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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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As guerras dos outros têm jovens que o Brasil não tem mais

O colunista Moisés Mendes destaca atos de jovens na Rússia. No Brasil "vai se extraviando pelos cantos o que restava de vocação para a mobilização", compara

Protesto em São Petersburgo (Foto: REUTERS/Anton Vaganov)
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Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

A polícia russa já prendeu mais de 4 mil pessoas, a grande maioria jovens, do início dos ataques de Putin à Ucrânia até este domingo, só porque protestavam nas ruas contra a guerra.

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São mais de mil presos por dia. É gente que enfrenta todos os riscos envolvidos no ato de desafiar o poder arbitrário de Putin num momento de tensão e de hipnose nacionalista e belicista coletiva. 

No Chile, é calculado em mais de 3 mil o número de jovens submetidos a algum tipo de processo judicial pelos protestos iniciados em 2019. Destes, mais de 300 continuavam presos no final de 2021.

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Os jovens são reprimidos e presos por atos políticos em toda parte, desde o começo dos tempos. Na Bielorrússia, centenas de mulheres foram encarceradas nas passeatas de 2020 contra o governo fascista de Aleksandr Lukashenko.

No Brasil, jovens correm o risco de serem presos por jogarem bombas e pedras em ônibus que levam jogadores de futebol. 

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A energia dos jovens brasileiros que afrontam alguma coisa é aplicada na delinquência mais sórdida e imbecilizante, em nome de uma apenas alegada paixão por um clube. Todos são bandidos.

O impulso para a afronta a algum tipo de poder, que mobiliza russos, ucranianos (que resistem ao avanço dos soldados russos), chilenos (400 deles sem um olho perdido nos atos de 2019), bolivianos (que resistiram ao golpe contra Evo Morales), não tem correspondência no Brasil.

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Partidos, esquerdas em geral, analistas, cientistas, jornalistas e decifradores de fenômenos sociais e políticos se negam a tratar dessa questão, porque não querem ferir suscetibilidades. 

Ninguém quer abordar a delicada situação em que o Brasil não resiste a mais nada de forma substantiva e consequente porque falta ao país a vitalidade decisiva dos seus jovens. 

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As cinco manifestações públicas contra Bolsonaro no ano passado foram atos de gente madura, de veteranos incorrigíveis, sem a participação majoritária de jovens, com algumas exceções.

Pois na Bolívia os jovens foram às ruas e impediram que o golpe durasse mais de um ano. Os jovens chilenos conquistaram com bravura em 2019 o direito a uma Constituinte que sepultará a Constituição de Pinochet.

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Esses jovens chilenos atingidos nos olhos por tiros dos carabineiros levaram à eleição de Gabriel Boric, um deles, que assume no mês que vem, depois de irem de casa em casa na campanha do segundo turno.

E no Brasil jovens têm força para agir como extremistas de direita, como terroristas de torcidas de futebol, enquanto vai se extraviando pelos cantos o que restava de vocação para a mobilização política de resistência.

No dia último dia 21, um grupo de estudantes protestou em frente ao Instituto de Ciências Básicas da Saúde, em Porto Alegre, contra a visita do ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao campus da UFRGS. Eram no máximo 30 bravos estudantes.

Um elo se perdeu, a partir das manifestações de 2013 e do golpe de 2016, e tirou dos brasileiros a chance de contar com seus jovens para a afronta ao avanço do fascismo.

Por que os jovens russos correm o risco da prisão, sem saber quando poderão ser libertados, e os jovens brasileiros não conseguem juntar um grupo de mais de três dezenas para enfrentar o ministro que esteve em Porto Alegre para dizer que não há dinheiro para as universidades federais?

Negar-se a enfrentar essas perguntas é encaramujar-se diante de uma realidade incômoda. 

Os brasileiros terão de encarar o constrangimento da inércia política de seus jovens, e principalmente dos seus estudantes, como um fenômeno em busca de uma explicação.

A última líder jovem brasileira com exposição midiática e com imposição de liderança, mesmo que como farsante, foi Sara Winter. Não procurem outra ou outro porque não existem. 

A mais recente líder jovem brasileira foi uma figura da militância bolsonarista, que só saiu de catálogo porque passou dos limites, foi enquadrada pelo Supremo e abandonou Bolsonaro. É a realidade que um jovem chileno dificilmente entenderá.

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