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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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As trapaças da História

Denise Assis, Jornalista pela Democracia, avalia o texto distribuído pelo presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 17, pelo WhatsApp; "Arrisco um palpite: Bolsonaro ameaça renunciar para ele, sim, voltar nos braços do povo (desta vez, armado por ele). Voltando a Marx: tal como Jango, em 1961, quando Jânio renunciou, o vice-presidente Hamilton Mourão encontra-se na China. (São as trapaças da História)"

As trapaças da História
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

"A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa."

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(MARX, K., Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, 1852.)

Ao longo dos anos a frase de Marx não só se mostrou profética, como certeira. Eis que agora, mais de um século e meio depois, nos vemos incrédulos a confirmá-la.

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Hoje amanhecemos como se jogados de volta no túnel do tempo, àquele 25 de agosto do ano de 1961, quando o então presidente Jânio Quadros, depois de redigir uma carta à Nação, deixou o cargo. Jânio havia sido eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1965, com 5,6 milhões de votos, ou seja, 48% da preferência do eleitorado.

Suas razões, não especificadas na carta, serviriam a inúmeros estudos de historiadores e cientistas políticos que, ao fim e ao cabo, ainda que alicerçados em conjecturas, concluíram pelo que a própria história evidenciou: Jânio renunciou para voltar ao cargo nos braços do povo. Em sua carta-renúncia a hipótese evidentemente não estava contida, mas do muito que se observou de sua personalidade egocêntrica, histriônica, foi a motivação que ficou. Ao ler o twitter (sim, os tempos mudaram) de Jair Bolsonaro, divulgado nesta manhã, inevitável não atinar em que fonte foi beber o destrambelhado. Vejam o que Jânio escreveu:

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"Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo."

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"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública."

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"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia."

Depois de ver desfilar pelas ruas do país cerca de dois milhões de professores, estudantes e trabalhadores, em protesto contra o corte na Educação, contra a reforma da Previdência e por Lula Livre, o cenho de Jair crispou, sua saliva solidificou e os olhos tornaram-se injetados. Muito mais irritado deve ter ficado, ao acordar e ver, hoje, os editoriais virulentos dos jornais da mídia tradicional, normalmente benevolentes com suas "excentricidades", pois preferem o diabo, a ver esquerda retornando ao poder.

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Não satisfeito em nos expor lá fora, atravessando o oceano e indo bater na porta de George W. Bush, quase pegando-o de pijama, para uma selfie, Bolsonaro diante da perda de apoio jogou, nesta manhã, para a plateia, um texto que muito remete à carta de Jânio Quadros. O material foi reproduzido pelo jornal O Estadão, e preocupou toda a cúpula do governo.

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A mensagem é atribuída a um autor anônimo, que bem pode ser um "alterônimo" do próprio. Afinal, é assim que tem agido quando manda o seu guru dos EUA falar por ele, contra os militares.Questionado sobre tal publicação, onde esse alguém elenca as "dificuldades" do presidente para governar, saiu-se desta forma:

"Venho colocando todo meu esforço para governar o Brasil. Infelizmente os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor. Que Deus nos ajude!"

No mesmo twitter o presidente "recomenda" o escriba "anônimo": "Um texto no mínimo interessante. Para quem se preocupa em se antecipar aos fatos sua leitura é obrigatória. Em Juiz de Fora (06/set/2018), tive um sentimento e avisei meus seguranças: Essa é a última vez que me exporei junto ao povo. O Sistema vai me matar. Com o texto abaixo cada um de vocês pode tirar suas próprias conclusões."

Já que ele mandou, arrisco um palpite: Bolsonaro ameaça renunciar para ele, sim, voltar nos braços do povo (desta vez, armado por ele). Voltando a Marx: tal como Jango, em 1961, quando Jânio renunciou, o vice-presidente Hamilton Mourão encontra-se na China. (São as trapaças da História).

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