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José Marcus de Castro Mattos

Poeta, psicanalista

32 artigos

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Arte como cálculo político

Virulentos protestos 'em nome da moralidade' saídos de uma escumalha obedecem na realidade ao cálculo político desde sempre atuante na caverna de seus tenebrosos espíritos, qual seja, valer-se do espaço democrático e de direito para ato contínuo derrubá-lo

Virulentos protestos 'em nome da moralidade' saídos de uma escumalha obedecem na realidade ao cálculo político desde sempre atuante na caverna de seus tenebrosos espíritos, qual seja, valer-se do espaço democrático e de direito para ato contínuo derrubá-lo (Foto: José Marcus de Castro Mattos)
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Recuso-me discutir a moralidade da arte com gente cuja vida pública testemunha radical amoralidade.

De fato, apesar das aparências, qualquer moralidade é a última preocupação dessa gente: tudo o que lhes interessa é a ampliação de suas contas bancárias (lícitas ou ilícitas) e a manutenção, reprodução e extensão de seus postos de poder ('comando: mando e desmando', ouvi certa vez escorrer da boca putrefata de um deles).

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Assim, os virulentos protestos 'em nome da moralidade' saídos de tal escumalha obedecem na realidade ao cálculo político desde sempre atuante na caverna de seus tenebrosos espíritos, qual seja, valer-se do espaço democrático e de direito para ato contínuo derrubá-lo.

E vale tudo para deitar por terra a verdade, a diversidade e a tolerância enquanto pilotis civilizatórios: de maneira absolutamente despudorada, mente-se, difama-se, violenta-se a céu aberto...

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Claro que a cidadania brasileira – historicamente construída de maneira a ser e permanecer deseducada, inculta, desinformada e passiva – é o solo fértil para os soturnos estratagemas dos amorais, os quais usam e abusam da 'cordialidade' para insuflar nela a cegueira, o medo e o ódio.

Sabe-se que ao instalar a 'equivalência geral' – grosso modo, 'tudo pode e deve ser trocado por dinheiro' (jocosamente, dirá Marx: 'inclusive sua mãe') –, o Capital não mede esforços para empuxar as subjetividades, as sociedades e as culturas para o Mercado, negando-lhes quaisquer traços de dignidade (singularidade, diferença, ancestralidade, etc) de modo a reduzi-las abruptamente à objetalidade e à descartabilidade tecnomercadológicas globais, pouco importando que advenha de tal redução o aumento exponencial da desigualdade social, das exclusões, das apatridades, da violência generalizada, etc.

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Se lermos este estado de coisas com devida atenção, salta aos olhos que o Capital quer que façamos o trajeto inverso daquele demarcado por Freud, ou seja, se o 'mal-estar na Cultura' foi o áspero preço a ser pago para irmos da Horda à Civilização, doravante o 'bem-estar no Mercado' é o suave preço a ser pago para regredirmos da Civilização à Horda...

Por assim dizer, a amoralidade é o traço de caráter distintivo dos bárbaros errantes na no man's landtecnocapitalista, pervertendo na origem a base dos enlaçamentos sociais, qual seja, a responsabilidade pelo falar e pelo agir de sorte a garantir um mínimo de confiança entre os associados.

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Tal perversão emerge por toda parte em que os amorais veem oportunidade para solapar a decência e substituí-la sem mais pelo álibi farsesco, contaminando a economia, a política, a cultura e mesmo os hábitos mais comezinhos...

Brandindo aos gritos a mentira, ferozmente querem nos enfiá-la goela abaixo, tudo se passando como se fôssemos obrigados a conter o vômito e acreditar nela, metabolizando-se assim a verdade encoberta pela amoralidade: "Olhem aqui, idiotas, vamos fazer valer os nossos interesses custe o que custar, entenderam?"

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Nos Estados Unidos, Trump é o representante por excelência dessa amoralidade mentirosa (um pleonasmo!), mostrando ao mundo, obscenamente, o quão o Capital foi capaz de devastar um país antes liderado por um Lincoln e que lia em Emerson o seu horizonte cívico, político e cultural (dentre tudo mais, esse grande comentarista de Montaigne e Shakespeare foi pioneiro no reconhecimento da importância do corte discursivo realizado por Whitman na literatura e mesmo nos costumes dos estadunidenses).

No Brasil a devastação da moralidade promovida pelo Capital infelizmente não é menor: criminosos ocupam a Presidência da República e criminosos ocupam o espaço público para fazer da mentira e do deboche os elementos que devem doravante pautar os nossos relacionamentos, travestindo-os, todavia, de 'verdade' e 'respeitabilidade'.

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(Esse travestimento é cotidianamente celebrado pela mídia que detém o monopólio da 'formação de opinião' em nosso país: capitaneada pelas Organizações Globo, a amoralidade invade os lares brasileiros, deita e rola neles a título de 'objetividade', 'seriedade', 'imparcialidade', 'liberdade', etc.)

Tipos criminosos como Bolsonaro, Crivella, Dória, Frota, Holliday, Kataquiri, Maia, Mendes, Moraes, Moro, Neves, Padilha, Paschoal, Temer, etc, mentem para a cidadania e debocham à larga do Estado Democrático de Direito, tudo fazendo para achincalhar o interesse público (saúde, educação, moradia, trabalho, transporte, segurança, justiça, etc) e resguardar desse modo quer seus próprios interesses quer daqueles aos quais servem caninamente, a saber, os sempiternos proprietários da Casa-Grande – hoje repaginada higienicamente pelos banqueiros...

E, pasmem, essa escória mental sai agora à luz do dia para 'moralizar a arte'!

Ora, à esquerda o cálculo político degenerou a arte no ridículo 'realismo socialista' e à direita na tétrica 'arte nacional-socialista', tentando rebaixar a sublimação artística – a qual se materializa no sublime da obra (qualquer obra de arte é pois sublime) – à submissão político-ideológica, a qual se materializa na infâmia da propaganda...

Pois bem, alguém honesta e verdadeiramente democrático, esclarecido e cosmopolita consegue não ver 'arte degenerada' na amoralidade de tais oportunistas?

Nossas famílias e nossa cidadania – no fundo, elas são o mesmo – precisam ser protegidas do obscurantismo que se constitui no cerne da amoralidade oculta na 'moralidade' dos mentirosos, cínicos e perversos: para isto elas devem ver os sublimes corpos das pinturas, ouvir os sublimes corpos das músicas e tocar nos sublimes corpos dos artistas.

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