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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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As ruas de São Paulo exibem a tragédia social da era Bolsonaro

(Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
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Todo dia a imprensa publica estatísticas que comprovam o empobrecimento dos brasileiros. Análises numéricas, quadros, gráficos e infográficos são jornalisticamente importantes, mas nunca serão tão eloquentes quanto as ruas. E as ruas de São Paulo parecem cenário daquelas distopias cinematográficas em que o Estado opressor despeja miseráveis em guetos para que apodreçam. 

O Brasil distópico resultante da economia conduzida pela dupla Bolsonaro-Guedes, com contribuição importante da parelha Temer-Meirelles, tem a capital paulista, mais rica cidade do país, como modelo.

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Há outras personalidades a contribuir para a tragédia urbana paulistana. Imagina-se que o leitor desta página, politizado além da média, saiba o nome do prefeito de São Paulo, mas seria interessante ver uma daquelas enquetes no Viaduto do Chá a perguntar aos populares que circulam pelo histórico logradouro: qual o nome do prefeito? 

João Ninguém da política, Ricardo Nunes – o governador Rodrigo Garcia não fica atrás – personifica a inércia da administração pública, como sugere auditoria do Tribunal de Contas do Município, que encontrou dinheiro de empenho obrigatório parado no cofre. As justificativas contábeis da Prefeitura são soporíferas.

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Tome-se um percurso hipotético da residência para o trabalho de um morador dos Campos Elísios, ali pela esquina Eduardo Prado – Barão de Limeira. Nosso cidadão imaginário vai a pé até a Praça da Sé. Uma boa caminhada de meia hora. Ao colocar a cara na rua, o sujeito depara com um corre-corre na subida em direção à Praça Marechal Deodoro – são egressos da ex-Cracolândia da Praça Princesa Isabel, saídos em debandada após um “espalha” da Guarda Metropolitana.

Na outrora bucólica Praça Marechal, aproveitando a proteção contra chuvas dada pelo Elevado João Goulart, pessoas acomodam colchões furados, fogões quebrados, cobertores rasgados. Elas estão se mudando para o local. Como estão em frente a uma estação do metrô, provavelmente serão enxotadas dali em breve.

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Andando pela sombria Avenida São João, o sujeito cruza a Rua Helvétia e vê bares, pequenos armazéns, chaveiros e salões de cabelereiros com as portas cerradas, enquanto gente – como diz a polícia – de comportamento suspeito vai se instalando por ali mesmo. São migrantes da ex-Cracolândia da Princesa Isabel em busca de um novo gueto. Nosso amigo não consegue comprar cigarros.

O andarilho dobra para o descaracterizado Largo do Arouche, onde um restaurante especializado em massas, de passado glorioso, ganhou uma fachada horrorosa e passou a servir uma lasanha com overdose de sal. Já na Praça da República, um pouco à frente, ele recebe três convites para programas sexuais. Recusa-os. Cruza a Ipiranga, onde a imponência do Edifício Itália marca o começo da arborizada Avenida São Luís, um curto hiato livre do aspecto degradado do centro da cidade, cujos edifícios de apartamentos gigantescos erguidos na metade do século passado parecem preservados.

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A poucos metros, quando se dobra à esquerda na Xavier de Toledo em direção do Teatro Municipal, o cenário deprecia-se novamente. São filas duplas de ônibus na via esburacada, semáforos quebrados e muitos adolescentes de olhar vidrado pedindo qualquer coisa insistentemente, em abordagens do tipo quase-assalto. A escadaria do Municipal é um misto de dormitório e banheiro, e o odor de urina já empurraria obrigatoriamente o andarilho para a direita, a cruzar o Viaduto do Chá, ao cabo do qual se situa a sede da Prefeitura, no Edifício Matarazzo, de arquitetura de inspiração fascista.

Dali à Praça da Sé é só cruzar o Largo São Francisco e sua fedentina, escapar de uma tentativa de assalto e estacionar os olhos por um minuto na Faculdade de Direito da USP, que parece soprar certo ar democrático. Reto pela Benjamin Constant, o nosso amigo que partiu dos Campos Elísios chega ao seu destino. 

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A Praça da Sé de hoje é o retrato de São Paulo na era de Jair Bolsonaro, João Doria, Bruno Covas, Rodrigo Garcia e Ricardo Nunes.  Há uma populosa comunidade que ali reside em barracas ou a descoberto, famílias inteiras com panelas e fogareiros, bêbados desacordados, usuários de maconha e crack, trabalhadores desempregos e assaltantes. A Catedral parece lhes fazer vista grossa, assim como os dois ou três policiais que devem garantir a segurança na boca da estação do metrô.

Nosso personagem, que ali trabalha há 20 anos, diz que nunca, em tempo algum, viu-se tamanha tragédia social. O visual da Sé não aparece nas estatísticas.

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