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Marcelo Falak

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Argentina hoje, mais problema que solução para os BRICS

O convite para a Argentina terminou sendo uma extensão a todos os Estados da UNASUL, e tanto Rússia como o próprio anfitrião esclareceram que a ampliação do grupo não está no momento na agenda

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Em política, os chamados balões de ensaio (trail baloons, na expressão em inglês) servem para medir as reações a determinadas iniciativas. Vistos mais de perto, sem embargo, entregam pontos interessantes sobre os projetos e percepções de quem os lançam.

Isto é o que ocorreu na Argentina ao anunciar-se o convite da Rússia a cúpula com os países do grupo BRICS no Brasil, apresentada inicialmente pela imprensa oficial e pela mídia em geral como o primeiro passo para o ingresso do país ao clube dos gigantes emergentes.

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Contudo, o que se mencionava como um convite para a Argentina terminou sendo uma extensão a todos os Estados da UNASUL, e tanto a Rússia como o próprio anfitrião deixaram claro que a ampliação do grupo (que soma ademais a China, Índia e África do Sul) não está no momento na agenda.

O entusiasmo argentino é, digamos, eloquente de quanto desejaria converter-se em outro "bric", o que, de fato, seria um objetivo razoável para o país, dado o tamanho de sua economia, as possibilidades de investimento que brinda seu caráter de exportador de alimentos de primeiro nível mundial e sua condição de economia regional chave. Que África do Sul tenha ingressado ao bloco há quatro anos apesar do seu menor tamanho e desenvolvimento em relação com seus sócios, e que possua um PIB similar ao argentino com uma população 25% maior, alimenta essa aspiração.

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São claras as vantagens que a Argentina obteria em caso de ingressar ao grupo: acesso a mercados que dão conta de 40% da população mundial e de um PIB combinado de mais de 20%, além de uma aproximação com países que hoje somam um quinto do investimento estrangeiro direto a nível global.

Como se fosse pouco se beneficiará dos projetos estrela do encontro de Fortaleza, isto é, a criação de um banco de desenvolvimento (um Banco Mundial alternativo) e de um mecanismo de estabilização em caso de contingência (substituto do Fundo Monetário Internacional).

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Resulta desnecessário recordar o quão necessitada está a economia argentina de investimentos, tanto para financiar projetos de infraestrutura durante muito tempo postergados como para paliar a escassez de divisas que é hoje o principal motivo de suas fragilidades econômicas.

No entanto, para ser viável, o projeto de um ingresso ao grupo BRICS não deve, somente, ser benéfico para este país senão para seus eventuais sócios. E é neste ponto que se encontram as maiores debilidades da Argentina, que aparece com pouco para oferecer em curto prazo.

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Em matéria comercial, seu mercado de 40 milhões de consumidores pode resultar medianamente apetecível, mas não no quadro atual de restrições às importações, dadas pela mencionada escassez de divisas. Ademais, se as possibilidades de investimento são em teoria amplas, a radicação de empresas privadas se vê complicada pelas dificuldades para a repatriação de remessas, produto do mesmo problema estrutural.

Com respeito ao banco de fomento, o minguado nível de reservas internacionais da Argentina lhe impediria realizar o aporte para a formação do capital inicial. E em relação com o Acordo de Reservas de Contingência, não só não poderia tampouco somar dinheiro senão que, imediatamente, se anotaria como interessada em beneficiar-se com linhas de crédito. Ou seja, em vez de oferecer soluções, inicialmente o que aportaria seria um inconveniente.

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Estas dificuldades são advertidas pelo Governo do Brasil, que não atua como poderia esperar-se, como o principal advogado da aspiração integracionista de seu sócio regional, dado que sofrem em carne própria essas restrições no funcionamento do MERCOSUL.

"A Argentina não se enquadra hoje no conceito dos BRICS. É um conceito que envolve, além de crescimento e desenvolvimento, segurança jurídica, caminhar por uma democracia plena, coisas que não dão entrada à Argentina neste momento", disse o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade.

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A referência é pouco feliz e não resiste a uma análise, mas tem o valor de refletir certa percepção da Argentina e um estado de ânimo estendido entre os setores mais poderosos da comunidade de negócios brasileira. Pouco feliz, dizemos, porque resulta absurdo falar do princípio de segurança jurídica num bloco do qual a Rússia faz parte de modo proeminente. Que dizer a respeito da vigência de uma "democracia plena" onde milita o regime chinês? Entretanto, o mais importante, é o erro de considerar que a Argentina não é um país democrático, apesar das imperfeições de seu sistema institucional, que não são alheias, digamos, ao Brasil, por exemplo.

Sem embargo, as percepções, certas ou erradas, também são a matéria prima com que se constroem os processos políticos, e o Governo argentino tem contribuído notoriamente em gerar preconceitos que muitas vezes resultam falazes. Um discurso próximo ao bolivarianismo que na realidade, levou a muitos equívocos.

Superar essa falência política é uma condição indispensável se a Argentina quer juntar-se ao grande clube das economias emergentes. O outro desafio, básico, é voltar a ser o que se requer para ingressar a esse círculo: uma economia emergente importante. Isso vai requerer pôr em caixa seus problemas auto infligidos, a inflação, o estancamento produtivo, a distorção estatística, as sequelas de uma cessão de pagamentos de sua dívida produzida há longos treze anos, as travas ao investimento e ao ingresso de divisas, os problemas para o comércio com seus sócios...

A lista parece longa, muito ambiciosa e de difícil obtenção. Não é. Estão dadas as condições para que a Argentina supere essas falências em pouco tempo; se realmente põe mãos a obra. Os tempos eleitorais, com a eleição presidencial prevista para outubro do ano que vem, podem contribuir para uma mudança de clima, embora seja desejável que o atual Governo insista em alguns esforços positivos realizados nos últimos meses. Não temos tempo a perder.

Então sim, objetivos como somar-se ao grupo BRICS e inclusive outros mais ambiciosos, como o retorno a um caminho de desenvolvimento, estarão felizmente a seu alcance.

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