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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Antipolítica à brasileira

"A desmoralização da política é programada pelo interesse indisfarçado do capital", explica Paulo Henrique Arantes

(Foto: Pedro França/Ag. Senado)
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Último presidente da antiga Checoslováquia e primeiro mandatário da atual República Checa, Vaclav Havel foi um intransigente defensor da resistência não-violenta, além de escritor e dramaturgo. Líder da Revolução de Veludo, Havel é um ícone da “política da antipolítica”, tendo atuado contra o monopólio ideológico da vida pública, na qual, entendia, deveria prevalecer o pluralismo.

Também simbolizam a antipolítica em seu melhor sentido nomes como o de Gandhi, que esteve à frente do movimento de descolonização no período Pós-Guerra, e o de Martin Luther King, líder antissegregacionista americano dos anos 1960. Ambos conduziram verdadeiras rebeliões de massa de forma pacífica, absolutamente descasadas da negação da política como instrumento de superação de conflitos que a pior direita prega hoje.

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Não é tarefa simples definir a antipolítica, algo maior do que o mero repúdio aos políticos em geral. Assim a conceituou o ensaísta húngaro Gyorgy Konrad, dissidente durante a dominação soviética em seu país: “A antipolítica é a atividade política daqueles que não querem ser políticos e que recusam sua cota de poder. A antipolítica não apoia nem se opõe a governos – é diferente. Seus adeptos vigiam o poder político, exercem pressão com base apenas no seu estatuto cultural e moral. A antipolítica é a rejeição ao monopólio do poder pela classe política. Se a oposição política ganhar o poder, a antipolítica mantém-se à mesma distância e mostra a mesma independência em relação ao novo governo”.

Corrupção, fisiologismo, patrimonialismo, caciquismo, mandonismo e nepotismo - e, atualmente, negacionismo - somados a uma notável incompetência na gestão pública, têm caracterizado a política brasileira ao longo da História, salvo breves espasmos de correção e acerto. Não é de surpreender o surgimento de um forte sentimento antipolítico no seio da população. Só que parcela dessa população, conceitualmente perdida, fatalmente abraça a extrema direita e seu discurso falso-moralista.  

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Externada de várias formas, organizadas ou não, talvez a antipolítica à moda brasileira tenha carregado certa legitimidade nas manifestações de 2013, que entre outras coisas cobravam serviços públicos de qualidade.  Grande parte dos manifestantes repudiou a participação de partidos em geral ou rejeitou o seu papel de representação. Os partidos vivem seu pior momento desde o fim do processo de democratização. Ninguém confia neles.  Mesmo o PT, que deverá sair vitorioso nas próximas eleições, é repudiado como agremiação por todos aqueles que não lhe fornecem militância. Saliente-se que Lula não carrega um gigantesco ativo eleitoral por ser do PT, mas por seu carisma e pelo legado positivo de seus governos.

Um dos perigos do sentimento antipolítico é o florescimento de candidaturas, digamos, exóticas. Não se trata de questionar a legitimidade deste ou daquele candidato – a Constituição preserva o direito de concorrer a cargos eletivos a todos os cidadãos de ficha-limpa. O problema reside naqueles que, donos de carreiras de sucesso alheias ao mundo político, acabam sendo nada mais que peças a serviço da política em sua mais nefasta tradição. As preferências vão de apresentadores de televisão a humoristas de gosto duvidoso, passando por policiais de ímpetos justiceiros e pseudocelebridades. Veremos os nomes que irão florescer para o Legislativo em outubro próximo.

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Importante recordar que os eleitos dessa linha em eleições passadas levavam, em geral, uma palavra conservadora para a população – por exemplo, com a onda de ‘bandido bom é bandido morto’. Não declinasse mais uma vez da candidatura ao Senado, Datena certamente seria eleito senador da República.

O que se espera, no Brasil e no mundo, é que a antipolítica, se predominar, não seja dúbia, mas que sirva aos interesses reais da população. E que a população seja de fato protagonista. O desejo final dos eleitores é que as más práticas no exercício do poder sejam extirpadas, não camufladas, e que não sirvam, paradoxalmente, a anseios antidemocráticos de políticos profissionais como Jair Bolsonaro.

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O Centrão de Arthur Lira, que segura Bolsonaro no Planalto e em troca maneja o Orçamento, representa os interesses seus e de seus financiadores e isso é nítido. Se eles são parte significativa e influente da classe política, fica difícil explicar ao povo que política, na essência, é outra coisa. A desmoralização da política é programada pelo interesse indisfarçado do capital, que se sobrepõe aos interesses das pessoas. É duro ganhar simpatia agindo dessa forma.

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