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Maria Luiza Franco Busse

Jornalista há 47 anos e Semiologa. Professora Universitária aposentada. Graduada em História, Mestre e Doutora em Semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação sobre texto jornalístico e tese sobre a China. Pós-doutora em Comunicação e Cultura, também pela UFRJ,com trabalho sobre comunicação e política na China

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Assunto delicado e falsa questão

Não seria exagero afirmar que o Charlie Hebdo é um caso de conflito político- identitário cravado na questão nacional da inserção de outras culturas na sua subjetividade territorial. O traço ideológico da linha editorial refuta e parte para cima sem nuances, acirrando ódios descontrolados

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O espírito francês. Quando a burguesia assumiu o poder na Europa, desde a degola de Robespierre a França vive e cultiva os ideais de Liberdade, Igualdade, Fraternidade que inauguraram a primeira república contemporânea. A Libertése impôs como substantiva e Egualité, Fraternité foram seus adjetivos agregados inseparáveis. O jornal semanal, hebdomadaire, Charlie Hebdo, leva a liberdade ao pé da letra do que seja ser livre no seu país, na sua república, no seu espaço de coisa pública conformada com a identidade nacional francesa que defende.

Nos anos de 1970, corria nos bulevares uma máxima em tons de lamento e ódio: “La France est la poubelle du monde”_ A França é a lata do lixo do mundo”. Era a insatisfação com a fraternidade que abrigava massa de exilados, refugiados, e nativos das colônias, também chamados de ‘ os retornados’, que se reconheciam como cidadãos franceses, e eram de direito. Contra tudo isso, os conservadores e a extrema-direita nunca cessaram de tentar esvaziar a “poubelle”. É possível lembrar as investidas institucionais de priorizar o reconhecimento exclusivo da cidadania por ‘direito de sangue’ e impedir usos e costumes de outras culturas nos ambientes coletivos de responsabilidade direta do Estado. O ‘Caso do Véu’_ l’affaire du foulard’_ botou lenha no gosto francês de debater, argumentar, falar, e bufar quando algo desagrada. Em 1989, três meninas foram proibidas de frequentar a escola porque usavam o véu islâmico, e nos anos de 1990 os meios de comunicação discutiam sobre a Festa da Ovelha _Fête du Mouton_ , que muitos parisienses assistiam horrorizados o sacrifício dos animais no cumprimento do ritual religioso que terminava com a repartição da carne entre os familiares e os pobres.

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Não seria exagero afirmar que o Charlie Hebdo é um caso de conflito político- identitário cravado na questão nacional da inserção de outras culturas na sua subjetividade territorial. O traço ideológico da linha editorial refuta e parte para cima sem nuances, acirrando ódios descontrolados. Seria simplista dizer que não há paralelo de violência entre uma caneta e um facão, um pincel e uma 9 milímetros, por exemplo. Ambos matam, embora de formas diferentes. A propósito, era na caligrafia do inimigo que os chineses conferiam a força da espada desse outro que tinha a combater. O Charlie Hedbo seria só mais um jornal se não tivesse chamado para si esse lugar de confronto aberto promovendo a falsa questão da liberdade de expressão em assunto tão delicado. Muito melhor do que o Charlie Hebdo são as páginas do satírico, mordaz, inteligente, e informativo, ‘Canard Enchaîné’ _Pato acorrentado_. Passa o recado e ainda diverte, de fato.

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