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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Aquele abraço

"Temos que admitir que a Argentina joga um futebol melhor que o Brasil. Vamos vencer, Argentina", escreve Emir Sader

Lionel Messi (Foto: Reuters)
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Crescemos aprendendo a odiar a Argentina. Ela era nossa grande inimiga. Ainda mais em um mundo marcado pelo futebol, em que um país era conhecido por seus times de futebol.

A Argentina era sua seleção, mas era também Boca Juniors, River Plate, Independiente, Newell's Old Boy de Rosario, entre outros. O Brasil era sua seleção. Brasil x Argentina foi o maior confronto daquela época.

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Em nossa história, não houve conflito com a Argentina. A América Latina não existia em nossas escolas, muito menos qualquer coisa que justificasse essa rivalidade com o país vizinho.

Havia, em outro nível, o charme de Buenos Aires. Um charme e uma inveja por aquela cidade européia, tão moderna, tão elegante. Era o grande destino turístico fora do Brasil, onde os brasileiros se comportavam como caipiras.

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Caminhar pela Flórida, comprar casacos de couro, ir a uma casa de tango, era o máximo a que se podia aspirar. Tudo contraditório à rivalidade futebolística.

Acentuava-se a distância cultural, que incluía os argentinos brancos, altos e fortes. Não havia negros. Enquanto nós, massa baixinha, magra, cheia de pretos.

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O Brasil de Pelé, tricampeão mundial, foi a nossa vingança, quando a autoestima dos brasileiros estava mais elevada. Éramos os melhores do mundo, todas as outras diferenças pareciam desaparecer.

Além disso, a ditadura e o suposto “milagre econômico” incentivam o turismo nos EUA, principalmente para a Disney. Ir a Buenos Aires já parecia menor, ainda mais porque o turismo era principalmente de compras e os EUA eram imbatíveis para trazer presentes de viagem.

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O Brasil já estava olhando menos para o lado, começou a olhar para cima. A hegemonia norte-americana também se acentuou nos costumes, no consumo, nas viagens. O Brasil, que já mal se sentia próximo da América Latina, se afastou ainda mais do continente.

O peronismo é outro fenômeno estranho. Difícil manter a comparação entre Getúlio  e Perón. Getúlio praticamente desapareceu com sua morte. Leonel Brizola não conseguiu atualizar o mito do Getúlio. Enquanto, na Argentina, o peronismo praticamente nunca deixou de ser atual.

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O tango também era algo distante, se comparado à música brasileira. A extraordinária literatura argentina chegou aos poucos. Como o cinema argentino.

Um interregno em tudo isso foi quando Tevez veio jogar no Brasil. Ainda mais no time mais popular de São Paulo, o Corinthians. Um ídolo daquele time era argentino! Ele confundiu o sentimento de confronto com os argentinos.

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Fundamental para desarmar aquele confronto forjado foi um abraço. O abraço de Lula e Néstor, quando Lula foi à posse de Néstor. Um abraço que significava que o Brasil estava se voltando para a Argentina e para a América Latina.

Porque de lá atravessaram o rio para ir à posse de Tabaré Vazquez. Começou o período político mais importante do continente, com o fortalecimento e a ampliação dos processos de integração latino-americanos, dos quais Brasil e Argentina foram eixos fundamentais.

Mas no futebol a rivalidade ainda era forte. A discussão sobre quem é o melhor jogador de todos os tempos - Pelé, Maradona ou Messi - continua firme e forte. Ambos os lados não têm dúvidas sobre quem ele é.

Na final da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, participei, solitário, na minha casa torcendo para a Argentina contra a Alemanha. O gol que deu o título à Alemanha foi comemorado como se fosse um gol brasileiro.

Agora menos. A marca de quem é de esquerda é que está com a Argentina. Lula sempre destaca a irmandade com a Argentina.

Meu caso é particular, porque morei duas vezes em Buenos Aires – logo após o golpe no Chile e quando dirigia a Clacso. Estabeleci laços profundos com a Argentina, amo Buenos Aires. (Embora eu não tenha dúvidas de que Pelé foi o melhor de todos os tempos.)

Agora somos todos argentinos ou, pelo menos, muito mais do que antes. (Inclusive para evitar que a França se torne o único outro país, além do Brasil, a vencer duas Copas do Mundo seguidas).

E porque amamos futebol. Temos que admitir que a Argentina joga um futebol melhor que o Brasil. E, acima de tudo, o melhor jogador do mundo hoje é o argentino. Vamos vencer, Argentina

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