esperança da oposição de esquerda está no Nordeste.

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